O Cinquentenário do Governo Militar no Brasil
Em conversa informal com minha amiga, filósofa e escritora, Fernanda Carlos Borges decidimos abordar em nossas colunas desta semana um tema de suma importância para entendermos o Brasil Contemporâneo. Um assunto pertinente aos latino-americanos e a sociedade brasileira em especial: os governos militares. A América Latina foi alvo de políticas externas no bojo da Guerra Fria e de movimentos revolucionários que forjavam distintos panoramas socioeconômicos para o continente. Por um lado, o avanço dos movimentos socialistas e a organização de partidos comunistas e, por outro, os defensores do liberalismo burguês e da dependência do capital externo fundamentados na retórica anti-comunista, difundida principalmente pelo governo norte-americano.
O governo militar no Brasil (1964-1985) pelo teor de suas ações e sua intencionalidade política recebe o nome de Ditadura. Um período de repressão, exílios, assassinatos e perseguições aos militantes políticos que combatiam a autoridade de um governo comandado pelas Forças Armadas. Os direitos democráticos e as liberdades de expressão eram censuradas e jargões como Brasil: Ame-o ou Deixe-o se popularizavam, justificando o discurso desenvolvimentista e o sentimento patriótico. Resumindo: ou gosta do Brasil do jeito que está ou está “convidado” à se retirar... Uma ideologia de alienação em que o senso crítico ou o exercício da cidadania não era bem vindos!
Os que defendem a “DitaBranda” no Brasil, alegam que existia ordenação social, menos violência urbana e um relativo “milagre econômico” em que a população desfrutava de uma condição de bem estar social. O crescimento econômico alavancado no período militar trouxe graves prejuízos financeiros ao Brasil com dívidas estratosféricas com o capital estrangeiro e a exploração dos recursos naturais com a implantação de multinacionais à “preço de banana”. Em relação à violência existe um paradoxo, digamos que o “tiro saiu pela culatra”, no sentido em que o Crime Organizado que conhecemos hoje, nasceu no colo dos militares. Os presos políticos, na sua maioria intelectuais de formação, eram encarcerados com os presos comuns e daí “juntava a fome com a vontade de comer”. Como ambos, de alguma maneira queriam derrubar a ordem instituída, organizaram facções como o Comando Vermelho no Rio de Janeiro, o PCC em São Paulo entre outras.
O sistema educacional sofreu um grande golpe com a introdução de um ensino tecnicista esvaziado de criticidade e de formação humana, abolindo disciplinas como História, Sociologia e Filosofia. Para quê pensar se neste modelo de governo só temos que obedecer? Atualmente, nós historiadores, cientistas sociais, militantes políticos, ativistas culturais, defensores dos direitos humanos estamos engajados em compreender as nuances deste período e suas consequências para a sociedade brasileira. Inclusive, percebe-se que o aparato político militar da época ainda está intocado, torturadores não foram presos e os “articuladores do golpe” têm seus representantes no poder. Para os leitores interessados na temática, há uma variedade de filmes, livros e sites que tratam das memórias e histórias da Ditadura Militar no Brasil. Nos 50 anos do Golpe Militar, as lições são dolorosas e também valiosas. Nós latino americanos e brasileiros devemos refletir e agir conscientemente para que governos como este não se repitam.
Publicado no Jornal Litoral Norte RS.