O Fantasma da Ópera II
“Como o louco que solta faíscas, flechas, e mortandades, assim é o homem que engana o seu próximo, e diz: Fiz isso por brincadeira.” Prov 26; 18 e 19
Notemos que a reflexão do sábio não traz uma censura à brincadeira em si, antes, quando ela se faz máscara para disfarçar a maldade, o engano.
Sobre máscaras, aliás, citei num poema que escrevi a figura do “Fantasma da Ópera” o mascarado, como símbolo de pessoas falsas. Mas, depois de pensar melhor acho que fui injusto com o dito cujo. Aquele sofrera um acidente terrível que deformara seu rosto, de modo que a máscara era muito mais “apresentável” que sua face real.
Contudo, essa injustiça me fez entender sem esforço o porquê, de certas pessoas usarem máscaras. No fundo, têm autocrítica apurada; sabem que suas faces reais não são belas; apelam a disfarces para a exposição pública.
Não estou defendendo uma chatice contínua de sempre dizer na cara o que pensa, estilo o “Super sincero” personagem de Luis Fernando Guimarães, mas, quando o assunto for sério, a devida seriedade; se, passarmos do ponto, o “mea culpa”; se elogiarmos, o façamos na devida medida para que nossa crítica também desfile na mesma senda.
Nada irrita mais a uma pessoa de princípios que essa nojeira de dois pesos e duas medidas. Os gregos usavam máscaras de cera no teatro da antiguidade, para “montar” suas personagens. Desse costume derivou a palavra, “Sincero”, que é o aportuguesamento de duas palavras latinas que significam: Sem cera, ou seja: Sem máscara.
A sociedade como se nos apresenta não nos treina para a verdade como um valor supremo, antes, a primeira vítima a ser sacrificada no altar da “convivência”.
Num espaço como esse, de escritores amadores, e, muitos dando os primeiros passos, a verdade em si não basta; carece o apoio da bondade, do entendimento. Se formos graves e objetivos em todos nossos comentários, por exemplo, feriremos suscetibilidades e espantaremos pessoas amigas de nosso convívio.
Quer dizer que estou defendendo a hipocrisia, a bajulação para conservar leitores? Não. Imaginemos uma criança começando a caminhar ainda no andador. Se, de repente conseguir dar uns passos sem ele, toda a família irá vibrar com tal conquista. Mas, alguém vibraria, aplaudiria um adulto que, desse quatro, ou, cinco passos? Não, isso lhe é normal.
Assim, os poetas que estão em fase de aprendizado, qualquer conquista deve ser valorizada; e elogiá-los por isso não é falsidade, antes, discernimento, incentivo, rumo ao crescimento.
Ressalva feita restam as pessoas maldosas que não medem consequências de suas incisões verbais, e depois querem saná-las com mais palavras ocas que só aumentam o dano.
Onde há respeito mútuo deixo-me conduzir por um fio de cabelo; onde esse falta, nem um cabo de aço me puxa de volta. Deprecio imbecis que tentam curar câncer com aspirina!
Não que a convivência não seja uma coisa boa, apenas, na minha escala não é o bem maior. Em suma, se “justifico” a máscara do Fantasma; a dos hipócritas eu rasgo e ponho o espelho.