A CONSCIÊNCIA UNIVERSAL
A concepção gnóstica do universo
De acordo com os gnósticos, de ontem e de hoje, o mundo é pensado por um Espírito Supremo e construído por espíritos delegados. Por Espírito Supremo devemos entender o Grande Arquiteto do Universo. Os espíritos delegados são os anjos e os homens, respectivamente. Essa visão, que é nitidamente cabalística, repercute na maçonaria, como um dos seus mais significativos simbolismos.
Em tese, existe bastante analogia entre o pensamento gnóstico e as teorias dos físicos modernos a respeito da formação e desenvolvimento do universo. Em alguns sistemas gnósticos as várias emanações de Deus são chamadas por diversos nomes. Os mais conhecidos são Mônada e Eons. Mônada (monos, único), é a primeira susbstância, préexistente e incriada. (Aieon Teleos). Eons (numa analogia com as teorias da física moderna), pode ser entendido como “átomos” do pensamento de Deus. Dentro desses seres (ou átomos) primordiais, os filósofos gnósticos identificaram a existência de diversos fundamentos, sobre os quais o universo (material e espiritual) é construído. A esses fundamentos foram dados nomes como Ennoea (Pensamento), Charis (Graça), Sige (Silêncio) Caen (Poder), Akhana (Verdade, Amor).
Os eons, na doutrina gnóstica, frequentemente, aparecem em pares masculino/feminino chamados sizígias, e são bastante numerosos. A sua multiplicação, gerando o universo material, é chamado de Panespemia, ou seja, o universo sendo gerado pelo esperma divino. Dois eons frequentemente listados na filosofia gnóstica são identificados como Jesus e Sophia. Esses eons teriam assumido a condição humana para o cumprimento de uma missão específica. Quando unidos, os eons masculino e feminino constituem o Pleroma, uma "região da Luz”, onde vivem os seres lumi-nosos. As regiões abaixo do Pleroma estão mais perto da escuridão, como o mundo físico. Segundo algumas tradições gnósticas, o nascimento do universo físico ocorreu do seguinte modo. O eon chamado Sophia emanou (pariu) sem o seu eon parceiro, um eon bastardo, chamado “Demiurgo”, ou semi-criador (às vezes chamado de Ialdabaoth nos textos gnósticos e cabalísticos).[1]
Essa foi uma emanação “que nunca deveria ter sido produzida”. Esse “ser cósmico” abastardado nunca pertenceu ao Pleroma, ou seja, foi gerado fora da zona de luz. Foi esse ser que criou o mundo material, o qual, em razão disso, também é uma região “fora da zona de luz”. Por isso, o Uno (Deus), o Eon primeiro e fundamental, emanou dois eons, Cristo e o Espírito Santo, para salvar o homem do poder do Demiurgo. Esse eon (Cristo) tomou a forma de ser humano (Jesus) para poder ensinar aos homens como adquirir a Gnose, e assim retornar ao Pleroma (a zona de luz). [2]
Uma das interessantes concepções a gnose é a de que o espírito sofre a oposição da matéria. Nesse sentido, espírito e matéria assemelham-se aos dois burricos da fábula. Cada um quer seguir direção contrária em busca do seu próprio monte de feno. Só quando se juntam eles descobrem que são complementos um do outro, e que o objetivo de suas vidas é formar um conjunto equilibrado. E quando isso acontece, conseguem vencer a repulsão que os separa, e aí se tornam uma unidade, que é o “ser”. [5]
O que dizem a teosofia e a cabala
Segundo a Teosofia, (doutrina desenvolvida por Helena P. Blavatsky, também conhecida como Doutrina Secreta), os átomos (jivas), são almas, centros de vitalidade potencial, com inteligência latente em si. Os antigos filósofos atomistas acreditavam que os átomos eram “animados”, pois eles eram impelidos por “átomos maiores, mais puros” (divinos). Essa idéia também encontra paralelo na doutrina da Cabala, que fala na existência de anjos, arcanjos, querubins e serafins, uns maiores, outros menores, todos interligados em relação de função e subordinação, semelhante a um sistema solar, que pode ser representado por um átomo com seus elétrons, girando em torno de um núcleo. Esses arcanjos seriam as “inteligências” que presidiriam a construção do universo físico. Na estrutura cabalística eles se dividem em Ordens, cada Ordem com seu presidente, gerindo a construção e a evolução do cosmo e do próprio desenvolvimento da humanidade.[6] Nesse sentido, o que chamamos de alma pode ser entendido como uma espécie de elétron, preso ao seu centro material, e seu movimento em volta desse núcleo gera calor e luz (pensamentos e ações). Essas noções, antes tratadas de forma puramente esotérica, hoje é objeto da nova ciência chamada noética, que procura provar, de forma científica, a existência de energias transcendentais, especialmente aquilo que chamamos de mundo espiritual.[7]
. A noética (em grego nous) é a ciência que se refere a tudo que tem a ver com o pensamento humano, especialmente no que tange ao seu objetivo e significado cósmico. O têrmo deriva da filosofía de Aristóteles, que definiu essa ciência como sendo a doutrina da inteligência humana, ou seja, a função do intelecto na sua capacidade de intuir as realidades universais.
