O GRÃO

No caminho brasileiro rumo ao socialismo há uma pedra, e a pedra não é o Estado.

Na verdade a pedra nem pedra é, mas, pela conjugação dos raios solares sobre o corpo do objeto e a ampliação da imagem, parece pedra.

Mas não é.

É um grão de poeira. Nocivo. Mas é um grão.

E o que é o grão? É a mentalidade pequena, embusteira, medíocre, do fazer o setor público, balcão especulativo das atividades criminais e fisiológicas.

Partidos ditos de esquerda democrática e socialista encaixam-se como uma luva no corpo estatal brasileiro, porque nascidos da especulação promíscua dos saqueadores dos cofres públicos com o corporativismo.

Assim é o PT, filho bastardo de uma linhagem que condenando a legalidade a gerar só frutos podres, todos vestidos com as túnicas do heroísmo, coroou a cada um deles não com louros, mas com folhas secas.

Esse fruto bastardo vive às custas da inexperiência partidária do País, conjugada a uma cultura política superficial de um povo que não tem heróis pelo fato de não reconhecê-los, um povo que privilegia o individual sobre o coletivo.

Assim é o PT. Dizendo-se socialista e democrático, condena a todos os pensadores socialistas cujas teorias foram postas em prática, elegendo escritores exóticos como pensadores. Pode-se dizer que o único país que gerou um partido com densidade e expressão eleitoral baseado nas teorias trotskystas é o Brasil. E o tal partido é o PT.

O PT traiu os princípios do socialismo. Ao socializar o que é dos outros para capitalizar o que é próprio, não inovou na companhia dos que se apropriam do que é público para acumular no privado. Nem a traição é novidade. Na história da luta de classes a traição é regra, não a exceção.

O programa nacional contra a fome apresenta a singela sonoridade de um nome, que imaginado nos delírios ufanistas dos que nada fazem por viverem nas generalizações superficiais, encontra justificativa, apenas, se imaginarmos um jogo no qual o resultado não deixa dúvidas quanto ao que realmente se opera hoje no interior do aparelho do Estado: Corrupção 10 x Fome Zero.

O caráter de classe de um governo não é medido pela condição social do líder, mas pela condição humana resultante da operações exercidas no comando da máquina pública, ou seja, é a práxis que determina a hegemonia classista no controle do Estado.

Um governo aliado dos bancos é das classes trabalhadoras?

Um governo, cuja base parlamentar derrubou o limite constitucional de cobrança de juros nas dívidas contratuais, de 1% ao mês, para o que o credor bem entender, é dos trabalhadores?

Um governo que agride um dos principais estatutos da modernidade no Brasil, o Código de Defesa do Consumidor, para garantir uma legislação beneficiária dos grandes interesses ruralistas, no caso a soja trangênica, é do e para o povo?

A esquerda brasileira é um agrupamento de cínicos.

A ordem desorganizada dos partidos que transformam panfleto em teoria não resgata a credibilidade nas ações.

Na verdade, o Brasil não tem partido socialista. Os que estão registrados são anedotas.

A consequência vem da maturidade no entender, de um lado, os acontecimentos operados pelos novos sujeitos sociais, cujo impacto absorvido pela capacidade teorizadora articulando-se aos pensamentos de Marx, Galbraith, Keynes, Myrdal, Celso Furtado, na construção de outro horizonte, porque o atual está limitado pelas grades.