NA ERA DOS "CARAS-DE PAU"

"em homenagem"

Um ensaio, de certa forma, é um experimento literário da observação sempre aliado à intuição hipotética, ao pensamento e à exploração dos sentidos.

Preambulo dizendo que viver, simplesmente viver, talvez seja a forma mais contundente de ensaiar o meio e a vida...bem como toda sua complexa nosologia.

Interessante que o "ensaio da vida", o protagonizado por todos nós, de forma bem paradoxal na semântica do vocábulo quando comparado à semântica da existência, não nos permite "ensaio" algum: tudo que vivemos sempre é novo, mutante, nunca retorna ao ponto de partida e jamais nos permite "treino ensaísta" para uma melhor performance posterior.

Nem mesmo aos "caras-de -pau" lhes é permitido um ensaio à sua melhor performance, eles que mesmo sem ensaios prévios, sempre estão em evolução cinética assustadora.

Acredito que evoluímos para o ensaio do bem...mas para o do mal também, o que faz parte da mestra proposta da vida: a de vivermos intensamente todos os contrastes.

Todavia e por todas as vias vou aqui tentar um "ensaio" dos "caras-de pau: assunto riquíssimo para a dura variada e complexa psicologia deles.

Quem nunca se deparou com um?

Como conceituá-los?

Como identificá-los?

Como neutralizá-los?

Ponto de exclamação: Como são crescentes e perenes pelo nosso meio os "caras-de pau"!

Confesso que ainda não tenho uma tese muito aquilatada para escrever tudo sobre eles, posto que são sempre um desafio novo à possibilidade das observações, frente à variedade dos acontecimentos e à perplexidade sempre desavisada dos sentidos enganados por eles.

Mas é fato: Os "caras-de -pau" estão por todos as partes!

Na sociedade podem ser encontrados dentre amigos, familiares, no trabalho, nas comunidades diversas, nas ruas da vida em sociedade, nos ônibus, no metrô, nas igrejas, e principalmente na política.

Na política os "caras -de- pau" são imprevisíveis e danosos em proporções inimagináveis porque a eles se cedem os palanques e se curvam as plateias.

Tendo a ensaiar que ser algo "cara-de pau" é um pré- requisito ao candidato politiqueiro dentre o mundo tão apolitizado de hoje em dia.

Interessante frisar que quando a dissimulada "cara-de- pau" acomete a sociedade na modalidade "políticos politiqueiros" absolutamente nada de assolador os constrange na encenação do seu exercício impecávelmente artístico mas insensível, a despeito de provocarem consternações coletivas pontuais que para nada servem.

Nada incomoda um "bom cara-de pau".

Um "cara - de- pau competente" na sua arte de desconversar absurdos desafia a congruência da mais coerente razão e da mais fina lógica da inteligência alheia.

Quando os "caras-de pau" se auto-vitimizam então, aí é de doer...mas nunca dói neles porque são blindados à quaisquer sentimentos humanísticos.

Convenhamos: Há "caras-de pau" que têm mesmo um forte "veio" artístico...porque muitas vezes sensibilizam os que estão por perto, armam cenários fictícios, invertem valores, despertam admiração e/ou lágrimas, fazendo com que suas vítimas se tornem presas fáceis da descaracterização do bom senso.

Caras-de- pau também choram...e a plateia chora junto com eles.

E no final da cena, os "caras-de -pau" se endeusam e se mitificam no tempo...com redomas invísiveis que só parecem inquebrantáveis.

Há "caras- de- pau" que se ensaiam perfeitos cenários "alquimistas-ilusionistas", anulam o óbvio e transformam qualquer verdade notória em mentira virtual, tanto quanto transformam o potencial sentimento de perplexidade do meio em crescente abobamento coletivo.

Caras-de pau dissimulam até as dores dos ossos...alheios.

Transforma tragédias em sucessos de auto-promoção.

Os "caras- de- pau" quase sempre nunca sabem de nada, ignoram inclusive o tudo contraditório em si mesmos, se enxergam atores imunes ao insucesso, se cegam à sinalização perene do desalinhamento visível e frequente entre seus pódiuns e a deterioração progressiva do meio que os insere e os aplaude, a fazer com que eles acreditem indubitavelmente que o MUNDO lhes pertence...e os honra.

Quase sempre eloquentes, egoístas, ambiciosos ao extremo, pavões e narcisistas, os "caras- de - pau" ceifam o senso do pensamento comum, confundem o discernimento alheio e, dotados de má índole oportunista e dissimulada, maquiam toda a triste realidade descortinada do inferno que promovem encoberto pelo céu armado aos seus escusos cenários de atuação.

Eu ensaio que "Cara -de- pau" deve ser entidade nosológica, doença a ser identificada na nosologia sócio-política cosmopolita, algo ainda não catalogado no planeta.

Todavia, para não tornar meu ensaio algo extremamente pesado, aqui vai um pouco de humor, porque, a despeito de tudo, os "caras- de-pau" também nos divertem.

É só porque chega a ser engraçada a alquimia do absolutamente nada...transformado em irrefutável tudo.

Se "cara-de pau" for mesmo doença, deve ser pandêmica e de etiologia viral, porque apesar de crescer no meio como fermento, os "caras-de pau" sempre são autolimitados.

Um dia a casa cai e o "cara-de pau" cai junto com ela, embora sempre permaneça vaidosamente em pé.Podem observar...é só olhar para baixo...

Embora, eu já vá avisando: saibam que sempre aparece uma nova modalidade num "novo cara- de- pau" para nos fazer assustar, pensar, ensaiar, chorar e também sorrir.

Afinal, quem viveria tão emocionalmente completo... sem um bom circo ao derredor?