Através do conhecimento o homem pode transpor a barreira da matéria e atingir o mundo do espírito, encontrando a salvação. Essa é a esperança gnóstica de ontem e de hoje. Nesse processo, a mente humana tem que superar a fase dos burros que querem andar em diferentes direções, isto é, tem que combinar sabedoria com inteligência.[8]
Inteligência para compreender o processo e sabedoria para utilizar o que aprendeu. Essa é a chamada ”ciência com consciência”, de que falava o iniciado Rabelais.[9]
A limitação materialista
Os materialistas, por sua vez, sustentam que todos os seres são produtos da matéria e a totalidade do que existe no universo pode ser observado, catalogado, descrito e entendido pela razão humana. As transformações que as coisas e os seres sofrem são resultados das interações que ocorrem entre eles, externamente, e nas suas próprias estruturas, internamente. Seus desenhos externos e internos são reflexos das informações produzidas pelas ocorrências ambientais e pelas reações que os seres e as coisas dão a elas. Assim, tudo que existe no universo seria produto e subproduto de interações entre átomos e moléculas, e das consequências que essas interações produzem.[10]
Mas se uma árvore, uma nuvem, um rio, da mesma forma que os organismos vivos, subsistem por si mesmos, conservam suas formas e se reconstroem eventualmente, isso ocorreria se esses objetos não tivessem um estofo, um lado interno, que reage por conta de um subsídio próprio, natural, originário deles mesmos, ou de uma força exterior a eles, e não de informações neles inoculadas a partir do exterior?
Se tudo que existe, como querem os materialistas, fosse produto de movimentos espontâneos, coordenados por leis exclusivamente naturais, como poderia o rio formar um conjunto ordenado de moléculas de água num movimento contínuo de união, que envolve, inclusive, a circunvolução das nuvens, e integra também o comportamento da árvore no seu movimento á procura de água?
Quem informa as moléculas de água para se agruparem em rios e se movimentar em direção ao mar ou a um lago? Quem diz ás nuvens para se juntarem e se dissolverem, ou ás árvores para procurarem, em movimentos biaxiais, a luz do sol numa direção, e a água e os nutrientes da terra, em outra direção?
Na verdade, o rio não é um ser, não subsiste por si mesmo, e uma molécula de água não faz um rio. Mas um conjunto de moléculas em interação entre si forma uma corrente e dessa união entre elas surge o rio. O rio existe como função das moléculas associadas. São elas, individualmente consideradas, que têm o sentido de corrente e esse sentido é uma “consciência” de agrupamento, construída para realizar o fim específico de formar uma corrente.
Tudo o que acontece no universo, acontece em razão de um movimento de consciências que interagem e buscam complemento para “ser”. É o seu interior que as impulsiona para criar as realidades universais. Há dentro delas uma “vontade de composição” nos desenhos universais que formatam o mundo fenomênico. É a essa “vontade” interior, que nos seres vivos chamamos de Alma e nos seres brutos de Substância, que Aristóteles chama de Enteléquia.[11]
Tudo que já foi, é e será já existe em estado latente no universo. Nada é “criado”. Tudo é produto de manifestações da interação matéria\ espírito. Isso justifica o postulado segundo o qual “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, famoso axioma de Antoine-Laurent de Lavoisier, (1743 — 1794), grande químico e filósofo iluminista francês, considerado o criador da Química moderna. Esse postulado é válido também para as realidades espirituais, o que nos leva à admitir a existência de alguma forma de vida após a morte, pois como nos tem mostrado as recentes descobertas da ciência chamada noética, o nosso espírito tem massa, e conseqüentemente, ele é alguma forma de energia. Assim, segundo o princípio de Lavoisier, ele também não desaparece, mas apenas se transforma.
