Experiência
Vivi uma experiência interessante, quando perdi a minha mãe. Ela havia sido o meu amor maior e eu fiquei muito arrasada com sua morte. Pelo meu próprio jeito de ser, revelo no rosto o que eu sinto. Quando as pessoas se aproximavam de mim, já se chegavam penalizadas. E acabávamos por falar sobre tristezas.
Todos que me conheciam sabiam do relacionamento intenso que era o nosso (meu e de minha mãe).
Todas queriam arrumar uma solução para o meu sofrimento. Umas sugeriam que eu fizesse terapia, outras que eu fizesse isto ou aquilo.
O que acabava por me deixar ainda mais deprimida, pois além da dor que eu estava sentindo pela perda de minha mãe, ainda havia a preocupação com as pessoas que por mim se penalizavam. Ao invés de me ajudarem, deixavam-me ainda mais triste por quererem que eu me reestabelecesse instantaneamente.
Não gosto de sentimentos de pesar, pois eu não gosto de me sentir a coitadinha.
Aqueles cuidados começaram a me incomodar muito.
Então, eu resolvi mudar minha atitude perante as pessoas.
Comprei roupas coloridas e trabalhei numa imagem bonita.
Ao encontrar as mesmas pessoas elas não mais me perguntavam como eu estava, simplesmente me diziam: "Vejo que você está bem - nem precisavam perguntar se eu estava bem - o quanto você é forte. Parabéns!"
Dentro de mim, nada havia mudado.
As pessoas nos julgam pelo que veem. E eu pude , então - finalmente - ter o direito de viver a minha dor em paz.
Eu não queria fazer terapia para que me dissessem que não era certo sentir a imensa falta de minha mãe. Eu não poderia consentir um sentimento que eu ainda não estava preparada para sentir, que era um alívio por uma perda extremamente importante em minha vida. O que eu precisava era de tempo para poder sofrer e sentir tudo o que eu tinha direito.
O fato de encontrar aquelas pessoas queridas e aparentar estar me sentindo bem (mesmo que aparentemente) e completamente "ajustada" à nova situação, de certa maneira, era construtiva, pois ao invés de falarmos sobre tristezas, falávamos de superação e de coisas boas.
Pois, eu também, dentro do meu sofrimento precisava daqueles momentos de trégua para a minha dor. Precisava mesmo era de lembrar dos bons momentos, ou de coisas boas, para quando estivesse sozinha no meu próprio mergulho dolorido, pudesse amenizar a tristeza.
Foi a melhor decisão que tomei na época, aparentar o que não estava sentindo.
Se mostramos o melhor dos nossos sentimentos, mesmo que não seja sentido, as pessoas se sentem felizes e não precisam diagnosticar ou medicar.
Lembrar das coisas boas, nos permite superar as ruins. E assim, eu fui aliviando a minha dor, com as lembranças lindas de minha mãe que amava viver. Então, na época, eu pensei: não vou mais ficar sofrendo pela sua ausência. Vou viver por nós duas. Vou carregá-la comigo aonde eu for.
Por isto eu falo que ser feliz é uma decisão individual. Eu fiz esta escolha.
Mesmo em meus momentos melancólicos eu sou feliz.
Porque aprendi a amar todos os meus sentimentos e senti-los na íntegra.
Para se viver na totalidade o que se necessita, é preciso desses segredinhos entre si mesmo: viver uma coisa e aparentar estar vivendo outra.