A Dama do Cachorrinho, de Tchékhov

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A Dama do Cachorrinho

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( Trechos de algumas resenhas sobre "A Dama do Cachorrinho" )

"A Dama do Cachorrinho confere a Tchekhov o papel de mestre das miniaturas: histórias curtas que trazem em seu interior toda a profundidade da condição humana."

" Anton Pavlovitch Tchekhov (1860-1904) revolucionou a maneira de escrever narrativas curtas. Grande parte da originalidade de Tchekhov reside no papel fundamental que desempenham, em suas histórias, a sugestão e o silêncio, a ponto de, muitas vezes, o mais importante ser justamente o que não é dito."

" Tchekhov leva o leitor a supor e chegar às próprias conclusões. Não discursa a favor de pontos de vista, mas sugere com argumentos que parecem irremovíveis. É, aliás, interessante perceber como o final do conto não apresenta um clímax ou uma conclusão pronta"

Assim elogiada a concisão narrativa das suas histórias:

"O vigor de Tchekhov está na concisão. Nas suas palavras as letras são riscadas se não tiverem força. Nas suas frases as módicas palavras que existem tem uma necessidade. Enquanto que nos seus poucos parágrafos há somente frases necessárias; e nos seus curtos capítulos somente alguns parágrafos imprescindíveis. Porque Tchekhov abreviava tudo o que podia, até ele mesmo. Pois abreviado ao máximo ele sumia da escrita. E assim esquecemos que ele existe. Para só lembrarmos dele acabada a leitura. Leitor de Tchekhov que aprecia que se digam as coisas de forma verdadeira, sem rodeios ou prévias considerações. Irrita-se se em textos de outros autores encontra adjetivos e advérbios em abundância. Já que procura os verbos e os substantivos. O monólogo interior do mestre russo que era diferente e original. Porque vinha das pausas - das entrelinhas, do subtexto, das palavras que resumiam um parágrafo - e da apropriação indevida do pensamento do leitor como forma de enriquecer o seu texto." (http://theofimper.blogspot.com.br/

Maximo Gorki, amigo de Tchekov, escreveu-lhe:

"Li sua Dama. Sabe você o que está fazendo? Está matando o realismo. E acabará de matá-lo. Em breve há de liquidá-lo por muito tempo. Essa forma já viveu o que tinha de viver – é um fato! Ninguém pode ir mais longe que você por esta senda, ninguém pode escrever com tamanha simplicidade sobre coisas tão simples, como você sabe. Mesmo depois do mais insignificante de seus contos tudo o mais parece grosseiro e escrito, não com a pena, mas com um pedaço de pau. E quanto ao realismo, você vai exterminá-lo mesmo. Estou contente ao extremo. Chega! Diabo que o carregue!

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A editora paulista, Martins Fontes, publicou em 2007 o livro "Sem trama e sem final, de Anton Tchékhov (1860 – 1904), que tem por subtítulo "99 conselhos de escrita"; estas algumas dicas de Tchékhov a outros escritores:

NÃO BURILAR MUITO

"Não retoques, não buriles demais, sê estouvado e audacioso. A brevidade é irmã do talento"

BREVIDADE

" Não deves permitir que cortem e modifiquem os seus contos. Não permitir é difícil, mais fácil é tu mesmo cortar e fazer as modificações. Quanto mais breve fores mais vezes será publicado "

CORTO SEM DÓ

" Minha alma está repleta de preguiça e do sentimento de liberdade. É o sangue que ferve á chegada da primavera. Mesmo assim cuido dos negócios. Estou preparando o material de um terceiro livrinho. Corto sem dó. Pois tudo que leio, meu ou de outrem, parece que não é curto o suficiente "

NÃO CANSAR O LEITOR

" O que pode ser escrito com menos palavras, sem empolamento, evita desviar a atenção do leitor para imaginar coisas desnecessárias"

DESCRIÇÃO DO ESTADO DE ESPÍRITO

DESCRIÇÃO DOS DETALHES

DESCRIÇÃO DAS MULHERES

" Deve-se fazer que ele seja aprendido através de suas ações. "