Isso quer dizer que cada átomo da matéria universal possui em si mesmo a centelha da consciência, por isso é um universo em miniatura; nesse sentido, é um átomo e um anjo, no dizer de Madame Blavastsky.[12]
É nesse sentido que consideramos o materialismo um sistema de crenças muito pobre para explicar o sentido da vida e o que ela representa na história e no destino do universo como um todo. [13]
A concepção gnóstica do universo
De acordo com os gnósticos, de ontem e de hoje, o mundo é pensado por um Espírito Supremo e construído por espíritos delegados. Por Espírito Supremo devemos entender o Grande Arquiteto do Universo. Os espíritos delegados são os anjos e os homens, respectivamente. Essa visão, que é nitidamente cabalística, repercute na maçonaria, como um dos seus mais significativos simbolismos.
Em tese, existe bastante analogia entre o pensamento gnóstico e as teorias dos físicos modernos a respeito da formação e desenvolvimento do universo. Em alguns sistemas gnósticos as várias emanações de Deus são chamadas por diversos nomes. Os mais conhecidos são Mônada e Eons. Mônada (monos, único), é a primeira susbstância, préexistente e incriada. (Aieon Teleos). Eons (numa analogia com as teorias da física moderna), pode ser entendido como “átomos” do pensamento de Deus. Dentro desses seres (ou átomos) primordiais, os filósofos gnósticos identificaram a existência de diversos fundamentos, sobre os quais o universo (material e espiritual) é construído. A esses fundamentos foram dados nomes como Ennoea (Pensamento), Charis (Graça), Sige (Silêncio) Caen (Poder), Akhana (Verdade, Amor).
Os eons, na doutrina gnóstica, frequentemente, aparecem em pares masculino/feminino chamados sizígias, e são bastante numerosos. A sua multiplicação, gerando o universo material, é chamado de Panespemia, ou seja, o universo sendo gerado pelo esperma divino. Dois eons frequentemente listados na filosofia gnóstica são identificados como Jesus e Sophia. Esses eons teriam assumido a condição humana para o cumprimento de uma missão específica. Quando unidos, os eons masculino e feminino constituem o Pleroma, uma "região da Luz”, onde vivem os seres lumi-nosos. As regiões abaixo do Pleroma estão mais perto da escuridão, como o mundo físico. Segundo algumas tradições gnósticas, o nascimento do universo físico ocorreu do seguinte modo. O eon chamado Sophia emanou (pariu) sem o seu eon parceiro, um eon bastardo, chamado “Demiurgo”, ou semi-criador (às vezes chamado de Ialdabaoth nos textos gnósticos e cabalísticos).[1]
Essa foi uma emanação “que nunca deveria ter sido produzida”. Esse “ser cósmico” abastardado nunca pertenceu ao Pleroma, ou seja, foi gerado fora da zona de luz. Foi esse ser que criou o mundo material, o qual, em razão disso, também é uma região “fora da zona de luz”. Por isso, o Uno (Deus), o Eon primeiro e fundamental, emanou dois eons, Cristo e o Espírito Santo, para salvar o homem do poder do Demiurgo. Esse eon (Cristo) tomou a forma de ser humano (Jesus) para poder ensinar aos homens como adquirir a Gnose, e assim retornar ao Pleroma (a zona de luz). [2]
- Nessa área específica, que constitui o espiritualismo, parece que o esoterismo e a ciência física estão se dando as mãos. É o espírito sendo entendido através das descobertas científicas e a ciência sendo enriquecida na mesma proporção pelas intuições da sensibilidade humana. Nesse sentido, matéria e espírito são apenas polos opostos da mesma corrente energética. Uma não pode existir sem a outra, nem desenvolver-se por si mesma. Talvez elas se desenvolvam em sentido contrário uma á outra, como intuiu o grande Teilhard de Chardin ─ a matéria se desenvolvendo para fora, no sentido do imenso, formatando o universo físico, e o espírito se desenvolvendo para dentro, no sentido do ínfimo, formatando o universo espiritual ─, mas de qualquer modo, são grandezas que se sustentam uma á outra, obedecendo a um processo. [3]
