O MOBILIÁRIO DA CASA DE DEUS

“Sou apenas um "condenado ao pensar" e a Poesia tem sido a voz deste estado de submissão ao qual nem sempre consigo identificar o verdadeiro ou a falsidade. É esta voz a frutificação do mistério, aquela que joga as inquietações espirituais no mundo dos fatos, como verdades de recente criação. E estas trazem felicidade e possivelmente o conceito de utilidade aos leitores, eis que convite à reflexão. Enfim, surge a FARSA LITERÁRIA, e a fantasia se instaura no espírito do autor tal uma flor perfumosa. Um viver causal capaz de ser saudado como a mais nova verdade – aquela surgida do intimismo da intuição criativa. Nos dias atuais, a ARTE DA COMPOSIÇÃO POÉTICA tem feito companhia a mim com forte assiduidade, através da prosa artística. Usualmente este exemplar prosaico é formado por relatos superficiais ou rasos quanto ao fetiche do uso das metáforas, sendo pouco encontráveis. A prosa com poeticidade é um espécime caracterizado pelo sentido conotativo, porém rarefeito de codificação mais intensa, aquele exemplar em que os signos falam num conjunto textual menos hermético, portanto mais facilmente compreensível do que outros em que se constata, de pronto, versos ornados com Poesia. No entanto, a METÁFORA POLIVALENTE – aquela que denuncia a poesia como objeto estético capaz de estranhamentos e gozo, permanece como profundo desafio ao meu esqueleto de ossos ainda resistente e seus remanescentes feixes de músculos, eis que adentrado nos quase setenta ainda com o vício de cantar o viver e suas diatribes, louvando o mundo e o Belo. Cumpro, através da Poesia, um exílio compulsório dentro do vórtice do Mistério. Agradeçamos ao Criador por nos fazer instrumento de descobertas do que pouco ou nada sabemos. A vida – o estar aqui e agora – é dos domínios do Absoluto. A farsa e a fantasia são da natureza da Arte. Afinal, os seres humanos são o mobiliário da casa de Deus. Vez por outra temos de reordenar esforços no sentido de re-arrumar a morada em que vivemos.”. Joaquim Moncks, in O “Cadinho do Mistério”.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/artigos/4795600

– Marilú Duarte, através de e-mail, em 23/07/2014.

O “Cadinho do Mistério” é envolvente e ao mesmo tempo um ensinamento de via dupla, onde a literatura e a psicologia se entrelaçam e se abraçam na fantasia de um acontecer. Fala da técnica e da teoria literárias, mas, ao mesmo tempo fala das escolhas (o exílio compulsório) e das constatações: – Sou apenas um "condenado ao pensar...”. Revela o estranhamento metafórico de um recriar e reformular conceitos acessíveis a toda a diversidade de estilos que se vão construindo ao longo da história. “... a METÁFORA POLIVALENTE...”. – Não será o homem o retrato fiel dessa afirmativa? Não será ele o acontecer, o revolucionário e o criador do mundo fantástico da criatividade e do recriar do eu - individual" que só é permitido mediante um contato com o outro, o escritor e o leitor? Para mim, o que torna perfeito um texto literário é a função poética da linguagem, que ocorre quando a intenção do emissor está voltada para a própria mensagem, com as palavras carregadas de significado: “A farsa e a fantasia são da natureza da Arte. Afinal, os seres humanos são o mobiliário da casa de Deus.”.

– Do livro O IMORTAL ALÉM DA PALAVRA II. Joaquim Moncks / Marilú Duarte, 2013/14.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4893269