Mau criado?
Mas é a respeito de terço que comentava com aquela boa amiga de Zoz: coincidência atroz, imagine que em matéria de reza muito em comum temos nós. Lá em casa, o mesmo ritual. Não sei se chegava a ser diário, mas era freqüente, com o pai puxandoa gente, a gente acompanhando.
E cada um dos petizes, assim que ia aprendendo, tinha o direito, pela ordem de idade, de puxar um mistério, cuja contemplação, cabia sempre ao papai: mistérios gozosos,dolorosos e gloriosos. E era uma festa, rezar padre nosso, dez avemarias e glória ao pai,assim em frente a todo mundo compenetrado, compungido e concentrado.
Os que não entravam na reza, ainda desobrigados, podiam ficar brincando, zanzando, desde que calados. E um pouco antes de deixar essa turma, e passar integrar a dos rez(a)ponsaveis, tinha eu lá meus seis pra sete anos, ah que aventura: ficava feito porquinho, acompanhado pelo Beu e pelo ainda pouco mais que bebê Caxi,andando de quatro pela sala, e não é que nessas brincadeiras ficava entrando e saindo do preto criado mudo, que era um dos poucos móveis a que tínhamos acesso.
E não é que numa dessas manobras - sob aquela luz mortiça, a velinha do Santíssimo, no azeite e água, capturava mais atenção das vistas, montei sobre o dito criado e, alguma coisa, pequeninha, um fiapinho, que pelo calção me havia escapado, pafo! assim que fechei a porta, foi logo amassado, e que é de que me safo? Não era mais do que um tantinho de pele, superficial, mas ai, que dor infernal, e feito o criado, mudo tive que ficar pra reza não impaiá.
Se há urro interior, foi esse que exprimi, em estupor, e nem o ouviu o Nossinhor. E continuou aquela dor, até que com mercúrio cromo, e como, tornou-se ainda superior. Nos próximos encontros com os familiares, quem sabe exibo a dita sobrepeliz. Acho que ninguém, contudo, vai querê-la comprovada via exame de cicatriz, ou coisa mais séria. Coisa demenino mal-criado, que ficou mudo, e não se mudou o criado.