- Gnose significa sabedoria, iluminação, conhecimento das coisas divinas através da especulação metafísica e não através de revelações divinas. Esse termo tem sido utilizado na história do pensamento religioso para designar o conhecimento esotérico perfeito das coisas divinas, transmitido através da tradição e dos ritos iniciáticos. Em filosofia, designa uma escola de pensamento que apareceu no primeiro século do Cristianismo, tendo alcançado o apogeu entre os séculos II, III e IV, desaparecendo praticamente por volta do século V, quando a Igreja de Roma conseguiu impor sua autoridade por todo o império romano, através das disposições do Código de Justiniano. As chamadas doutrinas gnósticas foram consideradas heresias e atiradas á clandestinidade. Com a descoberta dos documentos da biblioteca de Nag Hamadi, as doutrinas gnósticas voltaram novamente a ser estudadas e sofreram uma súbita revalorização, principalmente as que se referem aos primeiros anos do cristianismo, cujos textos mostram um Jesus Cristo bem diferente que os evangelhos canônicos sempre divulgaram. [4]
Uma das interessantes concepções a gnose é a de que o espírito sofre a oposição da matéria. Nesse sentido, espírito e matéria assemelham-se aos dois burricos da fábula. Cada um quer seguir direção contrária em busca do seu próprio monte de feno. Só quando se juntam eles descobrem que são complementos um do outro, e que o objetivo de suas vidas é formar um conjunto equilibrado. E quando isso acontece, conseguem vencer a repulsão que os separa, e aí se tornam uma unidade, que é o “ser”. [5]
O que dizem a teosofia e a cabala
Segundo a Teosofia, (doutrina desenvolvida por Helena P. Blavatsky, também conhecida como Doutrina Secreta), os átomos (jivas), são almas, centros de vitalidade potencial, com inteligência latente em si. Os antigos filósofos atomistas acreditavam que os átomos eram “animados”, pois eles eram impelidos por “átomos maiores, mais puros” (divinos). Essa idéia também encontra paralelo na doutrina da Cabala, que fala na existência de anjos, arcanjos, querubins e serafins, uns maiores, outros menores, todos interligados em relação de função e subordinação, semelhante a um sistema solar, que pode ser representado por um átomo com seus elétrons, girando em torno de um núcleo. Esses arcanjos seriam as “inteligências” que presidiriam a construção do universo físico. Na estrutura cabalística eles se dividem em Ordens, cada Ordem com seu presidente, gerindo a construção e a evolução do cosmo e do próprio desenvolvimento da humanidade.[6] Nesse sentido, o que chamamos de alma pode ser entendido como uma espécie de elétron, preso ao seu centro material, e seu movimento em volta desse núcleo gera calor e luz (pensamentos e ações). Essas noções, antes tratadas de forma puramente esotérica, hoje é objeto da nova ciência chamada noética, que procura provar, de forma científica, a existência de energias transcendentais, especialmente aquilo que chamamos de mundo espiritual.[7]
. A noética (em grego nous) é a ciência que se refere a tudo que tem a ver com o pensamento humano, especialmente no que tange ao seu objetivo e significado cósmico. O têrmo deriva da filosofía de Aristóteles, que definiu essa ciência como sendo a doutrina da inteligência humana, ou seja, a função do intelecto na sua capacidade de intuir as realidades universais.
