Alerta profissional!
Carl Rogers chama de profissionais de ajuda os psicólogos, dos quais ele fazia parte, mas não somente estes.
Ele estendia essa nomenclatura a outros profissionais, como os educadores que centram as suas atividades não na procura da produtividade stricta, mas em relações de trabalho para o crescimento pessoal dos envolvidos nas mesmas.
Ou seja, àqueles profissionais, cujas relações de trabalho estão baseadas na comunicação empática, autenticidade, aceitação incondicional para que o potencial de crescimento pessoal – tendência atualizante se coloque, amplamente, a serviço da criatividade.
Vejo debates sobre as relações entre as pessoas, envolvendo a maioria das dimensões da vida como à relação consigo mesma, as relações profissionais, as relações institucionais, as relações de pais e filhos, de alunos e professores, as relações da família com a escola, as relações de casais..., se generalizado, especialmente, nos meios de comunicação que procuram esclarecer ou orientar às pessoas para uma vida melhor, feliz.
Guardando os devidos condicionamentos provenientes das condições em que ocorrem esses debates, a maioria dos profissionais, baseiam suas falas no aspecto individual das relações, porém direcionado-as a um público generalizado. Por isso o público pode tirar toda sorte de conclusões do que ouvem.
Quando se tratando da responsabilidade da pessoa com a relação que está sendo posta em discussão, as “orientações” que, comumente, vejo são estruturadas da seguinte forma: faça somente aquilo que sentir como bom para você ou se o que está em pauta te interessa investe.
Posso estar errada no meu entendimento, mas, de qualquer modo, fica a reflexão.
Quando suas explanações são confrontadas com os aspectos de veras individuais das relações, a saber: se a criança extrapola o esperado dela, se o patrão explora o empregado, se uma das pessoas da relação amorosa não dá à atenção a outra espera, a receita do velho bem-estar continua em cena, como solução mágica para a correção das infelicidades humanas.
Nas relações de trabalho estabelecidas em épocas de empreendedorismo, como as atuais, o conselho, se assim posso dizer, mais comum é: seja criativo e inovador e ponha seu potencial a serviço da empresa que o seu chefe irá perceber e para não lhe perder irá dar o reconhecimento que lhe é devido e, se mesmo assim, isso não acontecer, converse com ele, francamente e, se não houver entendimento, vá à procura de outra coisa, pois o mercado tem mil e uma possibilidades.
Nas relações de pais com os filhos a dica é construir uma relação de prazer para que tudo vá bem e, se a criança não responder como o esperado faça valer sua prerrogativa de pai, de um jeito, super nane, que, pedagogicamente, não contrarie a criança nem faça os pais se sentirem autoritários e conservadores. Não se considera que nas relações humanas existe uma mediação do poder das partes e que para se encontrar um caminho satisfatório para ambas, no caso da relação adulto criança, demanda da parte adulta segurança advinda da clareza do lugar que se ocupa na relação, firmeza, maturidade para fazer e refazer as ações, capacidade de espera..., capacidade de conviver com a frustração para o adiamento do prazer e, especialmente, esclarecimento e firmeza para não ficar confuso diante dos cantos institucionais ameaçadores que com desculpas generalizadas de defender as crianças da violência A ou B, sendo públicos pretendem gerir também a vida privada. Sendo institucionais pretendem interferir nas relações ainda quando elas estão sendo construídas, em um movimento no qual vejo a efetivação do controle das relações da vida privada pela judicialização da vida, a criação de mercado para poderosa indústria farmacêutica e mercado de trabalho para certos profissionais considerados super-alguma- coisa.
Nas relações amorosas quando há a queixa da falta de atenção da parte do marido ou da mulher para que a relação do casal seja satisfatória as mudanças dos costumes/tempos que se transformaram, especialmente, nos aspectos relativos à carreira são a base para argumentos justificadores das mudanças na relação. Atualmente a satisfação com a carreira é tão importantes quanto com a relação amorosa, igualmente, para homens e mulheres. O tempo precisa ser dividido entre esses e outros interesses e encurta para a mútua dedicação amorosa. Assim, essa desatenção não é, necessariamente, falta de amor.
E essa compreensão, acresce-se uma lista de atitudes que se deve tomar para que a correção dessa queixa de tédio na relação se faça: homens e mulheres cuidem de seus corpos, ponha um perfume novo, prepare um jantarzinho... Invistam na relação se ela interessa realmente.
A lista de indicações é enorme!
Todas as atitudes que, facilmente, se encontram no mercado o necessário para realizá-las que, no momento dão o resultado esperado, pelo qual se repete ou, a partir daquele formato se inventam outras versões até que se esgotem as possibilidades de estimulação e volte-se ao tédio – solidão.
Nada contra os debates ou às indicações dadas durante os mesmos debates, apenas, uma reflexão a respeito dos efeitos que em mim causam e que me põem a pensar.
Interesse, potencial, criatividade para a inovação ou segurança individual para falar francamente ou para investir no que interessa são aspectos da subjetividade que participam da busca do bem-estar individual (e coletivo), porém tais debates parecem não incluir no debate sobre as pessoais os aspectos negativos das relações reais. Parecem considerar somente os aspectos positivos das relações e que as mesmas existem somente com a possibilidade de darem sempre certo.
Não se discute solidão advinda dessas expectativas de mão única, nem a participação responsável pelo o que o outro “senteepensa” ou “pensaesente” uma vez que fazemos parte da rede de construção dos afetos mútuos. Em condições relacionais somos co-responsáveis pelo que vier a acontecer, em termos de afetos realizadores.
Não se inclui na discussão o que é bem-estar para cada um ou para o coletivo. Como pode a ele se chegar, nem qual o grau de participação das condições locais e gerais na construção (ou não) desse bem-estar, bem como, desse estado de não realização pessoal.
Fala-se muito em criatividade, mas não se pergunta sobre o que ela vem a ser.
E sobretudo não se considera que antes dessa positividade superficial há pessoas em relação e, por isso, não são a clareza dos motivos que levaram a insatisfação, nem uma posição de permanente positividade ou aconselhamento de atitudes a tomar que vão encaminhar os impasses das relações, mas uma posição de abertura á experiência daquela relação real, que inclui satisfação e insatisfação, na qual as pessoas passam a ser a questão.
Como as pessoas em relação estão interagindo entre si?
Há abertura (ou não) na relação para as pessoas envolvidas na relação conhecerem os limites e possibilidades umas das outras de forma autêntica/transparente para não ser visto como necessário se parecer o que não se é?
Como a comunicação a respeito desse mútuo conhecimento se faz?
Uma vez respondidas, pelas próprias pessoas envolvidas, questões como as feitas acima, é possível saber em que nível a relação está livre (ou não) de condicionamentos tanto para se fazer prazerosamente/realizadora como para, se interessar autenticamente, re-corrigir a caminhada, o que se distancia profundamente das concepções positivas e prescritivas que tenho ouvido e que muito tem me feito pensar.