O EMOCIONAL E O AFETIVO

“Ref. ao texto SERVENTIA DO SOFRIMENTO, em http://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/4901615

O sofrimento é a matéria-prima de tudo. É de somatizadas diatribes que se compõe o cadinho das inquietações e possíveis enfermidades, em todos os tempos, como apontava Goëthe, no seu “Os sofrimentos do jovem Werther”, em 1774. É essa sensação de sofrência, de solidão no viver e o sublimar das angústias – as mais das vezes – quem perfaz os meus neurônios, e humildemente imagino que o receptor possa tirar dos relatos sobre este obscuro andar no mundo alguma utilidade ou gozo. Mais do que qualquer efeito, esse lúdico exercício com os signos vai traduzindo o escritor. Este talvez seja um momento em que tenho pouco a dar como autor, mas, no íntimo de meus alter egos a rosa vai se abrindo à luz. E como o momento da criação pode ser brilhante ou tempestuoso, os olhos que me aclaram nem sempre estão com a mesma ótica. E percebo que o não revelado ou o que sai inerte das entrelinhas, é o que mais se reproduz no esforço de entendimento pelo receptor. O reproduzir-se ou não da proposta textual naturalmente depende de quem a recebe. Nem sempre o alter ego traduzido pelo criador se conecta bem com o leitor. Afinal, este é o mistério da comunicação, aquela ideia que nasce se debatendo por meio das palavras no desabrochar – atônita – no mundo real. Um parto doloroso no qual nem sempre o nascituro conseguirá vir à luz individuado.”. Joaquim Moncks, in INDIVIDUALIDADES.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4908522

– Marilú Duarte, via e-mail, em 04/08/2014.

O tema “Individualidade” nos faz pensar nessa busca incessante e destemida que travamos desde a infância, em nossas relações sociais. Ela se processa por meio da subjetividade, ou seja, pela forma como percebemos e representamos a realidade. Tudo isso nos faz construir e atribuir significados que vão se produzindo e se aperfeiçoando ao longo de nossa vivência. Portanto, o conteúdo sensível, o significado e o sentido pessoal que movem nossas ações é que nos faz um ser único e singular, neste contexto universal, onde os valores sofrem constantemente modificações estratégicas. Por vezes, nossas energias são mobilizadas por situações inoportunas e frustrantes, e o sofrimento se faz presente com austeridade. É nesse momento que surge a necessidade do devaneio em nossas viagens pelos territórios inusitados do mistério, como relata o autor. Ora, se o devaneio é uma expressão dos instintos humanos reprimidos, muito próximo aos sonhos, nem sempre poderá ser decodificado e compreendido pelo leitor. No momento em que este se apropria do texto, uma série de contextos passa a ter uma dimensão estruturada de acordo com suas vivências. O maior mal da humanidade, são os “mal-entendidos” na comunicação. A transmissão da mensagem nem sempre é entendida, mesmo que devidamente explicada. Determinadas leituras, muitas vezes representam “perigo”, ou seja, um alerta para que o leitor distorça o que lê, sob pena de entrar em contato com realidades até então não apreendidas. Tudo ocorre por conta de sua posição defensiva, originada muitas vezes por uma demanda narcisista, que evita o despertar dos ataques aos vínculos. Nada mexe mais com o leitor do que essa afirmativa: “O sofrimento é a matéria-prima de tudo”. Todos nós carregamos, ao longo da existência, inúmeros registros de experiências emocionais e afetivas vivenciadas desde o nascimento. São lembranças que podem ou não se restringir às situações de frustrações (sentidas) pelas faltas e ausências sofridas, além dos desprazeres que nos são impostos pelo mundo familiar e externo. Há, portanto uma significativa bagagem que muitas vezes se confunde e se extravia no trem da vida. Bendito sejam as palavras que, na sua duplicidade de entendimento, mostram caminhos por vezes obscuros, mas significativos e instigadores, capazes de ressignificar o impossível. Benditos sejam os escritores que conseguem, através do mundo das palavras, oferecer a seus leitores uma tábua de salvação nesse mar de angústias e de símbolos não revelados, um momento de reflexão e recomeço.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DA PALAVRA II. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4966644