O melhor da vida (24/12/2013)
O melhor da vida sempre esteve dentro das pessoas. Mas o quão seria importante um tesouro sempre guardado? O conceito de amor ao semelhante nunca foi tão conhecido, e ao mesmo tempo tão distorcido, porque a denominada sociedade de consumo transformou, ao seu usufruto, a expressão naturalmente social dos sentimentos aprimorados pelos valores mais lógicos (valores que esta mesma sociedade execra), em apropriação de vantagem moral (aquela que coloca as pessoas umas contra as outras através de uma falsa superioridade), transformando a capacidade de agir, em mera capacidade de desfrutar excentricamente do sentimento ou da virtude, seja pelo medo da rejeição, seja pela desumanização sistemática à qual o indivíduo contemporâneo se submete.
De uma forma mais simples, nunca se sofreu tanto de solidão, por ignorar suas origens culturais modernas. Todavia, o melhor da vida está em fazer companhia, e ser acompanhado por quem entende o valor disto. Repare que os animais, especialmente os vertebrados, possuem ampla capacidade de sentir, contudo os que mais nos atraem, são aqueles com maior capacidade de expressão emocional, que transformam seus sentimentos em gestos. Sendo assim, o melhor da vida está em aconselhar, e em ser aconselhado por quem entende o valor disto.
É compreensível, porém, que com a perversão social dominante, alguns se atrofiem nas desilusões, anulando tanto os instintos mais nobres, quanto os valores que remetem às ações mais humanas, dicotômicas ao mercado, que aplica regras de consumo às relações, inclusive às afetivas tradicionais, de suma valia à espécie em toda a sua complexidade, reduzindo a sexualidade à prestação de um serviço (quer pago, quer não), ou à propaganda do hedonismo aberrante, tão despropositado quanto um esporte chique. Mas o melhor da vida está em as pessoas se interessarem mutuamente pelo cotidiano umas das outras, participando das suas lutas e conquistas, ainda que se torne cada dia mais difícil ou raro o relacionamento saudável, o que tem consequências nunca antes imaginadas ou mesuradas pelas pessoas em geral. Prevalece então, a razão deste ensino: “Assim como quereis que os homens vos façam, do mesmo modo lhes fazei vós também”.
Portanto, abraça, ouve pacientemente, presta favores (mesmo os imperceptíveis), doa seu tempo e até dinheiro (exatamente porque se você estivesse em dificuldades, gostaria de ser ajudado materialmente); recebe, pergunta, e se interessa. E quando se cansar de tentar plantar em meio às pedras, não desista por isto, de tentar plantar em solo fértil, pois o sentido do seu amor é dar fruto nos outros. Se necessário, ainda que por tempo limitado, desista de quem não amar você, mas nunca desista de amar.