Uma Teoria Científica e Religiosa: O RACISMO
Casos de racismo são noticiados constantemente na mídia e como militante dos Direitos Humanos e da promoção da Diversidade Cultural, acompanho atentamente os fenômenos sociais “higienistas” e segregacionistas atuais. Há uma miscelânea de ideais conservadores e fascistas de todo tipo num cenário de alienação da população produzido e reproduzido pela indústria cultural. O racismo (Lei 7.716/89) é caracterizado por conduta discriminatória dirigida a um determinado grupo ou coletividade, um crime considerado grave e inafiançável. A injúria racial (artigo 140, § 3º do Código Penal Brasileiro) consiste em ofender a dignidade das pessoas com a utilização de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem. A preocupação com a simpatia aos ideais neonazistas, à evangelização sectária dos religiosos e a ditadura cientificista são fatores determinantes para a complexidade do mundo moderno, ou pós-moderno, como queiram. A Eugenia, o Darwinismo Social e a noção distorcida de Hierarquia Racial aliado ao discurso missionário fomentaram e fomentam o preconceito na sociedade atual. Divulgam a superioridade das raças através da seleção natural ou professam a “salvação do povo eleito”. No Brasil, o legado do período colonialista foi a discriminação racial e social. Os trabalhadores escravizados, africanos, indígenas, caboclos e mamelucos, foram despejados das senzalas sem oportunidades de escolarização ou condições de vida dignas, empilharam-se nos cortiços nas periferias das cidades. Como consequência das lutas dos movimentos sociais de identidade e cultura afro-brasileira é que se estabeleceu em memória à resistência do Quilombo dos Palmares o dia da Consciência Negra, o 20 de novembro de 1695 em homenagem à morte de Zumbi. A presença africana nas Américas foi impulsionada pelo mercantilismo, regada à sangue e suor, tortura e assassinatos, deslocando forçadamente milhões de pessoas de sua terra natal para serem gastos nos latifúndios de cana de açúcar, café, nas charqueadas, nas construções e estradas públicas e nas minas de pedras preciosas, ouro e prata. Atualmente, pelo reconhecimento histórico de reparação aos povos africanos e indígenas temos direitos civis adquiridos como a inserção das Cotas Raciais nas Universidades e Concursos Públicos, Leis Educacionais (10.639/03 e 11.645/08) que fomentam nos currículos escolares o trato adequado a conteúdos ligados à Cultura e História Africana e Indígena. Temos uma ferida que não cicatrizou, uma questão em aberto que a sociedade brasileira prefere negligenciar: o genocídio de mais de 500 anos às populações indígenas que agora estão sendo atacadas pelo Agronegócio e, a opressão aos descendentes de africanos onde percebemos os assassinatos dos jovens negros e negras das periferias e o não reconhecimento das terras quilombolas em todas as regiões do país. O preconceito racial não está confinado aos estádios de futebol, mas presente na vida cotidiana, nas ruas, bancos, mercados, praças... e a igualdade racial ainda é um Mito (ou Utopia?)!A miscigenação que nos orgulhamos tanto, é resultado de um projeto do período imperial de “branqueamento” da população brasileira impulsionando a imigração europeia para as Colônias do Sul. Devemos compreender a influência dos povos africanos para além das Senzalas e do contexto escravagista que valoriza apenas a posição subalterna imposta pelo chicote. Para nós brasileiros, a África está em nossa Cultura, nas vivências, nos cânticos, na ginga da Capoeira, no batuque do Tambor, no tempero de nosso alimento, em nosso sangue e espírito guerreiro.
Publicado no Jornal Litoral Norte RS