A VIDA E A SABEDORIA

Não há como negar o fato de que a vida é um dom de Deus. É uma oportunidade única de adquirirmos a convicção de que vivemos e viemos a este mundo para crescermos e evoluir. Somos seres privilegiados: somente nós, humanos, podemos pensar, raciocinar, usar a linguagem verbal. Como dizia Aristóteles, pensador grego, somente nós podemos usar a palavra.

Somos obras de um Criador, de um grande Arquiteto. Ele nos presenteou com este bem inestimável: a vida, a existência.

A vida é uma graça, uma bênção, um ambiente de aprendizagem. A vida é luta. Como diria o nosso poeta Gonçalves Dias: “... A vida é combate/Que os fracos abate/Que os fortes, os bravos/ Só pode exaltar”. “Viver é lutar”, dizia esse poeta.

A vida é coragem, covardia, medo, reticência, angústia, silêncio. É amor, ódio, revolta, paz, guerra. Como pode existir algo tão indefinível e tão contraditório? Segundo Sartre, filósofo existencialista francês, “a vida é uma paixão inútil”. Eu digo que a vida é indefinível, é mistério. Ela não se deixa prender por palavras. Ela nos escapa; ela nos foge.

Meu amigo leitor, o que você vai fazer da sua vida? Você terá a vida que você escolher. Eu escolho o que nos faz bem. Só não escolho praticar o mal.

Vivemos porque Deus quis e quer. Ele quer o nosso bem, a nossa felicidade. Ele nos dá a liberdade para sermos felizes. A felicidade é um dom e uma escolha pessoal; é um ato de liberdade.

A felicidade não pode ser dada, comprada ou vendida. Há muitos indivíduos ricos infelizes. Há muitos pobres felizes. Há felizes e infelizes em todas as classes sociais, em todos os ambientes.

A felicidade não depende de riqueza. Se fosse assim, muitos ricos e famosos não tirariam a própria vida. A felicidade não depende de status social. Ela depende da “nossa condição íntima, e desta somos nós os amos”, os senhores, como dizia o filósofo Epicuro.

Somos senhores da nossa felicidade. Ninguém pode roubá-la de nós. O que alguém pode fazer é roubar a alegria, por instantes. Alegria e felicidade são coisas muito diferentes. Nem sempre sou alegre, mas sou sempre feliz. A sociedade, no entanto, confunde essas duas coisas. A verdadeira felicidade nasce e mora na interioridade de cada ser humano. Basta saber encontrá-la. O mais importante está dentro de cada pessoa, assim como o mal.

Penso ter respondido a algumas perguntas que eu mesmo formulei há poucos dias (rs). Quem pensou que eu não sabia dizer nada? (rs). Isso, porém, não é tudo. As perguntas que eu fiz não têm respostas acabadas.

Perguntar é uma atitude filosófica fundamental. As perguntas fazem parte do itinerário filosófico. Perguntamos para saber mais, para saber o que outrem pensa. Às vezes, fingimos ignorância (desconhecimento), para podermos descobrir o pensamento de alguém. Era assim que Sócrates agia no início dos diálogos dos quais ele participava.

Às vezes, conseguimos muito mais fazendo as perguntas adequadas, no(s) ambiente(s) certo(s). Perguntas bem elaboradas conseguem a exteriorização de respostas que se encontram quietas em alguém. Através de boas perguntas, nós conseguimos ver a coragem, a ingenuidade, a verdade, a mentira, o medo, a tentativa de fuga ou outra coisa do interlocutor.

Quem sou eu? Assim como os demais da minha espécie, eu sou um ser único e irrepetível. A minha espécie me classifica como ser humano. Penso, imagino, quero, não quero, duvido, choro, rio. Faço as mesmas coisas que Descartes, outro filósofo francês, dizia fazer.

Deus nos deu inteligência para pensar e entender o mundo. Não sou apenas um poeta; isso seria muito pouco. Muitos poetas viveram na ilusão, no mundo da lua. Muitos vivem na mesma situação. Eu sou um ser pensante e religioso. A minha poesia é instrumento de expressão da vida. Por isso, não me compare com esses poetas. Eu não fantasio; não gosto de fantasia. Toda a minha criação é baseada na realidade, ainda que eu erre em determinadas suposições. Às vezes, acerto. Sou um ser pensante e religioso que se expressa através da poesia. Eis algo muito importante!

