Ensaio sobre ir.
Mas o que é que estou fazendo da vida?
E a pergunta gira e gira, dando cambalhotas doloridas na minha cabeça. Mais um lembrete de que talvez realmente não devesse. Talvez realmente não possa, enfim.
Enquanto insisto no conto de fadas, talvez me dê conta de que afinal caí no conto do vigário, inteira e de quatro, arreada como uma égua, domada.
Ajoelhando e chorando no canto da sala, escondida dos olhos dos outros, porque os outros são tão mais delicados e gentis, e me amam com um amor sutil que não arrebata, mas também não bate.
Achando que era melhor ser possuída do que ser querida, acabei talvez me deixando comprar, sem direito a carta de alforria.
Era amado e amante, era jamais deixar ir.
Mas hoje. Ah, hoje.
Talvez.
Eu não sei.
Talvez saiba.
Mas hoje ainda sangra e pulsa e dói tanto.
Melhor seria que o talvez fosse não, e que o quase fosse de vez.
Porque, se for melhor assim, então que vá.