Casa velha, Prédio Novo... Uma cidade que vive de Fachada!
Em Torres vivemos o dilema entre o velho e o novo, o antigo e o moderno como se a tradição e os remanescentes do passado fossem os obstáculos para o desenvolvimento econômico e social. Atualmente, devido a revisão do Plano Diretor é comum a utilização da expressão “Torres de Concreto” em alusão à verticalização de certas áreas da cidade. Esta não é uma expressão recente. Em minhas pesquisas, utilizo a análise da historiadora Carini T. Graciano em seu trabalho de dissertação intitulado: “A Torres de Concreto: da expansão turístico- urbana dos anos 70 à crise dos anos 90, um estudo sobre o processo de urbanização em Torres/RS” (disponível na internet). Esta investigação prioriza o processo histórico de constituição do espaço urbano e denuncia o tripé das esferas de poder que tutelam a cidade: a vocação turística que dita as regras, a omissão e consentimento da administração pública local e as construtoras e imobiliárias que colocam “Torres à Venda”. Neste mesmo trabalho à menção sobre as controvérsias da elaboração do Plano Diretor de 1995 e quais setores da sociedade torrense se beneficiaram com o delineamento das decisões.
Em relação ao Patrimônio Histórico e Cultural, principalmente ao que tange a preservação do patrimônio edificado, a comunidade torrense está perplexa! Torres está se transformando numa cidade de fachadas.. vazias e descontextualizadas! E o pior... ainda chamam estas iniciativas de “preservar o que ainda resta do passado”. Para beneficiar a especulação imobiliária, em 1989 foi criada a LEI DAS FACHADAS, permitindo a derrubada e destruição de uma edificação histórica e apenas “manter” e “restaurar” sua fachada. Assim, temos alguns exemplares se espalhando pela zona histórica com resultados catastróficos para o povo torrense. Este processo negligencia o aparato legislativo de defesa do Patrimônio Cultural em âmbito internacional, federal e estadual. É um verdadeiro crime contra nosso direito à memória e ao acesso aos bens culturais locais.
A comunidade torrense e os turistas não reconhecem mais o Centro Histórico e seus casarios centenários. É possível perceber na paisagem urbana a casa velha dando lugar ao prédio novo, as pessoas perdendo suas referências históricas e o tecido urbano se transformando em vigas de concreto. Estamos presenciando um período histórico de negação da própria história em que os interesses privados se sobrepõem aos interesses coletivos e aos nossos direitos constitucionais de exercício da cidadania. Povo torrense, vamos nos unir para preservarmos o que ainda resta do nosso Centro Histórico?
Publicado no Jornal Litoral Norte RS