Um livro para todas as épocas

Mesmo quem não leu Contos de Natal, o livro imortal escrito pelo inglês Charles Dickens, sabe um pouco da história de Scrooge, o velho capitalista avarento que é visitado primeiro pelo fantasma do seu antigo sócio, e depois pelos espíritos do Natal do passado, presente e futuro. Vendo a si mesmo jovem e acompanhando os passos que o levaram a ser o homem que se tornou, Scrooge vai redescobrindo antigos sentimentos que pareciam estar mortos mas que renascem ao se dar conta de como celebrou o Natal em sua mocidade, com alegria, esperança e emoções verdadeiras até se deixar dominar pelo amor ao dinheiro, que o fez perder o amor de sua vida. Observar o passado traz de volta velhas alegrias, mas também traz dores, porque ele vê que suas escolhas passadas o levaram a ter uma vida vazia e totalmente sem vínculos verdadeiros. Depois, Scrooge vê o Natal presente e observa como o seu sobrinho e seu empregado comemoram o Natal, espantando-se por ver como pessoas simples, com poucos recursos ainda conseguem se alegrar com a festa que simboliza o nascimento de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, ele vê o pequeno filho aleijado de seu empregado e se preocupa com o que pode acontecer ao menino num futuro próximo. Nesta passagem, ele se dá conta da crueldade do capitalismo que concentra uma grande renda nas mãos de uns e que condena outros à miséria, impedindo-os de viver dignamente.

Por último, Scrooge é visitado pelo espírito do Natal do futuro e fica horrorizado ao constatar o que poderá lhe acontecer se não mudar suas atitudes: vê-se a si próprio morto, sem ninguém para lamentar sua morte e pessoas saqueando seus bens. Também vê a morte do filho do seu empregado e se entristece profundamente. Ao acordar, Scrooge está totalmente mudado e, vendo que ainda tem chance de celebrar o Natal, ele age de forma totalmente diferente da qual vinha agindo até então, passando a valorizar a bondade e o amor.

Contos de Natal não é uma história fatalista, porque enfatiza bem que nossa vida é resultado de nossas ações e não de um destino prescrito. Ao abordar o capitalismo, a ganância e a miséria, o livro de Dickens fala de como um sistema cruel pode criar pessoas riquíssimas e condenar outras à pobreza, a qual é mostrada em toda a sua trágica verdade nesta bela história. Ao mesmo tempo, esta é uma história de esperança, que faz ver que, se nos conscientizarmos e mudarmos de atitude, podemos alterar o rumo dos acontecimentos. Ao se sensibilizar, Scrooge permite que o amor e o verdadeiro significado do Natal entrem em seu coração e se torna um ser humano real, porque não vive mais em função de trabalhar e acumular capital.

Na narrativa de Dickens, podemos ver que se valoriza o Natal como uma festa de renascimento das esperanças, de união e alegria, não havendo referências a Papai Noel, quem ganhou o melhor presente ou tem a melhor ceia. O que realmente se enfatiza é que todos os que comemoram o Natal devem estar impregnados do real espírito natalino. A leitura desse livro poderia ensinar muito a quem pensa que Natal é apenas comprar, ganhar presentes, usar as melhores roupas, comer e beber em demasia e falar de um senhor de barbas brancas e roupa vermelha.