Devemos exercer a arte de pensar. “Ninguém pode pensar nem decidir por nós. Ninguém pode viver a nossa vida”, afirmava Sartre. Somos responsáveis por nós mesmos. Somos “obrigados a ser livres”, dizia esse pensador. Isso significa que eu não escolhi nascer. Visto que nasci, tenho de escolher entre uma coisa ou outra. Estou sempre escolhendo. Quando eu decido ficar, isso é uma escolha, é uma decisão. Cecília Meireles já dizia: “Ou isto ou aquilo... e vivo escolhendo o dia inteiro”.

Infelizmente, muitas pessoas não gostam de pensar por si mesmas. Preferem delegar essa função a padres, pastores, chefes políticos, professores, pais, amigos. Preferem que outros indivíduos pensem por elas. Kant, pensador alemão, dizia que deixar os outros pensar por nós é mais cômodo; não dá trabalho; é confortável; não traz riscos. É mais fácil evitar o esclarecimento. O esclarecimento exige autonomia do indivíduo.

Agora, começo a discorrer sobre a sabedoria. Esta é um tesouro e uma necessidade. Cuidado: sabedoria e conhecimento são muito diferentes. Alguém poderá ter apenas um dos dois, ou os dois juntos.

Para o filósofo grego Pitágoras, o primeiro a usar a palavra filosofia, a sabedoria é atributo exclusivo dos deuses. No nosso caso, de Deus. Segundo esse pensador, o que o homem pode fazer é amar a sabedoria, desejá-la, buscá-la, tornando-se, pois, filósofo. Por isso, o filósofo é um amante da sabedoria. É esse o significado original da palavra filósofo.

Muitos indivíduos, mesmo possuindo elevada instrução, não sabem o que fazer com a própria vida. Muitos chegam ao absurdo de tirá-la. Não conseguem aprender com as perdas, as derrotas e, às vezes, com as vitórias. Eis a importância do esporte: para o indivíduo aprender a perder.

É preciso saber perder. É preciso saber ser derrotado. Ninguém deseja perdas, derrotas. Entretanto, ninguém consegue viver sem perder. Ninguém vive sem ser derrotado. Eu, por exemplo, ganho e perco constantemente. Isso faz parte do curso da vida. É normal. Já perdi e ganhei muito. Quero continuar perdendo e ganhando muito. Nisso consiste a vida, a existência. Isso é atitude de sabedoria; é humildade.

Precisamos aprender a observar, a falar, a calar. Precisamos aprender a arte de viver.

A sabedoria será sempre necessária; será sempre um tesouro a ser conquistado. Eu amo a sabedoria. Quero conquistá-la. É ela que me mostra o medo, a covardia, a hipocrisia, a indiferença, o amor, o ódio das pessoas.

Segundo Platão, este não é o mundo verdadeiro; é o “mundo das aparências”, da ilusão. Muitos vivem apegados ao dinheiro; outros vivem apegados a si mesmos, ao preconceito, ao aspecto exterior. Esses nunca conseguirão a sabedoria, se permanecerem assim.

Parece-me que muitas pessoas não defecam; não gripam; não precisam tomar banho três vezes ao dia; não precisam aparar os pelos das axilas, para não federem (homens e mulheres); não adoecem, não morrem. Essas pessoas vivem como se fossem eternas. Será que essas pessoas estão acima dos normais? Parece-me que muitas não enxergam a própria fragilidade, suas mentiras, ilusões. São pessoas que passam por esta vida, e não aprendem.

A sabedoria nos ensina a ver a inutilidade e a insignificância do orgulho, da arrogância. Agir com sabedoria é reconhecer os próprios limites e potencialidades. Significa ser humilde. A humildade não é submissão; não é ficar calado diante das injustiças. Jesus foi e é humilde e manso de coração, mas não se calou. Humildade não é sentimento de inferioridade; é a atitude de se enxergar, de se ver como se é, sem acrescentar nem retirar nada.

O orgulhoso não ama a sabedoria; não vê que a vida é passageira. A pessoa orgulhosa não reconhece que, a qualquer momento, poderá quebrar, devido à própria fragilidade. Hoje eu me pergunto: onde está a superioridade de Hitler? Onde está o poder de Herodes? Onde está o padre que me perseguia? Onde está o poder dele? Acabou-se. Findou-se. Hoje, esse padre é pó. Que ele esteja em paz! Eu, também, um dia não estarei mais aqui. Não sei até quando viverei. É Deus quem sabe. É Deus o dono da vida. Eu amo a vida. Sou apaixonado pela vida, mas não sei até quando a terei.

Eis um ensaio sobre a vida! Eis um ensaio sobre a sabedoria! É isso! É muito mais do que isso!

Um forte e cordial abraço!

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 28/05/2014
Reeditado em 29/05/2014
Código do texto: T4823852
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.