O poder da palavra e as relações sociais II
As relações de poder estão intimamente ligadas ao modo como nos expressamos quando buscamos algo de nosso interesse. Seja uma boa colocação no mercado de trabalho ou, na conquista do ser desejado. A palavra pode surtir um efeito positivo ou negativo dependendo de como a utilizamos. Inevitavelmente, as palavras sempre vem carregadas de algum tipo de emoção, daquilo que nos move no momento, por isso, pode ferir às vezes. Marilena Chaui em seu livro: Convite à Filosofia, relata um diálogo entre Platão e Fedro sobre a linguagem. Ela pode modificar realidades, levar à reflexão, ser um "medicamento" para as dores, como foi no caso dos escravos aqui chegados quando utilizavam do canto para atenuar seu sofrimento imposto por aquela terrível realidade. Pode inclusive, perpetuar velhos conceitos. Enfim, saber falar é primordial ao bom convívio em sociedade. De nada adianta reivindicar algo quando não se está disposto a ceder a vez ao outro. O jogo das prioridades sempre leva em conta o aspecto unilateral e isso é um erro fatal.
Ao interferir nas relações sociais, a negociação é algo imprescindível para o progresso da humanidade, e, aos poucos, estamos entrando num processo de "animalização" das relações humanas em que o mais forte ou mais esperto, vence.
A dialógica é o meio utilizado para se estabelecer o contato , a interação, promovendo transformação eficaz. Quem está no poder precisa atentar para um povo que busque a verdade dos fatos onde quer que estiverem, assumindo também sua responsabilidade e saindo do marasmo no qual se encontra. Nunca tivemos um revolucionário de verdade, ou melhor, nunca revolucionamos coisa alguma. Somos réplicas daquilo que nos é imposto pelo poder dominante ideológico que utiliza das palavras através de discursos inflamados de falso patriotismo.
Para os escravos, a linguagem era uma expressão corporal e pessoal, levando-os a unirem-se em torno de um objetivo comum: sua liberdade. É necessário não permitir que a tecnologia nos afaste do mundo real, da convivência social sem a qual nos tornamos incompletos.
Como mais uma vez, Chaui diz: "A linguagem é, assim, a forma propriamente humana da comunicação, da relação com o mundo e com os outros, da vida social e política, do pensamento e das artes."
MARTA SANTOS - ESPECIALISTA EM HISTÓRIA DA ÁFRICA E DA DIÁSPORA AFRICANA