O BRASILEIRO NÃO IDOLATRA SEUS HERÓIS! (1ª Parte)

Se fizermos um apanhado a grosso modo, do tratamento dado aos nossos heróis pela população brasileira e compararmos com o comportamento dos povos de outros países, mesmo aqui na América do Sul, veremos a disparidade gritante.

Enquanto nossos vizinhos e até os habitantes dos mais longínquos rincões veneram seus ídolos, seus heróis, aqui, muitos dos nossos grandes homens e mulheres, dormitam nos livros de história e, vez por outra, lembrados pela imprensa, são comentados por ocasião de aniversários da sua morte, centenário, etc, na roda de intelectuais e, principalmente, nas escolas. Fora disso são, sistematicamente esquecidos, a não ser por um ou outro monumento (estátuas, bustos e memoriais), erigidos em sua homenagem.

Há quem ouse dizer até que o Brasil é pobre de heróis; e quem assim se pronuncia, não tem a mínima noção da acepção do termo.

Como o Brasil é um país ‘entre aspas’ pacífico, participamos de poucos conflitos, a começar pelas guerras de independência, aqui na Bahia, no Rio de Janeiro, no Acre, no Maranhão, além de uma guerra covarde contra o Paraguay, no Império de Pedro II (financiada pelos ingleses) e depois, da Segunda Grande Guerra, a guerra mundial de 1945. Sem falar na guerra de guerrilha que tivemos por aqui durante a ditadura militar de 1964 e verdadeiros genocídios ocorridos na ‘Farroupilha’ (RS), durante o Império de Pedro II, ou em ‘Canudos’ e ‘Pau-de-Colher’ (BA), já na República, ou mesmo na Revolução Constitucionalista de 1932, quando São Paulo teve seu desejo separatista estrangulado pela Força Nacional.

Entretanto, o registro histórico de artistas como o poeta seiscentista Gregório de Matos e Guerra (que em Salvador – então capital da Colônia, inaugurou a poesia no Brasil e por suas sátiras contra o reinado e o clero, foi degredado para a África de onde voltou para, doente, morrer em Recife), Antonio Francisco Lisboa (Aleijadinho - MG), a luta heróica de Joaquim José da Silva Xavier - O Tiradentes (MG), o Zumbi dos Palmares (AL), somando-se aos geniais Antonio Frederico de Castro Alves (poeta) e Ruy Barbosa (jurista e político), ambos baianos, O grande sanitarista paulista - Oswaldo Cruz, que quase foi imolado no Rio de Janeiro quando lançou a primeira vacina contra a ‘febre amarela’ que transformara-se em epidemia – salvando milhares de pessoas, Alberto Santos Dumont ‘o pai da aviação’ para os brasileiros, mas que teve seu invento registrado pelos irmãos Wright que voaram ‘catapultando’ um protótipo.

Na Bahia, tanto em Salvador, com a Soror Joana Angélica imolada pelas tropas portugueses, Maria Quitéria e Ana Nery, heroínas que engrandecem o panteão que serve para estimular atos de heroísmo e de amor à Pátria, o corneteiro Lopes e tantas outras figuras gloriosas... E a relação de pessoas é muito grande.

Chegamos aos tempos atuais e o Brasil começou a despontar como grande expoente do futebol; em 1950, com uma grande seleção, perdemos o título para o Uruguay, incipiente país fronteiriço, cuja população, território e PIB são insignificantes, mas perdemos por 2 X 1 no Maracanã, recém inaugurado com cerca de 200 mil pessoas presentes.

Em 1958, um garoto mineiro de 17 anos – Edson Arantes do Nascimento – que depois passaria aos pósteros como Pelé, desencantou e fez brilhar os 70 milhões de brasileiros, numa época que não tínhamos TV e as transmissões eram feitas via Rádio. Vencemos a Copa do Mundo da Suécia e o mundo inteiro passou a interessar-se pelo Brasil, até então, uma republiqueta sulamericana, cuja capital eles pensavam ser ‘Bueños Aires’...

Tivemos vitórias importantes no Tênis com Maria Esther Bueno, que venceu o famoso torneio de Wembley, Ademar Ferreira da Silva – campeão mundial do salto triplo feito repetido anos mais tarde por João Carlos de Oliveira, o "João do Pulo" (ambos paulistas), mais recentemente, os campeões mundiais de boxe Éder Jofre (SP), e o baiano ‘Popó’, mais recentemente ainda, o manauara (AM) José Aldo, O Gustavo Küerten (Guga – SC) no Tênis, o Xuxa e Cesar Cielo, na natação, as equipes masculina e feminina de Vôley campeãs mundiais por diversas vezes, a equipe de Basquete, capitaneada pelo grande Oscar Shimidt, os irmãos Lars e Torbes Grahel no iatismo a vela, o Pauderney Avelino – na maratona, entre outros.

No futebol, o mineiro de ‘Três Corações’ – MG – Edson Arantes do Nascimento conhecido mundialmente por Pelé, eleito ‘O Atleta do Século’, em memorável homenagem ocorrida na França, Que jogando na África fez parar uma guerra quando ambos ambos os lados do conflito sangrento decretaram trégua por várias horas – fato inédito e não repetido - secundado por vários gênios do futebol, a começar de Garrincha, Zizinho, Jair da Rosa Pinto, Nilton Santos, Domingos da Guia, Leônidas da Silva ‘O Diamante Negro’ – inventor da ‘bicicleta’ – entre outros mais atuais, a exemplo de Careca, Reinaldo, Ronaldo ‘Fenômeno’, Ronaldinho Gaúcho, Sócrates, Zico, Roberto Carlos, Romário, Bebeto, Rivelino, (cada qual a seu tempo), centenas de atletas que fizeram a vida do brasileiro ser melhor e mais emocionante.

Para não ser monótono, lembrar que o brasileiro não cultua como deveria seus heróis, faz parte da nossa índole malemolente.

Alguns políticos são lembrados como estadistas, a exemplo de Getúlio Vargas, Juscelino Kubstchek, Fernando Henmrique Cardoso. Outros como fracos, a exemplo de Jânio Quadros e João Goulart, outros como vilões, cujos nomes não vamos declinar em respeito às opiniões conflitantes.

Na verdade, vemos o ‘Rei Pelé’ em uma UTI de hospital e, afora a imprensa, não vemos muitas preocupações por parte da nossa sociedade, preocupada com escândalos de corrupção veiculadas diariamente e mergulhada em sua própria futilidade do dia-a-dia.

Pelé perdeu um dos rins ainda quando atuava no ‘Cosmos’ nos EUA e agora está em dificuldades após uma cirurgia para retirada de cálculos no único rim que lhe resta. Como o ‘rei’ já passa dos 74 anos, essas intervenções são sempre motivo de preocupação e não custa uma manifestação de carinho dos brasileiros aos quais ele tanto ajudou e ajuda com seu desempenho no futebol, campeão em Três Copas do Mundo, 1958 – 1962 e 1970 e as várias homenagens que lhe são prestadas pela sua genialidade em todo o Planeta. (Continuamos na segunda parte deste ensaio).

Ricardo De Benedictis
Enviado por Ricardo De Benedictis em 30/11/2014
Reeditado em 14/03/2021
Código do texto: T5053813
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