Uma década do Furacão Catarina e a construção da memória social
Na madrugada do dia 28 de março de 2004, a cidade de Torres e os municípios litorâneos do extremo sul catarinense foram atingidos pela força implacável do Furacão Catarina. Um fenômeno meteorológico atípico que deixou um rastro de destruição por onde passou, atingindo violentamente a região. Segundo dados oficiais, o Catarina foi o único furacão registrado no Atlântico Sul.
Após o evento climático catastrófico e a devastação das cidades, o que permaneceu após uma década foi a Memória Social ou Coletiva. As pessoas atingidas pelo furacão têm diferentes versões e relatos sobre o acontecido, mas todas lembram do famigerado Catarina. Na época, 14 municípios declararam estado de emergência e muitas vidas foram traumatizadas pelo cataclisma.
A memória têm um papel fundamental em nossas vidas. A memória é o confronto entre o lembrar e o esquecer. A memória é seletiva, fica apenas o que têm significado. Lembramos daquilo que foi importante para nós, não necessariamente algo bom ou momentos felizes, mas sim aquelas lembranças que nos marcaram profundamente. A memória é uma construção social em que os sujeitos interagem com o contexto em que se inserem e tecem suas memórias, sejam elas individuais, familiares ou coletivas.
Neste caso, o Furacão Catarina permaneceu e se re-significou através da memória social das comunidades. Já ouvi relatos de pessoas idosas que afirmavam que não era um vento comum, era um monstro ou ser maligno das profundezas da Terra que grunhia, rosnava, ameaçava e destruía. Outras alegavam que presenciaram verdadeiros milagres, desprotegidas a única esperança era a fé de suas orações para proteger suas famílias. São exemplos de explicações metafísicas para o acontecimento.
Certamente, as pessoas que testemunharam a voracidade do Furacão Catarina sentiram-se fragilizadas perante as forças da natureza, mas também foram fortalecidas com os laços de solidariedade e cooperação mútua para se recuperarem do trauma e reconstruírem suas vidas e sua cidade.
Publicado no Jornal Litoral Norte RS