Só Ser

Não dei ouvidos quando me falaram que a poesia precisa ser justa. Justa de quê?

De certezas, de medos, de sonhos e mentiras. Nisso acredito.

Até ela, a mentira pode ser justa e cumprir o seu papel, na arte de se desvendar e ficar nua

Não dei ouvidos quando me gritaram que aquilo não era verdade

Que os espelhos são mudos

Que os silêncios não são clarividentes.

Duvido

Não dei ouvidos a certeza que me faziam crer que eu não existia

Duvidaram, como duvidaram que eu poderia beijar a lua

Tomar banho de sol em pequenos goles e te pegar pelas mãos desdenhando da loucura

Não dei ouvidos ao toque da porta, a lucidez de um banho de chuveiro com sabonete no fim

Não acreditei na justiça de um mundo sem mim

Acompanhei a mentira passo a passo sem duvidar jamais dessa verdade existente

Que o amor pode ser perfeito mesmo imperfeito sejamos nós

Como eu acreditei.

A poesia não precisa ser justa e nem explicável

Ela só precisa Ser

Um manto branco

Invisível

Verônica Aroucha
Enviado por Verônica Aroucha em 13/09/2005
Código do texto: T50269
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