Sobre as relações de poder na nova era
A nova era chegou a nós em formato digital, acarretando profundas alterações nas relações de poder.
Hoje, um único indivíduo pode escrever uma história, compor uma trilha sonora para ela, executar a composição com uma roupagem harmônica elaborada, filmar a história, atuando, dirigindo e produzindo o filme, e apresentar o produto de sua criação através da rede de computadores a milhões de pessoas.
Embora a possibilidade existisse antes, e já tivesse sido executada por Chaplin, isso só foi possível graças a um alto investimento, e à popularidade do executor. De fato, era impossível uma pessoa comum, até mesmo, comprar uma câmera cinematográfica. Obras mais baratas, como as literárias, esbarravam na completa impossibilidade de distribuição por parte do autor, sendo necessária a intermediação de uma editora.
Hoje, as possibilidades de expressão dependem fundamentalmente do que se tem a dizer. O que corresponde a uma profunda alteração nas relações de poder.
Os poderosos ainda possuem o poder de amplificar sua voz até extremos, conseguindo até mesmo utilizar outras vozes para falar por si. E, no entanto, para tudo isso é preciso ter o que dizer.
Estamos saindo de uma era em que a imagem de uma pessoa era composta, fundamentalmente, em lojas. O indivíduo comprava suas roupas, seu carro, e saía nas ruas sob essas molduras, sendo essa, basicamente, a sua imagem.
Na nova era, a imagem virtual das pessoas é mais conhecida que a imagem real, mais ouvida também. Nossas ideias não se encontram mais restritas aos limites sonoros de nossa voz, podendo ser amplificadas por todo o mundo. O conteúdo da pessoa vai ganhando tanto valor quanto a moldura.
As redes sociais, e outros sites, permitem a divulgação quase ilimitada de nossas ideias, uma imensa fonte de poder. Para usá-lo, no entanto, precisamos ter algo a dizer. Os que têm ideias propõem novos caminhos a seguir, novos rumos. Os que não as têm, apenas, seguem o rebanho.
Somos um país de gente ignorante. Até bem pouco tempo a maioria não sabia escrever. Hoje, bem poucos conseguimos ler as legendas no cinema. Não é de admirar que quase nada tenhamos a dizer, o que fica claro ao consultarmos as opiniões manifestas nas redes sociais, uma imensa algaravia de psitacismos.
Não gosto do poder; refiro-me ao conluio dos poderosos, a todo o imenso sistema organizado para tanger as populações, o gado humano. Mas creio no poder individual, na capacidade de definir nossos próprios rumos, nossos próprios caminhos, de se rebelar contra as direções impostas ao rebanho pelos poderosos, de se negar a segui-los estupidamente.
Para definir nossos caminhos, no entanto, é preciso termos alguma visão do mundo ao redor, é preciso conhecimento. Os que sabem, apenas, seguir os passos dos que estão à sua frente não têm escolha, seguirão suas ordens, como bois atrelados a cangas.
Os que puderem escolher traçarão suas próprias rotas alheios às determinações dos poderosos, libertos desses grilhões.
Nessa nova era, o poder da escolha é dado por nossas mentes.