A oralidade e sua herança I
Falar sobre ancestralidade é pensar numa forma de identidade formada através da oralidade. Tem-se como exemplo a África que, pela via da transmissão dos mais velhos aos seus descendentes os valores morais e as conquistas de seus antepassados, podiam perpetuar seus conhecimentos. Tudo isso desencadeava na construção, através da visão religiosa, o equilíbrio do universo, da natureza. As transmissões eram regidas pelo poder da palavra, responsável pela harmonia do cosmos a fim de não contrariar o Criador.
Tal envolvimento definia essa harmonia. A tarefa de contar, transmitir o saber, cabia aos tradicionalistas, considerados guardiões do significado africano da existência. Estes eram conhecidos como tradicionalistas-doma, que dominavam a caça, a pesca, a arte do ferro, etc. Eram conhecedores gerais do mundo, um arquivo vivo dos acontecimentos e das ciências da vida.
A verdade era um fator primordial nesse contexto, não sendo tolerada a mentira, algo a separar o homem de si mesmo, causando uma ruptura no equilíbrio do cosmos. A sabedoria estava presente no modo de vida, na manifestação dos sentimentos, tendo como maior virtude o controle sobre as próprias emoções. Tudo isso era trabalhado desde a infância por meio de parábolas, provérbios, etc;
Tudo isto era resumido no viver de acordo com a palavra, nas atitudes, sendo imprescindível no resultado positivo ou negativo do processo. Bastava ao ser conhecer algumas palavras do Komo e as praticar, para então, ser alguém de valor inquestionável. O uso da palavra como fonte, agregava valores morais e divinos a quem os possuía.