O UNIVERSO EMOCIONAL NO POEMA

Esse FLUIR DE EMOÇÕES, de Lucy Mourão, é um livro amoroso e simples: um fiel retrato da visão feminina de quem já viveu muito e que pretende estar conosco por ainda muito tempo. Mulher, professora, mãe, ativista cultural e política, acompanhando as mudanças, os rigores e os egoísmos de todos os tempos. Afinal, é lida e vivida.

Em nenhum momento a autora rebusca o palavreado, é um texto simples, direto, com rala utilização de figuras de linguagem: uma prosa com algumas pinceladas poéticas, mas plena de sabedoria, ungida pelo amor ao sentir, à busca de seu idealístico lirismo, de louvação à figura do mestre bíblico, à figura dos mestres do saber, em todo o tempo e matizes.

Lucy Mourão é uma pessoa doce e que encanta na convivência com qualquer outra. Sempre tem um elogio revestido de polidez, mas sabe como poucos, que as loas, os elogios, abrem portas no trato com os estamentos sociais. E ela é mulher do mundo e permanentemente comprometida com o seu tempo de viver.

Esta obra está revestida de sabedoria popular. É uma mensagem maternal, confessional. A palavra não é pedra no caminho do leitor. Ela é domínio, como é de sua natureza, mas como está apresentada, torna-se poder atingível por qualquer leitor, desimportando o seu grau de escolaridade: “Venço a angústia/ domino a ansiedade/ até que eu possa chegar/ no porto seguro.”, in PORTO SEGURO, pág. .........

É lição de vida a ser fruída pelo sentir das emoções que defluem da leitura dos textos: “Enquanto te espero/ busco refúgio/ no silêncio...”, in FLUIR DE EMOÇÕES, pág. ......... E dedilha a sua harpa com imensa sabedoria: “Na trajetória/ de rir e chorar/ do nascimento/ até a morte/ compreendi/ que o equilíbrio/ é o melhor caminho.”, in EQUILÍBRIO, pág. .......... E propõe que o ‘fluir de emoções’ obedeça a certa dose de ponderação, nas ações: “Queria pensar/ antes de agir/ meditando no que fazer/ para não me arrepender.”, in NÃO SEI, pág......... Mas a autora sabe que “... no meu futuro domina/ a incerteza do amanhã.”, in MEU FUTURO, pág. .........

Há uma lição pensada, reflexiva sobre as ilusões: “... fazem parte do meu ser/ e também/ falam de mim.”, in O VENTO E AS ILUSÕES, pág. .........

Para Lucy, memorialista, “... a dor do amor não muda/ continua como era/ há séculos.”, in MUDANÇA, pág. ........ e teoriza sobre o humano ser em linguagem prosaica que até dispensa a versificação, por sua linearidade: “A característica predominante e definidora de cada espécie, de cada raça, é o seu estado de consciência e não a aparência física.”, in EVOLUÇÃO, pág. ....... O ciclo das estações e dos dias é constatável em VIDA, pág. ......., e envolve a poeta: “Vem o rigor do inverno/ desponta a primavera/ e cheia de mistérios/ ela me envolve/ de esperança.”, tudo no cadinho do experimentar-se “para que a busca/ continue.”, poema EM VÃO, pág. ........

O corpo lírico-amoroso, na parte central desta obra, é fortíssimo, reafirmado em todo o caminhar poético; “Eu continuo em busca de meu caminho, onde possa expressar o meu amor sem fim.”, poema AMOR SEM FIM, p. ........ Mergulhada no inverno das saudades, consolada e consoladora, a voz poética nos fala: “Nada melhor que o tempo para apagar da memória o que foi feito de mim.”, em MEMÓRIA, pág. .........

A parte final é digna de destaque. Nesta, ficcional e astuta, a autora é personagem fática singular: é mulher cabocla, amazônica, na exuberância da postergação da espécie: “... e esperar/ a vinda/ de mais um filho/ que já vive em meu ventre.”, in SONHO AMAZÔNICO, pág. ......., e segue a louvação da saga materna: “... com meu filho carregado na ilharga, no ventre carrego outro, que não tarda a chegar.”, in LIÇÃO DE MÃE, pág. ......., e, cabal e vigorosa pontua: “É um só o amor de mãe”, in AMOR PARA SEMPRE, pág. .......

O sentimento nacionalista, a axiologia dos valores ecológicos, o apontamento das injustiças sociais marcam o final da obra, agrandando-se o espiritual. O eu poético não é mais singular, é o coletivismo que vem à pauta. Solidária, coletivizante, Lucy relata a sua concepção sobre a festa magna da cristandade, o Natal e seus entornos, no plano do idealístico.

As riquezas da Amazônia, como um todo, e o seu Grão-Pará, em particular, são contados amorosa e localizadamente em VIVER FELIZ, pág. ........ “Que mais quero eu/ que morar em Belém/ e ser feliz?”. Deposita nas mãos da Virgem de Nazaré o futuro, e a santidade do Círio Popular responde com a bênção do ar puro para “o pulmão do mundo.”, in AMAZÔNIA ABENÇOADA, pág. ......... Humanamente travestida, num fecho uterino, a grande mulher vegetal da América do Sul verte o canto maternal e, agasalhando todos os seus: “ a Amazônia cruza os braços, fecha os olhos e adormece.”, na página final desta obra, ensaio fluídico dos derramamentos da emoção.

Para o fecho de ouro, como diziam os sonetistas em relação ao terceto final, é bom rememorar com o espiritual lírico do personagem-autor, em MEU AMANHÃ, pág. ......: “Quero crer que és o meu hoje e o amanhã”.

Venha fazer a viagem de e para o universo de Lucy Mourão, e redescubra a Esperança assentada no Amor como valor fundamental para a convivência entre os homens.

Bom proveito, caríssimo leitor!

Salvador, Bahia, junho de 2007.

– O autor deste ensaio é poeta, crítico literário e ativista cultural. Atua na Coordenação Executiva da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS NACIONAL, sediada em Porto Alegre, RS, articulada através de setenta e cinco sedes municipais em vinte Estados-Membros da Federação.

– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2006/10.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/509111