XVII- MAÇONARIA- A MENTE UNIVERSAL
A informação primordial
O universo pode ser visto como um todo que se integra a partir de suas individualidades, obedecendo ao movimento de suas consciências particulares, o que quer dizer que tudo nele é consciente, todas suas parcelas possuem informação própria, as quais trocam entre si, e dessa interação informativa ele se formata. É nesse sentido que a água que evapora se transforma em nuvens, estas em chuva, a chuva em lençóis de água, estes em rios, que correm para o mar, e assim por diante, num eterno ciclo de energias em movimento. É dessa forma, também, que a vida se alimenta de si mesma, e busca sua finalidade, a partir de uma informação primordial que nela foi posta pelo Criador, já na primeira manifestação desse fenômeno. Essa informação primordial, que a ciência biológica chama de DNA, a ciência física chama de Partícula Primordial (bóson de Higgs), a filosofia aristotélica chama de Enteléquia.
- Acido desoxirribonucléico (DNA ou ADN) é o nome científico dado á chamada molécula longa, formada pela junção de um grande número de ácidos nucléicos e que contém a informação genética codificada do organismo segundo a sua espécie. Na sua estrutura, o DNA é uma composição de macromoléculas, contendo diversos tipos de ácidos proteicos e nucléicos ligados em cadeia. Os monômeros das proteínas são os aminoácidos, os nucleotídeos são os monômeros dos ácidos nucléicos. O DNA é a base da nossa estrutura biogenética.
- Bóson de Higgs é o nome dado á partÍcula elementar surgida no primeiro momento de vida do universo físico. É a primeira partícula gerada logo após o Big Bang, e que contém a estrutura padrão das partículas energéticas que formam o universo. Sua existência fora detectada pelo físico britânico Peter Higgs, em 1964 e foi confirmada por experiências de laboratório feitas em 14 de maio de 2013. [O bóson de Highs, metaforicamente chamado de “Partícula Deus” é tido como chave para explicar a origem da massa das outras partículas elementares.
- Enteléquia é um termo da filosofia aristotélica que designa a energia que o Criador concedeu a todos os seres da natureza para levá-la à sua forma mais perfeita. Formada pelo prefixo en (o que está dentro), o substantivo télos (objetivo, realização, acabamento) e o radical do verbo ékhô,(trago em mim, possuo), o vocábulo grego entélékhéia significa a qualidade do ser que tem em si mesmo a capacidade de promover o seu próprio desenvolvimento. No ser humano pode ser entendida como a força que o leva a enriquecer o espírito através da aquisição do conhecimento e também a capacidade que o organismo humano tem de promover o seu próprio desenvolvimento em termos físicos.
Trata-se de um conceito filosófico bastante complexo, que nem mesmo entre os estudiosos da filosofia aristotélica encontra muito consenso. Leibniz o utilizou para indicar as substâncias simples ou mônadas criadas, que contém certa perfeição ou auto-suficiência interna, o que as torna autônomas em suas ações, ou na sua própria expressão, elas são "autômatos incorpóreos" (Monadas, § 18). Na filosofia contemporânea, esse termo é utilizado pelo biólogo Hans Driesch, que através dele justifica o seu conceito de vitalidade, presente nos seres vivos. Dessa forma, Enteléquia é o princípio da vida nos seres animados: equivale ao fator primordial, que se reduz a agentes físicos-quimicos na composição do universo físico.
Ordem no Caos
Podemos assim dizer dizer que universo resulta da energia em movimento. Einsten resumiu esse postulado na sua famosa equação que mostra a equivalência entre massa e energia: E= mc², o que quer dizer que em toda massa existe uma quantidade de energia equivalente.
O organismo humano, a exemplo das demais realidades físicas do universo, também é uma massa que concentra energia. No universo, por força da lei da aceleração da energia, as massas se formam e preenchem o espaço cósmico. Surgem então as grandes massas estelares (nebulosas, galáxias, sistemas solares e planetas), que se agrupam por atração gravitacional. Da mesma forma, as espécies vivas se massificam e se agrupam por força das atrações que ocorrem entre elas. Mas seja nas grandes massas estelares, seja nas camadas que formam a vida, há um movimento para fora (que as leva a desenvolver em massa) e outro para dentro, que converge para um ponto cada vez mais denso de energia concentrada. Esse ponto é o que podemos chamar de espírito.
