Do pseudônimo ao orientalismo: um “caminho das pedras” representativo no labirinto das narrativas de Malba Tahan
José João Bosco Pereira & Maria Ângela de Araújo Resende
http://www.revlet.com.br/index/literatura
RevLet – Revista Virtual de Letras, v. 05, nº 02, ago./dez, 2013
ISSN: 2176-9125
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DO PSEUDÔNIMO AO ORIENTALISMO: UM “CAMINHO DAS PEDRAS” REPRESENTATIVO NO LABIRINTO DAS NARRATIVAS DE MALBA TAHAN
FROM PSEUDÔNYM TO ORIENTALISM: A “PATH OF STONES” REPRESENTATIVE IN THE LABIRIN MALBA TAHAN NARRATIVES
José João Bosco Pereira
Mestre em Teoria Literária e Crítica da Cultura
Universidade Federal de São João Del-Rey
(jbosconato@hotmail.com)
Maria Ângela de Araújo Resende
Doutora em Estudos Literários
Universidade Federal de São João Del-Rey
(mariangela_letras@oi.com.br)1
RESUMO: O presente artigo analisa as questões sobre pseudônimo Malba Tahan de Júlio César de Mello e Souza (1895-1974) em suas obras como O homem que calculava (1997), sucesso editorial entre 1960 a 1997. Questiona-se a interação do pseudônimo com a projeção editorial e com a apropriação da recepção aos elementos do realismo fantástico. O universo híbrido de histórias à oriental que domina as narrativas é o recurso editorial que se justifica diante da recepção no público-ledor. Houve aprofundamento da articulação do imaginário estético e das versões imagéticas do Oriente árabe, judeu e mulçumano, com a irrupção de mitos, lendas e outras micronarrativas em Malba Tahan, porta-voz de um orientalismo engendrado no Ocidente. Hoje, preocupa-se com a leitura dos paradoxos seculares de conflitos culturais. Para responder aos desafios, os conceitos em Benedict Anderson (2008), Edward Said (1978), Homi Bhabha (2007) discutem à apropriação imagética do Oriente exótico na literatura e a mediação de redes sociais. Deste modo, a escritura de Júlio Souza é marcada pela ambiguidade e sua heteronímia como forma de metaforizar o real - estética, cultural, militar e politicamente.
Palavras-chave: Heteronímia; Hibridismo cultural; Orientalismo; Realismo fantástico; Redes sociais ABSTRACT: The present article analyzes the issues about the pseudonym Malba Tahan of Julio Cesar de Mello e Souza (1895-1974) in his work as The man who Counted (1997), editorial success between 1960 to 1997. It is questioned the interaction between the pseudonym with the editorial projection and with the appropriation of elements of fantastic realism. The hybrid universe, stories based on the East side on the continent that dominates the narratives is the editorial resource to justify the reader positive reception... There was a deep articulation of the imaginary aesthetic and the imagetic versions of the East Arabic, Jewish and Muslim, with the irruption of myths, legends and other micro narratives in MALBA Tahan, spokesman of an orientalism dreamed up in the West. Nowadays, there is a certain worry, concerned to secular paradoxes of cultural conflicts reading. To answer to the challenges, the concepts in Benedict Anderson (2008), Said (1978), Homi Bhabha (2007) discuss the ownership of East exotic imagery in literature and the mediation of social networks. Thus, Júlio Souza writing is marked by ambiguity and its heteronomy as form of Metaphor of the real - aesthetically, culturally, militarily and politically.
1 Professora de Literatura Brasileira na graduação e no mestrado (PROMEL-UFSJ).
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RevLet – Revista Virtual de Letras, v. 05, nº 02, ago./dez, 2013
ISSN: 2176-9125
Keywords: Cultural heteronomy; Hybridism; Orientalism; Fantastic realism; Social networks
Introdução
Culturas, literaturas rimam, tensa e antropofagicamente, com arquitetura da psique como labirinto de pulsões criativas e insólitas. Com o Modernismo brasileiro, o crivo “canibal” ou antropofágico mergulha o arquivo europeu sob suspeita na redescoberta de um Brasil sui generis. Esse olhar é renovado à luz do entrelugar na literatura contemporânea. Cabe ao intelectual se posicionar nas dobras inusitadas dos discursos para desconstruí-los, derridaneamente e/ou à luz de Silviano Santiago, o que nos é interpelado historicamente como herança eurocêntrica e construto literário específico da brasilidade e da Americanidade latina. Aqui se inserem os estudos pós-colonialistas, pós-estruturalistas, pós-fenomenologistas, pós-cartesianistas e pós-ilumunistas, dentre outros. Assim, nossas investigações e objetos se tornam centros de mirada e exegese a fim de descortinar outras literaturas e suas relações com a história de produções de intelectuais latino-americanos. Nesse contexto, é que se devem contextualizar os orientalismos, no caso deste estudo, a produção e a recepção de Malba Tahan no Brasil. Perguntamo-nos sobre as questões relevantes nessa literatura que se pretende oriental abaixo dos trópicos e as razões de sua legitimidade ou sua audácia. Com Malba Tahan, percorrem-se as novas configurações de mapas da geopolítica oriental contemporânea, refletindo sobre os conflitos desde as cruzadas, o terrorismo de 21 de setembro de 2001, a Primavera Árabe como o grito de democratização tardia com a inédita mediação das novas tecnologias como as redes sociais e virtuais e a fobia do Ocidente ante a expansão mulçumana na Europa e nas Américas. Agora, em pleno 2013, a Europa, especificamente a França, adotam intervenções militares na África saariana com a emergência de os novos ataques – talvez da Al-Qaeda, em Marrocos, Argélia, Síria e Líbano, a ascensão da China no cenário global, os conflitos de Israel com os palestinos na faixa de Gaza e além dela,....
continuação em http://www.revlet.com.br/artigos/205.pdf
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