- Segundo a Teosofia “Os Filhos da Luz” (os átomos) nascidos da Mente do Primeiro Raio Manifestado do Todo Desconhecido, constituem a raiz do universo físico e também Homem, tanto físico quanto espiritual. Essa fórmula também se aplica aos entes celestes. São todos feitos da mesma essência de que são feitos os homens. O que os distingue são as etapas de sua evolução. Eles já superaram a etapa da vida humana. Não se chega à divindade sem primeiro passar pelo estado humano. Esse processo é necessário para se adquirir equilíbrio entre o espírito e a matéria. A humanidade atual passou o ponto médio da Quarta Raça Raiz, na Quarta Ronda, e adquiriu uma “mente”. Essa, por esforço próprio (livre arbítrio), deve conquistar o direito de converter-se em espírito e depois divinizar-se tornando um espírito de luz.
Através do conhecimento o homem pode transpor a barreira da matéria e atingir o mundo do espírito, encontrando a salvação. Essa é a esperança gnóstica de ontem e de hoje. Nesse processo, a mente humana tem que superar a fase dos burros que querem andar em diferentes direções, isto é, tem que combinar sabedoria com inteligência.[8]
Inteligência para compreender o processo e sabedoria para utilizar o que aprendeu. Essa é a chamada ”ciência com consciência”, de que falava o iniciado Rabelais.[9]
A limitação materialista
Os materialistas, por sua vez, sustentam que todos os seres são produtos da matéria e a totalidade do que existe no universo pode ser observado, catalogado, descrito e entendido pela razão humana. As transformações que as coisas e os seres sofrem são resultados das interações que ocorrem entre eles, externamente, e nas suas próprias estruturas, internamente. Seus desenhos externos e internos são reflexos das informações produzidas pelas ocorrências ambientais e pelas reações que os seres e as coisas dão a elas. Assim, tudo que existe no universo seria produto e subproduto de interações entre átomos e moléculas, e das consequências que essas interações produzem.[10]
Mas se uma árvore, uma nuvem, um rio, da mesma forma que os organismos vivos, subsistem por si mesmos, conservam suas formas e se reconstroem eventualmente, isso ocorreria se esses objetos não tivessem um estofo, um lado interno, que reage por conta de um subsídio próprio, natural, originário deles mesmos, ou de uma força exterior a eles, e não de informações neles inoculadas a partir do exterior?
Se tudo que existe, como querem os materialistas, fosse produto de movimentos espontâneos, coordenados por leis exclusivamente naturais, como poderia o rio formar um conjunto ordenado de moléculas de água num movimento contínuo de união, que envolve, inclusive, a circunvolução das nuvens, e integra também o comportamento da árvore no seu movimento á procura de água?
Quem informa as moléculas de água para se agruparem em rios e se movimentar em direção ao mar ou a um lago? Quem diz ás nuvens para se juntarem e se dissolverem, ou ás árvores para procurarem, em movimentos biaxiais, a luz do sol numa direção, e a água e os nutrientes da terra, em outra direção?
Na verdade, o rio não é um ser, não subsiste por si mesmo, e uma molécula de água não faz um rio. Mas um conjunto de moléculas em interação entre si forma uma corrente e dessa união entre elas surge o rio. O rio existe como função das moléculas associadas. São elas, individualmente consideradas, que têm o sentido de corrente e esse sentido é uma “consciência” de agrupamento, construída para realizar o fim específico de formar uma corrente.
Tudo o que acontece no universo, acontece em razão de um movimento de consciências que interagem e buscam complemento para “ser”. É o seu interior que as impulsiona para criar as realidades universais. Há dentro delas uma “vontade de composição” nos desenhos universais que formatam o mundo fenomênico. É a essa “vontade” interior, que nos seres vivos chamamos de Alma e nos seres brutos de Substância, que Aristóteles chama de Enteléquia.[11]
Tudo que já foi, é e será já existe em estado latente no universo. Nada é “criado”. Tudo é produto de manifestações da interação matéria\ espírito. Isso justifica o postulado segundo o qual “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, famoso axioma de Antoine-Laurent de Lavoisier, (1743 — 1794), grande químico e filósofo iluminista francês, considerado o criador da Química moderna. Esse postulado é válido também para as realidades espirituais, o que nos leva à admitir a existência de alguma forma de vida após a morte, pois como nos tem mostrado as recentes descobertas da ciência chamada noética, o nosso espírito tem massa, e conseqüentemente, ele é alguma forma de energia. Assim, segundo o princípio de Lavoisier, ele também não desaparece, mas apenas se transforma.
