Velhice

Nunca desprezamos tanto a velhice quanto em nossos tempos, quando, paradoxalmente, a ansiamos como jamais.

Cem anos atrás, quando a velhice ainda era respeitada, o brasileiro comum morria na faixa dos 30 (acredite), éramos velhos aos 40. Velhos mas respeitados.

Pensam, os tolos, que a velhice é inerentemente ruim, debilitadora; isso é a visão de nossos tempos, unicamente, talvez. Creio que tal crença tenha decorrido de uma alteração de segunda ordem, a seguinte. Até coisa de um século atrás, o mundo permanecia, basicamente, o mesmo ao longo de uma geração. De uns tempos para cá, o conhecimento adquirido durante a vida passou a tornra-se obsoleto antes da morte do cidadão, o que o torna, também, dispensável.

A aceleração das mudanças, no entanto, longe se acentuar o fenômeno, tornará a colocar a experiência em seu devido lugar, por razão simples.

Mudanças muito rápidas tornarão a todos obsoletos sucessivas vezes, havendo vantagem na experiência de já ter passado por isso.

Seja como for, o paradoxo é bastante irônico: desejamos ardentemente e conseguimos obter, aquilo a que desprezamos agora como nunca o fizemos.

Vemos o mundo com nossos olhos e é sempre difícil saber se o que vemos está realmente no mundo, ou se está posto ali por nossos olhos que veem. A velhice traz muitos males já que tudo tem dois lados, mas só temos dado atenção a seu lado ruim. Devemos cultivar e realçar o lado bom daquilo que buscamos, ou teremos unicamente outro lado.