Ensaio um
Justificativa:
Escolhi a Primeira Conferência de Steiner para fazer este relato devido às reiteradas informações dos professores de que a base da educação antroposófica está nas dezoito conferências de Steiner, das quais penso que a primeira conferência seja a referência mais apropriada para um iniciante nos estudos de Antroposofia assim como eu.
Princípios:
A Primeira Conferência de Steiner diz que o principal tema de estudo para a formação do professor em/na pedagogia Waldorf é o “estudo da criança” (1º parágrafo) e que a criança é uma “integridade de corpo, alma e espírito” (11º parágrafo) que “entrou no mundo pelo nascimento” (4º parágrafo) para desenvolver “todas as suas faculdades e condições inatas, entendidas, por Steiner como o destino da criança” (13º parágrafo).
Desenvolvimento:
As colocações de Steiner sobre o estudo da criança (1º parágrafo) como uma “integridade de corpo, alma e espírito” (11º parágrafo) que “entrou no mundo pelo nascimento” (4º parágrafo) para desenvolver “todas as suas faculdades e condições inatas, entendidas, por Steiner como o destino da criança” (13º parágrafo), para mim, são as premissas essenciais que constituem as dimensões necessárias à formação pedagógica em Antroposofia seja ela a dimensão teórico-epistemológico, ético-político ou teórico-prático pois, entendo que a partir do entendimento da criança dado pela Antroposofia podemos definir os objetivos da educação antroposófica para que o professor desenvolva sua ação pedagógica, bem como realizar as reflexões para manter atualizada as discussões no campo da educação.
Da criança:
Iniciando o estudo da criança em Antroposofia, através da Primeira Conferência, destaco os seguintes pontos:
A criança é uma integridade de corpo, alma e espírito, que entrou no mundo pelo nascimento para realizar plenamente as suas faculdades inatas (4º parágrafo. Isto é, realizar o seu destino (4º parágrafo) em um curso de vida, que é uma incógnita (15º parágrafo), o qual um dia, ela terá que “tomar sob sua responsabilidade para levá-lo a termo,” de modo “que possa chegar a sua maior formação” (12º parágrafo).
A humanidade evolui pela manifestação do espírito criador do homem (2º parágrafo), que significa o ativo, o criador, o profundo pessoal que irradia do homem (3º parágrafo) e, o conhecimento aprendido levando em conta este princípio é um conhecimento que vem da alma, por isto é expressão e dá autonomia existencial e espírito criativo humano.
A “vida toda é uma unidade e a infância não pode ser vista como parte isolada desta unidade”, cujo percurso vital para a consecução do destino, também integral, é preciso ser considerado em sua totalidade.
O social influencia na aprendizagem, pois não somos destinos isolados do meio, embora, haja uma parte do destino que é, exclusivamente, pessoal, pelo contrário, a “forma como reagimos ante ao que parte ao nosso encontro” (13º parágrafo) é a “primeira manifestação do que chamamos espírito,” (14º parágrafo) pois, que o destino não é uma “simples sinfonia social.”
Dos objetivos da educação:
Tomo como base para a educação antroposófica a pergunta de Steiner : “o que eu como adulto posso fazer para que uma criança que entrou no mundo pelo nascimento realize plenamente as suas faculdades inatas, isto é do seu destino?” (4º parágrafo).
Para mim esta pergunta deve ser o fio orientador da atividade do professor com formação em Antroposofia desde o seu planejamento e durante toda a realização de sua prática, pois que nessa concepção a aprendizagem é de alma, conduzida pelo princípio de um espírito criador, que também é um destino apontando para um futuro que não se pode assegurar qual seja e, por isso precisa ser mantido ativado por modos de ensinar que mantenham acesos o entusiasmo e o fervor em aprender, ou seja, à vontade e a confiança em si mesmo para a consecução desta tarefa existencial.
Considerando que a criança é uma totalidade física, anímica e etérica, onde a parte física é a base para atividade anímica, como “manifestação do espírito criador do homem” (6º parágrafo), uma manifestação da alma que se desenvolve desde a vontade (juventude do pensamento) até o pensamento (velhice da vontade), configurando uma relação entre os dois mediada pelo sentimento/sensibilidade, as aulas predominantemente teóricas que exigem, exclusivamente, trabalho intelectual/concentração desvitalizam a seiva fisiológica da criança e produzem um envelhecimento da vontade que afetam a aprendizagem e trazem problemas, inclusive, de saúde, às vezes para toda vida.
Pois influem na confiança da criança na “eficácia de suas energias mentais para a realização do seu destino” (12º parágrafo) e criam “uma disposição fixada pela injeção de uma tendência ao envelhecimento nas suas forças vitais” (16º parágrafo) pela sobrecarga de memória criança.
Da ação pedagógica:
Já que o professor Waldorf tem ciência que a aprendizagem segundo a Antroposofia envolve e desenvolve as dimensões espirituais do aprendiz é preciso que ele cultive uma auto-educação no sentido de desenvolver também outras dimensões suas que não seja somente a intelectual.
Assim ele se desprenderá do pragmatismo material para modificar seu método de trabalho tanto quanto o conteúdo quanto aos modos de realização da prática docente.
A ação pedagógica do professor Waldorf deve conter atividades que tornem possível experiências integradoras do corpo, da alma e do espírito como é o caso da música e do desenho, nas quais os conteúdos das diversas ciências, da linguagem e do cálculo estão envolvidos.
As atividades, também devem respeitar o período vivencial do aprendiz, conhecido como setênio em Antroposofia e valorizar mais o como se aprende do que o que se aprende em termos de plano das matérias a serem aprendidos (11º e 12º parágrafos).
Para que não desvitalize e envelheça a vontade da criança, causando-lhe problema de saúde e a perda da confiança nas próprias energias para aprender e para tomar como tarefa sua levar a termo o próprio destino as atividades não devem exigir trabalho, exclusivamente, intelectual ou, pelo excesso de uso da memória desaconselhável para o período que a criança se encontra.
As atividades apropriadas são aquelas que respeitam o período em que a criança se encontra e que envolvem jogos dramáticos, que exigem a presença dos sentimentos na experiência de aprendizagem e, assim sustentam o jogo infantil que ativa à vontade e a decorrente “circulação da seiva fisiológica” vitalizada (9º parágrafo) que mantém a criança.
Ainda convém frisar que para o professor a quem se entrega a educação de uma criança o destino da mesma é uma incógnita, porém não é estático. Isto configura, ao mesmo tempo, uma preocupação e uma grande responsabilidade.
Preocupação no sentido de atentar para a influência negativa ou positiva que a prática pedagógica possa ter no destino da criança e, possibilidade, pois, que na ausência da ênfase nos conteúdos ensinados e no valor de se “medir aproveitamento” (14º parágrafo), o professor tem a liberdade de procurar as mais diversas atividades que, pela participação do sentimento na aprendizagem possam influir e modificar o pensamento e o querer da criança e a partir da sensibilidade chegar à totalidade da sua alma, caminho para além da aprendizagem convencional se chegar à autonomia existencial do espírito criativo que nela reside, ponto que configura a pergunta inicial de Steiner: “o que eu como adulto posso fazer para que uma criança que entrou no mundo pelo nascimento realize plenamente as suas faculdades inatas, isto é do seu destino?” (4º parágrafo).
(de Assis Furtada, 21 de agosto de 2014).
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