Destarte, matéria e espírito são os dois lados de uma moeda que só existem em conjunção. Teilhard de Chardin, em nossa opinião, o mais original dos filósofos do século vinte, descreve bem esse processo quando vê o movimento do cosmo para fora ─ em direção ao imenso ─ e para dentro, em direção a uma espiritualização coletiva do mundo. Em ambos os casos, trata-se de energia em movimento, uma se expandindo por força da impulsão, outra se contraindo, se enrolando sobre si mesma, por força da atração. Assim temos um universo físico se formatando no imenso, e um universo espiritual se concentrando no ínfimo.[2]
Dessa forma, o caos inicial, o universo gerado pelo Big-Bang, que era pura energia sem massa, forma ou direção, vai se aglutinando, se formatando, se direcionando para um fim determinado. E por trás desse processo há que existir uma Vontade a dirigi-lo. Uma Vontade colocando Ordem no Caos.
A visão mística da Cabala e da Teosofia
A mística da Cabala e da Teosofia vê o universo sendo construído segundo um processo planejado por uma Vontade e com uma finalidade pré-determinada por ela. Para os teóricos da Teosofia, Deus é o Espírito Supremo que une a alma do homem com o espírito puro do universo (a luz). Isso porque, tanto o espírito do homem quanto a partícula elementar que dá vida ao universo são feitos de luz. Nesse ponto, as descobertas dos cientistas casam-se perfeitamente com as intuições taumatúrgicas dos místicos.
Para a Teosofia, Deus atua como se fosse um Arquiteto que traça, através de leis naturais e morais os contornos do universo e os anjos e os homens são seus Mestres construtores e pedreiros. Entre os anjos há diversos grupos e hierarquias que trabalham os planos construção do universo e administram essa construção. O primeiro grupo de Mestres (Anjos construtores) se ocupa da criação e da evolução dos sistemas planetários (o cosmo). O segundo grupo é o construtor da nossa cadeia planetária (o sistema solar). O terceiro grupo é o construtor da nossa humanidade e protótipo macrocósmico do microcosmo. Os espíritos planetários animam os astros e os planetas em geral. Os Lipikas (anjos construtores) são os espíritos do universo. (...). Na união com Cristo, a Mônada volta ao seio do Logus. [3]
Esse discurso esotérico busca mostrar, de uma forma simbólica e iniciática, como o universo se constrói, por dentro e por fora. Por dentro, formatando um espírito, que é a totalidade das manifestações das consciências universais, as quais produzem uma espécie de camada energética que mantém a vida da humanidade sempre ativa e buscando novas formas de realização; e por fora, o universo se constrói em suas formas físicas e materiais, sempre em função da atração e da interação entre seus elementos (átomos).
Nesse processo, que encontra paralelo também nos ensinamentos da Cabala, há uma Vontade que tudo administra e controla. Essa Vontade é a Mente Universal, ou seja, o Grande Arquiteto do Universo. Essa visão foi adotada pela Maçonaria espiritualista para simbolizar a sua prática, calçada na simbologia da construção. É nesse sentido que os maçons entendem que a missão do espírito humano é precisamente essa: atuar, consoante a Vontade do Grande Arquiteto do Universo, para colocar ordem nesse aparente caos que parece ser o universo em suas múltiplas dimensões. Daí a divisa fundamental da Ordem Maçônica “Ordo ab Chaos”.
[1] Ver nossa obra Mestres do Universo- Biblioteca 24x7- 2011
[2] O Estruturalismo, filosofia desenvolvida por Teilhard de Chardin e seus seguidores, vê o mundo como um movimento convergente que começou num ponto único, extremamente denso, de energia e começou uma expansão para fora de si mesmo, gerando o universo físico. No sentido inverso, ele converge para dentro de si mesmo, gerando a realidade espiritual. Nesse sentido, o universo de Chardin é um processo energético que saiu de Deus e converge, de novo para Ele, para um fim (o Ponto Ômega) que também foi seu começo, e de onde tudo recomeçará de novo. O Estruturalismo é uma filosofia que procura conciliar a filosofia com a ciência e integrar nesse conhecimento as intuições místicas dos escritores dos livros sagrados.
[3] Por isso diz o Evangelho de João 1: 4; 5 “ No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus, o Verbo era Deus;(...). Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens.”