A lição do Facebook
A grande lição do Facebook é que ninguém tem nada a dizer.
Até pouco tempo atrás, excetuando os poucos com acesso aos meios de comunicação de massas, só podíamos nos exprimir, passar nossas ideias, para quem estivesse próximo. Hoje, no entanto, a internet pode ecoar nossas mensagens até bem longe, basta termos o que dizer.
Todos queremos participar, nos manifestar, mas não temos nada a dizer e assim fazemos grande alarido, enorme palrice, mas barulhenta e vazia.
Por que razão não temos nada a dizer?
Suspeito que isso advenha do hábito, cultivado pela ampla maioria, de seguirmos o rebanho. Costumamos agir como gnus, repetindo o que o outro faz, macaqueando constantemente o vizinho, disfarçando-nos, diluindo-nos na multidão. Nunca buscamos nossos próprios caminhos, apenas seguimos a massa obtusa. Nosso mundo tem sido assim há pelo menos um século.
Muitos pensarão ter sido sempre assim, sendo impossível conceber algo diferente; considerarão que, a exemplo dos gnus, a humanidade só consegue seguir o rabo do que vai na frente. Talvez tenham razão. Creio, no entanto, não ter sido sempre assim, e que esse nosso hábito idiota seja fruto da infantilizadora cultura pop, tendência avassaladora que varreu o século XX.
Imposta pelos meios de comunicação de massas, a cultura pop simplificou, infantilizou todas as artes, todas as formas de manifestação. Comparem, por exemplo, pinturas feitas no século XIX com as posteriores, do XX; terão, frequentemente, a nítida sensação da ocorrência de estranha infantilização coletiva. O mesmo ocorreu com a música. Também elevamos, nesses tempos, as brincadeiras esportivas, de uma categoria francamente secundária, da diversão exporádica, para uma importância desmesurada, transformando os atletas em ídolos muito superiores aos cientistas, filósofos e artistas. (Mas, é claro, pensarão quase todos, e poderia ser diferente? Não responderei).
O resultado foi a multidão de idiotas em que nos transformamos.
Talvez a cultura nos ajude a escapar desse flagelo. Acredito que a leitura favoreça o hábito do pensamento por permitir ao leitor um tempo para a reflexão, determinado por ele mesmo. Estamos em busca da individualidade. Diluimo-nos nas massas amorfas. O que parece termos perdido foi nós mesmos.