Isso quer dizer que cada átomo da matéria universal possui em si mesmo a centelha da consciência, por isso é um universo em miniatura; nesse sentido, é um átomo e um anjo, no dizer de Madame Blavastsky.[12]
É nesse sentido que consideramos o materialismo um sistema de crenças muito pobre para explicar o sentido da vida e o que ela representa na história e no destino do universo como um todo. [13]
[1] Ialdabaoth é um dos dez demônios que presidem a criação universal, como potência contrária aos anjos de luz, que são os anjos construtores.
[2] A esse respeito, ver Sarane Alexandrian, História da Filosofia Oculta, Martins Fontes, São Paulo, 1983. Ver também a nossa obra Conhecendo a Arte Real, Madras, São Paulo, 2007
[3] P. Teilhard de Chardin- O Fenômeno Humano- Ed. Cultrix, São Paulo, 1968
[4]Quanto aos modernos gnósticos, eles são constituídos principalmente por teólogos, físicos e astrônomos, que desenvolvem os temas gnósticos em programas de computador. Para eles eons são as partículas atômicas, cujo pleroma são as redes de relações que eles estabelecem entre si para formar o universo físico, o Drama de Sofia é visto como a pressão interna da partícula que gerou o Big Bang e por aí adiante, Para uma maior compreensão dos temas gnósticos, sob a ótica moderna, veja-se A Gnose de Princeton, obra escrita por Raymond Ruyer, publicada no Brasil pela Editora Cultrix, São Paulo, 1977, que narra as experiências dos cientistas modernos na busca de uma reaproximação entre ciência, filosofia e religião, retomando, em bases cientificas, as ideias dos antigos filósofos gnósticos e taumaturgos orientais. Veja-se também Fritjof Capra, O Tao da Física, Cultrix, São Paulo, 1992, que trata do mesmo assunto, apontando os paralelos existentes entre a moderna ciência atômica e as tradições orientais, especialmente da cultura védica.
[5] Segundo a moderna física, o equilíbrio do universo se dá pela contraposição da energia positiva da aceleração, que promove a expansão do universo num movimento caótico e desorganizado, e a energia negativa da gravidade, que força sua contração, aglutinando as massas formadas pela aceleração da energia em sistemas.
[6] Na moderna física esses “arcanjos”, são identificados com as leis naturais que regem a formação do universo.
[7]Síntese da Doutrina Secreta- Helena P. Blavatsky, Ed. Pensamento, S. Paulo, 2001. Edição organizada por Cordélia Alvarenga de Figueiredo.
[8] Não foi de propósito que o filósofo Jâmblico, ao desenvolver seu romance gnóstico sobre os Mistérios de Ísis e Osíris, colocou seu herói, o iniciado Lúcio, na pele de um burro.
[9] François Rabelais, ( 1483-1543 ) - padre, médico, humanista e escritor, autor dos clássicos Gargantua e Pantagruel, que descrevem, na forma de um romance de aventuras, o método usado pelos alquimistas para atingir a iluminação ( a pedra filosofal).
[10] Ou seja, relações entre os seres e relações entre suas relações, como bem observou Sartre.
[11] Entéléquia é uma espécie de energia, ou informação, que designa a propriedade essencial das coisas. Essa energia interior está presente em todos os elementos do universo, e é ela que os dirige para a sua conformação final.
[12] Sintese da Doutrina Secreta, op citado.
[13] Materialismo é um conjunto de doutrinas que afirma a inexistência do mundo espiritual. Sustenta que a única realidade da qual se pode afirmar a existência é a matéria; Tudo é feito de matéria e todos os fenômenos são o resultado das interações entre seus elementos. Existem várias doutrinas materialistas que procuram explicar as realidades do mundo. As mais conhecidas são o darwinismo, teoria desenvolvida pelo naturalista inglês Charles Darwin, que procura explicar a origem das espécies a partir da seleção natural. No mesmo sentido, o marxismo, teoria desenvolvida por Karl Marx, que procura explicar a formação da sociedade e sua evolução através da luta de classes. O positivismo, doutrina defendida pelos filósofos Auguste Conte e John Stuart Mill, ao renegar qualquer validade á intuição metafísica na composição do conhecimento humano, também é uma doutrina materialista.