Sendas de experimentar pintar
Sendas de experimentar pintar
"Digo que meus poemas nascem do espanto, de algo que põe diante de mim um mundo sem explicação". Ferreira Gullar
Eliane Accioly Fonseca poeta, psicanalista e artista plástica, mestre em psicologia clínica e doutora em comunicação e semiótica pela PUCSP, ao longo de três décadas pesquisa no cotidiano, as relações entre a clínica e o fazer artístico, seus ofícios, suas práticas.
De 2010 ao presente, com outros artistas, frequenta semanalmente o ateliê do artista Sergio Fingermann, tempo em que se revela, para ela, seu método intuitivo de pintar. Tal compreensão chegou aos poucos, ao longo de cinco anos, processo que tem continuidade; pois, a intuição correria o risco de tornar-se apenas a inspiração preciosa, mas passageira, no caso de não ser usada como um instrumento de trabalho. Usar é experimentar, e a experiência cria formas de percepção e de consciência. No ateliê, a consciência da artista é convocada pelo quadro no qual trabalha passo a passo, e a cada instante. Não se trata de (apenas) pintar, tem precisão de saber e compreender como pinta o que pinta. Pintar demanda atenção, o que significa olhar e se ligar ao trabalho, habitar a tela que está pintando.
E também se afastar, para olhar: a cor acrescentada, ou o traço, ou a imagem que se forma ajudou ou não o contexto daquela tela? A tela pede o quê? Não há respostas, nem se pode explicar. Na presença do mestre e dos pares alguém aprende a pintar. Ou a construir um poema. Ou a psicanalisar. A tarefa do pintor é a de criar poética(s), para muito além de tintas e pincéis. Construir poéticas é procedimento estético, ou seja, a criação de contextos. Por exemplo, um poema, uma tela, são contextos criados pelo poeta, pelo pintor. E o artista vive o paradoxo: a responsabilidade e o lúdico andam com ele.
Accioly Fonseca experimenta pintar enquanto experiência que se repete na criação de memórias desconhecidas, que não moram no passado, e ainda não se encontram aqui; acolhe um traço que fracassa; vive vigor e exaustão; a inquietação de deixar o mesmo; desiste e continua. Não há garantias, e o estado de risco, uma presença. Arte transforma a maneira de estar no mundo.
Por tais veredas e processos podemos dizer os trabalhos aqui expostos, frutos de trabalho árduo com as próprias características pessoais, No desafio de buscar o procedimento estético, ou seja, método(s) de pintar, Eliane atravessa fronteiras palpáveis entre a arte e a vida. Esta primeira exposição é parte da aprendizagem que com humildade gratidão e alegria oferece ao público.