ENSAIO SOBRE O ENVELHECER

A cena que vejo é a daquele casal já na casa dos 60, ou seria 70 anos? Andando de mãos dadas em direção à estação tubo do ônibus expresso.

Se comportam como dois adolescentes, vão conversando animadamente, como se fizesse tempo que não se viam. Há tanto para contar...

Na estação, usam seus cartões de isentos de pagar a passagem e lá ficam. Continuam de mãos dadas, ele a beija carinhosamente na testa. Seguramente, são um casal de namorados.

Ela é bem clara, cabelos curtos quase louros (devem ser pintados), olhos azuis muito brejeiros e atentos a tudo. Veste-se discretamente, mas denota bom gosto. Ele é bem moreno, olhos castanhos e cabelos brancos. Não parece um senhor dessa idade, tem um jeito de menino. Ambos são de estatura mediana e ainda conservam uma certa elegância no porte.

Estão indo para um baile, onde a maioria dos frequentadores são pessoas com mais de 50 anos. É um lugar que cobra uma entrada e lhes oferece segurança, uma mesa, guarda-volumes, garçons e boa música para dançar.

Essa é uma rotina que fazem questão de manter, junto com o bom humor, o companheirismo e, principalmente, o amor.

Que bom viverem neste século! Seus avós, ou mesmo seus pais não tiveram esse privilégio.

Lembro de minha avó paterna, sempre vestida de preto, em luto permanente. Jamais lhe passou pela cabeça que pudesse haver alguma diversão para um casal depois dos 50.
E a outra, a materna, só rezava. Ia à missa todos os dias e nunca abandonava aquele ar austero.

Não acho que estivessem erradas. Fizeram suas escolhas, mas a época não lhes permitia irem além.

Me sinto feliz em poder envelhecer tendo a tecnologia a meu favor e,
principalmente, acesso ao conhecimento, à informação, podendo manifestar minha vontade, fazer escolhas, manter a alegria e ter muita, muita esperança, para poder desfrutar de meus momentos, de forma prazerosa, enquanto envelheço...