Feitas nas coxas...

É dali da janela da sala assoalhada do sobrado colonial que me dá na telha de lançar u´a mirada sobre a cidade. Cinquenta e tantos anos passados desde que ali adentrei, aluno de primeira série primária, transferido do povoado do Brumado para a Velha Serrana.

E que cenário se descortina sob meus olhos: telhados e arvoredo para todas as quinze-bandas. Ainda imponente, encrustrado numa cabeça de serra, meu mirante, o sobrado,que foi de uma tal Maria Tangará, convertido em estabelecimento de ensino, continua adominar a paisagem da pacata, modorrenta e quase esquecida, ainda que soberba, Velha Serrana.

Os telhados, que agora estendem os limites cidade que vi décadas passadas, tudo cobrem e pudicamente, não me querem revelar nada. Mantêm sim aquela cor avermelhada, entre o desbotado e a cobertura da pátina escurecida dos tempos, nos prédios mais antigos e centrais.

Muitos sobrados no entanto, sem ter resistido à inexorabilidade do progresso e da maior comodidade, deram lugar a prédios de apartamentos que, conquanto modestos, sinalizam mudanças. E a mais gritante delas: as telhas francesas, quadradinhas, geralmente feitas nas olarias de Antunes - e, cada vez mais sumidas, as velhas telhas portuguesas, singelas feito só elas, e muitos diziam, e o cenho até franziam quando a expressão emitiam: feitas nas coxas.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 27/01/2015
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