SOBRE O ÓDIO DE CLASSE

Desfraldar o ódio de classe que nutre por ignorância ou conveniência, não faz daquele que assim age, um coitado. Apenas o catapulta para a vala dos frustrados e inertes. Aos inertes nada mais que paciência, pois, querer demovê-los desse estado, será o mesmo que desejar que segundas-feiras sejam terças. Sobre os frustrados, apenas o silêncio, pois, seu estado está diretamente relacionado consigo mesmo. Quer dizer: o frustrado, mais do que admitir-se que fracassou, transfere para os outros toda sua incapacidade. Ele jamais admitirá ser um fracassado, afinal, nada mais doloroso que se autoproclamar um perdedor, numa sociedade assentada na competição e no sucesso a todo custo.

O frustrado se comporta como se fosse o único dos seres; ele trata o demais com a mesma arrogância com que aceita ser tratado quando se encontra com pessoas socialmente mais abastadas. Incapaz de se rebelar, ao passo que rebelar-se contra “os de cima”, lhe tira a mínima possibilidade de um dia ser aceito por eles; por isso ele se submete; é, por assim dizer, um fraco. O frustrado não tem opinião própria; como um papagaio, sai por ai a repetir o que ouve. Porém, o frustrado é seletivo: ele só “se mistura” com pessoas que possam lhe dar certo sentido de pertencimento, isto é, ele, normalmente, não seria aceito naquele grupo somente pela sua parca condição social; o frustrado busca status na companhia dos outros. Também não seria aceito por suas “opiniões”, pois, o frustrado, quase sempre, é aquele ser vazio. Mas quando se depara com pessoas que ele julga serem inferiores, estes ele trata como se fosse o mais abominável dos carrascos. Sobre estes, ele despeja todo seu ódio. Sobre estes, ele se comporta como se fosse dono de suas vidas.

O frustrado é um infeliz contumaz. Ele não se permite autocrítica, ele está sempre afiando seus impropérios para serem lançados àqueles que lhe pareçam adversários. Ele não pensa. Seu poder de ofensa supera, em muito, às ogivas nucleares direcionadas às nações que desafiassem o poder de fogo do tio sun.

O frustrado se assemelha àquela ínfima, mas não desprezível, parte da sociedade que detém os meios de produção e informação. É nesse campo, todo ele primorosamente controlado por famílias oriundas das oligarquias egressas da cafeicultura, que o frustrado se compraz do seu ódio de classe.

Mas o que vem ser esse Ódio de classe?

O ódio de classe “nasce” da incapacidade de ver o outro como seu igual. Não é a negação, mas da afirmação de ver o outro, a partir da sua condição social, como um ser inferior. De ver o outro como aquele que lhe incomoda somente por existir. É inerente ao frustrado atribuir sua condição social àquele que ele identifica como responsável pela sua “má sorte”. Atribuir ao outro o que nasce da desigualdade, ou seja, da má distribuição de renda, ausência de oportunidades iguais. Apegar-se ao movimento da história para entender as desigualdades e falta de oportunidades, tudo isso, para o frustrado não interessa. Negar a história como elemento de construção de ação e pensamento, é intrínseco ao seu ódio. Ele ignora tais ocorrências se apegando a preceitos morais e preconceituosos para “justificar” sua incapacidade de compreensão.

O ódio de classe se manifesta de maneira direta. Ele não se esconde, nem tampouco, se utiliza de mecanismos mais “civilizados” para desfraldar todo seu ódio a determinado grupo.

O ódio de classe é aquela parte que habita a superfície da sociedade. Está tão evidente que para vê-lo, mesmo um cego não precisaria de ajuda. Como já se disse, o ódio de classe não se esconde, e nem quer! Ao contrário: manter-se em constante evidência é sua melhor propaganda.

O ódio de classe se manifesta dura e implacavelmente, mesmo à mais indefessa das criaturas. Ele não mede esforços para se fazer ouvido. Não se comove com o medo que provoca àquele a quem se dirige, afinal, o medo, é a principal medida do sucesso.