O BANCO NAQUELA PRAÇA (V)

CAPÍTULO V – PALHAÇO, PIPOCA E PICOLE!

E é domingo alegre na praça, e quem pensou que haveria tristezas e lamentos se enganou. Ás cinco horas e meia, ainda com a vermelhidão do arrebol, o professor Amaral iniciou as aulas de ginástica localizada e aeróbica, de graça para meio centro de jovens da terceira idade, e o faz voluntariamente e sem nenhum apoio do município. O prefeito havia lhe dito: “A melhor ginástica é cada um capinar e varrer a rua em que mora”.

E ao ritmo do “um x dois x três x quatro x três dois x um” aquela gente vestida de roupas de malhas coloridas despertavam com alegria os demais habitantes da praça. Mariquita que neste dia havia pernoitado na praça, dormindo naquele banco, se misturou aos ginastas, vestida com sua roupa de rotina; uma velha saia longa preta com remendos de panos diferentes, um boné do Flamengo e uma blusa colorida ornamentada de broches e até a estrelinha do PT, o que lhe valia ser chamada de louca!

Ás nove horas em ponto, o espetáculo do Palhaço Brasiliano começa a partir do coreto, mas com um detalhe; quatro outros palhaçinhos o acompanhavam; eram crianças que queriam também participar da alegria, formando assim uma troupe voluntária. E dezenas de crianças de todos os bairros já estavam ali reunidas em uma algazarra infantil.

Para colocar ordem na casa, digo, na praça, Brasiliano ordenou com aquela voz forte e rouca de palhaço:

- “Atenção Criançada, favor correr devagar, gritar baixo e falar calado!”.

Houve silêncio parcial, e alguns perguntaram para Brasiliano:

- “Como é que alguém corre devagar?”.

- “Diminuindo a velocidade pela metade!”, respondeu o palhaço ainda deixando dúvidas no ar.

- “E como é grita baixo?”, perguntaram outros.

- “Voces conhecem o Grito Silencioso? Quem não conhece conhecera hoje aqui na praça quando aqui chegarem os militantes da campanha contra o aborto”, lembrou Brasiliano do gesto cívico a favor da vida marcado para a tarde daquele domingo.

- “E falar calado, como pode?” perguntou ainda um curioso.

- “Falar calado é um ato de cidadania que estamos exercitando, calamos ante a ameaça do prefeito e acabar com a nossa praça, mas demonstramos nossa opinião.

Não estamos falando nada diretamente a ele, mas ele houve nossas reações de protesto”, arrematou o palhaço Brasiliano, que continuou.

- “E agora como agradecimento aos que vêem assistir os espetáculos nesta praça, os quatro palhaço menores; Norte; Sul; Leste e Oeste vão distribuir um papelzinho numerado, e vocês vão concorrer a sua própria televisão”, disse:

- “Vocês querem ganhar a sua própria televisão?”, animava o momento enquanto os palhaçinhos entregavam os papelotes.

Houve o sorteio, que ganhou foi dona Carola que lá do meio do público gritou por todos os santos e levantou o bilhete premiado.

Convidada ao palco recebeu das mãos do Palhaço Brasiliano uma flanela e um aperto de mão.

Dona Carola, com ar surpresa perguntou ao palhaço para que a flanela?

- “Para limpar sua própria televisão!” Exclamou o artista.

- “Sim, mas e a televisão que ganhei?" Perguntou à sorteada.

- “Respeitável púbico, vocês ouviram bem quando eu disse que iria a sua própria televisão. Foi ou não foi?” Pergunta Brasiliano.

- “Fooooi!!!”, gritou o público.

O palhaço olha para a Dona Carola e pergunta:

- “A senhora tem ou não na sua casa a sua própria televisão?”, e obtendo resposta afirmativa, Brasiliano e seus palhaçinhos riram e riram, e ele explicou então:

- “A senhora ganhou a sua própria televisão, a que já é sua. Agora leva a flanela e com esta limpe a sua própria televisão que vai ficar novinha, novinha”.

Até Dona Carola sorriu, enquanto o público ria e ria e ria!

Despedindo-se com um “se Deus quiser e o prefeito não desafiar os céus”, de imediato mandou abrir uma enorme caixa de onde balões brancos enchidos com gás subiram aos céus levando uma pequena faixa onde se lia: “A praça é nossa!”

Um senhor desconhecido ficou conhecido apareceu ordenou ao garoto do picolé e ao pipoqueiro distribuírem todos os picolés e sorvetes e saquinhos de pipoca de graça para as crianças, formou-se uma enorme fila.

Para alegria de todos a praça nunca esteve tão alegre e movimentada, até o jornalista apareceu sem máquina fotográfica, agenda ou gravador. Foi até a praça só para contar causos!

Os balões e a faixa foram evados pelo vento, e por mera coincidência cairam no sítio do prefeito, nos arredores da cidade, para susto dele que em primeiro momento pensou estar sendo atacado por mísseis. Ao ver que eram balões com uma faixa, riu e disse aos demais:

- “Ora vejam, o SBT agora faz propaganda de seu programa de humor com faixas e balões”, sem aperceber-se de que aquela mensagem tão objetiva caída do céu vinha de bem próximo!

Ás dezessete horas em ponto a “Furiosa” entrou na praça tocando dobrados e marchinhas em tom nunca visto, parecendo que todos os músicos queriam transmitir otimismo quanto à manutenção da Praça Maestro Gumercindo, o fundador da bandinha. Todos de uniformes azuis engravatados.

A banda toucou até a hora em que Antenor, ex-operador de cinema enquanto grandes salas de exibição existiam, agora voluntariamente aos domingos, à noite, exibia cine-vídeo de graça para aqueles que ali freqüentavam.

O domingo se encerrou com a chegada dos primeiros feirantes que na segunda-feira iriam cercar a praça com suas barracas coloridas. O pipoqueiro feliz atirou os piruás em um canto da praça, para os pardais que já recolhidos ao telhado do colégio no amanhecer ali se alimentariam.

O girassol já pendera como a dormir, os grilos tomavam conta do jardim, e uma barata transitava livremente sem risco de ser esmagada, naquele banco um senhor de avançada idade cochilava, e não percebera que o público já havia se recolhido.

Mariquita pegou, em seu saco de traias, um velho cobertor e o colocou sobre os ombros e colo daquele senhor, que para ela era “Deus Vivo” que ali estava para tomar conta da praça, e ela passou a noite acordada olhado para aquele semblante que, embora envelhecido, transmitia paz!

E o barulho agora era das camionetes que traziam as barracas a serem armadas para a feira de segunda-feira; de ferro, de madeira e de plástico.

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Capitulo (II)

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Capítulo (III)

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Capítulo (IV)

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Próximo capítulo:

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