Sobre um absurdo contemporâneo

Uma peculiaridade de nossa mente é o fato de podermos nos acostumar com QUALQUER coisa, até com as mais hediondas. Convivemos normalmente com inúmeros disparates. Um dos mais gritantes absurdos que compõem a nossa normalidade é a naturalidade com que os policiais costumam assassinar pessoas no Brasil. Trata-se, todos sabemos, de um costume natural e aceito por aqui, onde os policiais podem matar e o fazem sem parcimônia nem pudor.

Recentemente, uma reportagem do Fantástico mostrou dois policiais levando 3 garotos para matar em um matagal. Causou surpresa a denúncia, não o fato: dois dos rapazolas, de 14 e 15 anos, haviam cometido delitos, furtos em lojas, suponho, motivo suficiente para serem capturados e assassinados; o terceiro ficou olhando com marra, motivo para morrer também, embora tenha sido absolvido pelos policiais, posteriormente (era sobrinho de conhecida dos policiais).

Os policiais não se preocuparam com o testemunho do jovem liberado, não havia motivo para preocupação, a função de exterminadores exercida por eles é notória na região onde trabalham; os policiais municipais que capturaram e entregaram os garotos aos policiais, por exemplo, tinham consciência do destino que os meninos viriam a ter.

Estima-se uns 3.000 assassinatos cometidos anualmente por policiais na cidade do Rio de Janeiro, a maioria deles após torturas, outro evento natural em nossas terras.

Por aqui pensamos que esse genocídio seja natural e inevitável, fingimos acreditar ser assim em todo lugar. Acredito que tamanho grau de selvageria não ocorra em nenhum outro lugar do mundo, é provável que esse recorde nos garanta o título, a nós, brasileiros, de campeões mundiais de selvageria, honraria repugnante.

Temos muitos outros problemas no país; creio ser esse, no entanto, o mais premente, em virtude de sua gravidade. Acredito termos obrigação de acabar com esse genocídio absurdo. Basta de selvageria.