A Rua de Baixo e a Rua de Cima: um Patrimônio Ameaçado
Na Rua de Cima (rua José A. Picoral) e na Rua de Baixo (Rua Júlio de Castilhos) se concentravam os casarios da antiga vila de Torres. Os casarios começaram a ser construídos conjuntamente com o nucleamento da vila no início do século XIX e durante o século XX existiam sobrados coloniais de algumas autoridades locais, a exemplo do sobrado do Padre Lamônaco. Na Rua de Cima, já não há testemunhos materiais do início das atividades balneares em Torres. Esta rua era o centrinho turístico até meados do século XX, pois concentrava a rede comercial e os primeiros hotéis.
Esta rua representa o “modelo de reciclagem arquitetônica” que desconfigurou o centro histórico de Torres. Os antigos casarios deram lugar à prédios e imobiliárias. Atualmente, onde está localizada a Pousada da Prainha era o antigo Posto de Higiene do município de Torres que funcionava na década de 1940. A edificação que ficou conhecida como o Anexo do Farol Hotel (um dos primeiros prédios da cidade) deu lugar à construção de um condomínio vertical de luxo. Esta porção do sítio histórico da comunidade torrense está totalmente modificada. Um avanço nas políticas preservacionistas é o tombamento (ato jurídico de fiscalização e preservação dos bens culturais edificados) dos conjuntos históricos e no caso de Torres, torna-se uma ação emergencial!
A Rua de Baixo era um antigo caminho que cruzava a porção ocidental da Torre Norte. Era percurso obrigatório para os viajantes que cruzavam o litoral. O conjunto das habitações que compunham a configuração incipiente do complexo urbanístico da vila. A Rua de baixo se destacava pelo conglomerado comercial, bares, armazéns, teatro, sede do jornal, presídio entre outras repartições. As casas assentadas na posição leste estavam sobre um barranco de frente para a lagoa. Um pouco abaixo do nível encontravam-se as casas que ficavam de costas para a lagoa. A principal característica das construções deste período é o contínuo segmento de apoio, em que uma residência e outra são conjugadas ou geminadas, aproveitando as mesmas paredes laterais, construídas de pedra e cal. Percebemos o mesmo descaso, dos ocupantes destas residências e da falta de fiscalização dos órgãos responsáveis. Há uma completa descaracterização deste conjunto urbanístico e paulatinamente a população está perdendo seu direito inalienável à memória e a história local!
Publicado no Jornal Litoral Norte RS