Amigo inimaginável

Ali no canto ele brotou, como um embrião, eu não o vi nascer, se é que nasceu, amanheceu ele estava lá, encolhido

Um corpo estranho e deformado, pouco maior que uma criança de quatro anos, semelhante a uma estatua inacabada de cera, nojento e úmido brilhoso, assustador, uma forma indefinida que expressava agonia, e dor.

Um ser inominável, uma amontoado de matéria indefinida, carne, gordura, nervos e cabelo, talvez um tumor ou um mioma. Quem fora seu hospedeiro? Parturiente? de onde havia saído?

Parecia que havia sido derretido no fogo, via se rugas e buracos ocos que tentei definir como a face, mas estavam inertes, algo muito feio, tão repulsivo que despertava pena ao invés de medo.

Peguei a pá um saco de lixo e luvas e ao tocá-lo ele se moveu se contraído como um caramujo acuado , emitiu sons de choro e lamuria, estava assustado .

Tive pena deixei-o no canto como estava, e fui para o trabalho, pensando no que fazer.

Ao chegar em casa aquilo que supostamente era um amontoado de matéria orgânica inanimada encontrava-se aberto como um espécie de casulo que fora abandonado, já não se movia estava partido ao meio como se houvesse sido destruído por dentro.

Pensei nos filmes de ficção me apavorei, temi pelo pior , ao chegar na sala vi sentado uma criatura não mais bonita que seu escafandro, mas com traços semelhantes ao de um ser vivo, a pele rosada como as de um feto de rato, lisa e mucosa, com duas cavidades de onde olhos grandes e curiosos me fitavam com ar de inocência de um bebe que reconhecesse o mundo ao seu redor, não havia membros nem sexo apensas olhos em uma espécime de larva com pele humana.

Não sei se ele me olha, não há definição do que seja , mas ele esta ali inerte com uma expressão de desespero. Pensei em extirpá-lo achei que fosse um animal, fugido de alguma jaula de experiência macabra, mas minha educação cristã não me permitiu destrui-lo, se veio a mim foi por um propósito.

Ate por que mesmo com sua imagem repulsiva, ele não é nocivo

A principio achei fosse um projeto de anjo que deu errado, e foi proibido de pisar céu, ou talvez um pobre diabo vindo do inferno, pela feição de dor.

Mas a verdade é que nascera dos sentimentos ruins de rejeição desprezo e ódio, e que eu sou seu criador..

Vi nele, minhas angustias , pude sentir que há alguém pior que eu, mas nojento e indigesto, ele me entende, veio seja de onde for pra me fazer companhia,

Ele não é de fora nem é divino ou místico, tampouco Cientifico ou orgânico, ele veio do inferno pessoal, por isso a expressão de dor. ele é meu eu interior, e só existe em mim, ele é meu

Amigo inimaginável.

Frank Neres
Enviado por Frank Neres em 02/09/2014
Reeditado em 04/09/2014
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