O BANCO NAQUELA PRAÇA (I)

CAPITULO I – O aviso que a praça desapareceria

A praça era pequena, mas era grande em sua importância para um grande número de famílias, que nela iam conversar, rememorar o passado, levar os novos e as crianças para o lazer. Nela havia mesas que servia aos jogos de buraco, pife, xadrez, dama e dominó, pos seus caminhos as pequenas bicicletas cortavam velozes em um transito “louco” para a alegria das crianças e sustos dos adultos. Ao centro o coreto onde a “furiosa” alegrava as tardes de domingo, isto quando não chovia!

Mas era segunda-feira, dia de feira na cidadezinha do interior, e praça amanheceu diferente, triste. As flores pareciam não ter o mesmo colorido, as folhas das palmeiras estavam mais caídas o que normal, os pardais já haviam acordado e voado de debaixo do telhado da escola frontal, mas não faziam o alarido rotineiro, pousados ao galho imóveis como se estivessem em protesto pacífico, o máximo que faziam era soltar coco na cabeça de algum distraído passante.

A razão? A placa, sim a placa colocada a mando do prefeito aos primeiros raios de sol, era como um aviso fúnebre: “Comunica-mos aos usuários desta droga de praça, que ela só vem servindo a inúteis e preguiçosos, por esta razão, em nome do progresso ela será arrastada pelas laminas do trator até desaparecer, dando lugar a uma larga avenida de pistas de vai e vem. Os que a ela visitam e aqui ficam proseando damos o prazo de 24 horas para não mais voltar, esquece-la”, e também se lia o nome do prefeito, do secretário de obras, e ainda “apoio do deputado Emalaeu”.

A placa foi afixada ao tronco de uma grande árvore *barriguda, que quase pariu de dor com aquele enorme prego que lhe enfiaram barriga à dentro. E estava bem ao lado daquele banco, bem cuidado pela “louca” de sua dona, Maria Mariquita, que a pelo menos a uma década ali dormia sossegada, e dele cuidava como se ali fosse o seu lar. E era! Até óleo de peroba passava nas madeiras fazendo-o destacar dos demais bancos que deveriam ser cuidados pela prefeitura.

Mariquita acordou e deu um pulo ao abrir os olhos:

- O que? A praça será destruída por esse doido varrido que acha que é o dono de tudo e de todos, só porque foi eleito prefeito? Essa não!”

As árvores que só falam com os “loucos” perguntavam:

- E nós morreremos? Vão nos cortar e pedacinho e usar na fogueira de São João?”

E os pardais começaram a esaiar um canto triste...

Aos poucos os amigos da praça iam chegando, lendo o ultimato, e cada um mais perplexo do que o outro diziam que haveriam de fazer alguma coisa. Até “desvotar” no prefeito, como se isto fosse possível.

O guarda municipal, responsável pela praça durante o dia, ao chegar atrasado ao seu posto, como era rotina, se surpreendeu com a placa:

- Será que vou perder o meu emprego? Pior será perder os amigos que aqui eu encontro a cada dia, e perder ainda as gorjetas que as mães me dão para olhar seus filhos brincando no parquinho, enquanto elas vão à manicura no são ali em frente!

Enquanto isto Mariquita fazia amplo discurso convocando aos presentes a execução de um abaixo assinado, que ela denominou: “Abaixo o assassinato”.

Por via das dúvidas o pipoqueiro levou menor quantidade de milho. A vovó que nos primeiros raios de sol ali fazia sua caminhada parou. O vovô que separava as notas de um real, que distribuía alegremente aos meninos de rua, ficou estático como se sua música tivesse parado na primeira nota.

Os meninos de rua choravam por correr o risco de perderem a praça e o praça amigo. Como fogo na pólvora todos os cantos da cidade souberam, meia-hora depois do comércio aberto, que a praça seria fechada. Abatia-se um luto, e neste dia até as nuvens ameaçavam despejar água em abundância, na tentativa de apagar o fogo do prefeito.

Mariquita beijou o banco e prometeu que o roubaria caso a ameaça se concretizasse. E matando a curiosidade que certamente o banco passou a ter, foi logo explicando:

- Te levo comigo, te coloco em outra praça, nem que seja naquela pracinha do bairro lá esquecida. Não será o mesmo jardim, aliás lá nem jardim tem!.

E aquele pedaço de manhã foi só de lamentos, choros e até gritos histéricos de Talismã, um cabeleireiro que a cada folga vinha a praça ver os “bofes”, enquanto os rapazes queriam ver as magníficas mulheres que iam e vinham nos caminhos da praça, deixando os senhores da terceira idade limpando as lentes, naquele movimento de vai e vem da flanelinha.

E praça se prepara para o grande exercício de cidadania...

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Próximo capítulo – O TRATOR SE APROXIMA

(Dia 25, neste mesmo espaço)

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