" Muitos detalhes, ainda que interessantes, cansam a atenção"

" As mulheres devem ser descritas de modo que o leitor sinta que você está de colete desabotoado e sem gravatas, o mesmo deve-se se aplicar a á natureza"

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Rodrigo Ferreira de Lima/ em Estudo dos contos de Tchékhov/"O papel do narrador/citações", destacou alguns ensinamentos do autor russo:

-> O escritor deveria ser testemunha de seus tema e não juiz

-> Novo conceito de narrativa, com o início repentino: ao selecionar um episódio da vida do seu protagonista, entra na sua consciência, e no decorrer da narrativa afeta esta consciência com pequenos detalhes do cotidiano

-> Quanto maior a objetividade mais forte será a impressão

-> O enredo pode até nem existir, já que a narrativa se desenvolve a partir dos conflitos internos dos personagens - é no interior dos personagens que está toda tensão.

-> Nos contos é melhor dizer a menos do que dizer a mais

-> O desmascaramento das aparências: o escritor constrói a narrativa intensificando a imagem, que ao final será desmascarada, num processo característico de frustração.

-> No conto "um casamento enigmático" Waldemar, escritor incipiente, ouve as lamurias de uma senhora sobre a sua infância pobre, o casamento arranjado - ela se coloca como vítima e relata os obstáculos que a impediram de encontrar a felicidade; comovido com o destino desta senhora ele pede que ela revele o que a impediu de ser feliz - "eu olhe imploro, fale", e ela responde: " outro velho rico (demonstra assim suas reais intenções com o casamento)"

-> Pianíssimo era o nome que Tchkhóv dava aos finais inconclusivos e interrogativos, como na Dama do Cachorrinho: onde o tema do conto não é o amor, mas a infelicidade de uma vida infeliz e esvaziada, o que colabora para que os protagonistas superem as aparências e compreendam a poesia da vida

-> Quanto mais a situação é sentimental, tanto mais frieza é necessária para escrever, para que o resultado possa ser mais sentimental

-> Ao fazer a revisão, corte, onde possível, os atributos dos substantivos e dos verbos. Você coloca tantos atributos que fica difícil para a atenção do leitor não se perder, e ele se cansa. É compreensível quando escrevo: “o homem sentou-se na grama”; é compreensível por ser claro e não reter a atenção. Ao contrário, é pouco inteligível e pesado para o cérebro, se escrevo: “um homem alto, de peito cavado, porte discreto e barbicha ruiva sentou-se na grama verde, já pisoteada pelo transeuntes; sentou-se sem fazer ruído, olhando tímida e temerosamente à sua volta”. Isso demora um pouco a entrar no cérebro, e a literatura deve entrar imediatamente, num átimo."

-> na Dama do Cachorrinho são expostos diversos acontecimentos do cotidiano: o primeiro encontro no restaurante; os passeios no balneário; o retorno para casa; os encontros furtivos dos amantes; os acontecimentos apresentam-se como um impulso de tensão, para ilustrar a percepção dos mesmos no interior da personagem.

-> O relato do narrado é feito de modo diferenciado, como se houvesse obtido informações sobre a personagem através de outras pessoas ("dizia-se que havia aparecido á beira mar uma nova personagem: uma senhora com o cachorrinho").

-> Cabe aqui destacar a descrição da natureza, que dos detalhes transmite ao leitor uma ideia de totalidade, bem como a relação de Gurov com a natureza: o olhar do personagem assim faz com que reflita sobre o cotidiano, e neste ato de reflexão o narrador, que antes estava distante, aproxima-se do personagem.

-> As descrições dos detalhes transmitem a ideia da totalidade, e sugerem a relação entre a amplitude do mundo exterior, e a relação com o universos fragmentado do interior dos personagens. Os momentos onde há a descrição da natureza, parecem emergir espontaneamente da consciência do personagem.

-> A Dama do Cachorrinho na íntegra: http://tinyurl.com/keqz73z