SERES IMAGINÁRIOS
Ah! O que a leitura excita a imaginação!
Luciano da Costa Pereira lendo a obra de Jorge Luis Borges sente-se provocado a agir como ilustrador, e sem descuidar da palavra do mestre sabe que ali tudo se justifica: “ o ponto, a linha, a superfície, o hipercubo, todas as palavras genéricas”. Contudo, se essa é a intenção primeira, o apelo do sangue fala mais alto, liberta-se do texto, esse é apenas o provocador, enfim num processo fragmentário como a colagem ocorre o esquartejamento das figuras, o trabalhar formas e cores no exercício do equilíbrio. O recorte dos elementos coletados irá se transformar no “desenho” idealizado e a fragmentação como necessidade mental na elaboração da imagem, afinal o artista de há muito trabalha no estilhaçamento das formas e na reconstrução desses seres da fantasia, assim partindo dos fragmentos se constitui a imbricação da forma mental.
E que seres são esses? Da mitologia universal através dos tempos, das lendas, do folclore brasileiro, aqueles vistos e não vistos: o baiacu e o boitatá, de uma fauna real, e de outra, talvez irreal.
Palavras, sinais gráficos são associados pelo que aparentam, não por seu significado, fontes de letras, tipos, serifas, beleza das formas em Garamond, Bodoni, Futura, um mundo além da imaginação em superposições aleatórias, se tudo isso é o estudo, o modelo que virá a ser transposto em tela, em que o fundo na cor agregada irá se libertar das amarras do papel Kraft, tendo um resultado idêntico à repetição na execução de uma ópera houve, entretanto o impulso inicial que ficou ali cristalizado, dando vida aos seres imaginários.
Walter de Queiroz Guerreiro
Crítico de Arte ( ABCA/AICA).