As Fortificações Militares de Torres
Uma das qualidades na produção historiográfica de Ruy Ruben Ruschel era sua constante preocupação com o patrimônio material da região de Torres. No ano de 1999, foi publicada a obra Os Fortes de Torres, tratando sobre a cronologia, localização e aspectos materiais das fortificações. Eram as temáticas preferidas deste pesquisador: cultura material e história militar. O naturalista francês Auguste Saint-Hilare em 1820 descreve as construções que estão sendo implementadas para de fato, centralizar e desenvolver as atividades eclesiásticas, administrativas e militares. Era a vila de Torres em estágio embrionário. Para a construção do forte utilizavam a mão de obra escrava dos indígenas aprisionados nas regiões missioneiras.
Um posto militar e fiscal era obrigatório na salvaguarda territorial, por isso Torres no período colonial nasceu de medidas e iniciativas militares. A invasão dos espanhóis em Nossa Senhora do Desterro (atual capital catarinense Florianópolis) forçou as autoridades portuguesas a se defenderem. Assim, construíram o Forte São Diogo das Torres em 1777, para conter o avanço dos espanhóis rumo ao sul. Este forte não tinha dimensões monumentais, era feito de barro, terra e tábuas. Conforme Ruschel estava voltado para o norte, era composto por tenalha de formato quadrangular e dois canhões. No interior haviam seis quartéis, três em cada extremidade e no centro a praça de armas.
A assinatura do Tratado de Santo Ildefonso em 1777, entre Espanha e Portugal, os conflitos territoriais minimizaram e o fortim de Torres fica adormecido exercendo a função de um posto de defesa avançado. Vinte anos após sua criação, o fortim recebe algumas reformas na sua estrutura.
Em 1820, Saint-Hilaire testemunha algumas alterações físicas do Forte. Após o grito da independência em 1822, a fortificação ganha outra conotação. Recebe o título de Presídio e posteriormente de Baluarte Ipiranga em 1824. Segundo Ruschel, foram as ameaças de invasão portuguesa na costa meridional que fez com que os republicanos modificassem o nome e reforçassem o forte com mais dois canhões. As atividades militares das fortificações torrenses foram até cerca de 1840 ou segunda metade do século XIX.
As fortificações de Torres, sem dúvida, deixaram suas marcas no relevo da Torre Norte. Este sítio foi palco de sucessivas ocupações militares, e certamente é um dos sítios históricos de maior relevância para as pesquisas científicas na região. Atualmente, sofreu um intenso processo de antropização, com a ampliação do acesso para o cume do Morro do Farol, a construção de uma escola, uma caixa d’água da CORSAN e pelas casas de veraneio. Há relatos dos moradores da encosta oeste da Torre Norte que mencionam ter encontrado uma espécie de mureta que possivelmente seja do período das fortificações. Projetos de levantamento e salvamento arqueológico são urgentes e necessários a fim de recuperar os vestígios e artefatos que remontam as atividades cotidianas e militares da Vila de Torres em fins do século XVIII e início do século XIX.
Publicado no Jornal Litoral Norte RS