O CONHECIMENTO, A SABEDORIA E OUTRAS COISAS

Hoje, ao visitar certo site, que não foi o Facebook, eu vi uma tentativa bem-intencionada: um comentário de alguém desejoso de partilhar conhecimento. Não obstante, essa pessoa demonstrou desconhecimento do assunto. Cometeu erros graves.

Eu não disse nada. Às vezes, é preciso calar diante do que certas pessoas dizem, principalmente quando são pessoas simples, porque essas pessoas têm boa intenção, ainda que, às vezes, não saibam o que afirmam.

O conhecimento afirma: isso está certo! Isso está errado! A sabedoria, no entanto, é a atitude de compreender e deixar ser.

Penso compreender uma importante frase de Lao-Tsé, o sábio chinês fundador do Taoísmo, religião que ensina a sabedoria, cujo livro sagrado eu tenho o privilégio de ter em casa. A frase da qual eu falo diz: "O sábio vive calado".

Isso significa que não adianta discutir. Não adianta falar, argumentar, em certos momentos, visto que muitos não querem enxergar a verdade, mas apenas prevalecer com suas opiniões e crenças. É a minha interpretação. Eu teria outras coisas a dizer sobre isso, mas quero falar outra coisa hoje.

Alguém poderia me questionar: você se sente sábio? Eu responderia: não! Apenas desejo abraçar e viver com a sabedoria. Sócrates dizia: "Quem filosofa não é sábio, mas alguém que deseja a sabedoria. É por desejar a sabedoria que o homem filosofa". Isso está no Banquete, escrito por Platão, discípulo de Sócrates.

O mundo é combate. O conhecimento nos leva a querer eliminar a ignorância. Quem conhece vê. Conhece e vê não porque se sinta melhor do que os outros, mas porque busca o conhecimento diariamente, sem cessar. Quem conhece verdadeiramente diz: eu estou certo. Quem conhece sabe que o preconceito é ignorância, que a fome existe, que o racismo existe, que muitos homens são maus. Sabe que devemos amar a Deus, amar o próximo.

A Bíblia Sagrada diz: "É melhor o homem que esconde a sua insensatez do que o homem que esconde a sua sabedoria". Eu procuro ser simples. Por isso, digo: eu apenas tento partilhar o que conheço, sem a pretensão de mostrar que estou certo, mas com vontade de mostrar o que existe. Não significa que a Bíblia não seja simples. Significa que eu sou desprovido de sabedoria. Não posso, pois, dizer que desejo partilhar sabedoria, porque eu não tenho sabedoria. Eu apenas sou um filósofo no sentido em que Pitágoras e Sócrates compreendiam: alguém que busca o saber, e, ao encontrar determinado saber, deseja partilhá-lo. Nada mais!

Penso isto: os homens que se dedicam ao amor, ao conhecimento e à prática educativa dão muito mais do que recebem deste mundo. Para alguns homens, não é essencial que eles sejam reconhecidos. O que eles querem é colaborar com a construção de um mundo novo, de um mundo melhor para todos os seres humanos. Se forem reconhecidos, tudo bem! Se não, fica a obra.

Confesso que sou um homem dividido: dividido entre a vontade de atuar socialmente - como faço - e a vontade de silenciar.

De algumas coisas eu tenho plena certeza. A morte de todos os seres humanos é uma delas. Outra: Todos os homens que se dedicaram ao bem da humanidade foram vistos como arrogantes no tempo em que eles viveram neste mundo.

Hoje, no entanto, são vistos como pessoas simples. Isso porque a humildade e a bondade de um homem não são reconhecidas - pela maioria - no tempo em que ele vive. Os grandes homens estão além de seu tempo. Exemplos: Jesus Cristo foi considerado louco, alguém que blasfemava, um endemoninhado. Foi assassinado. Gandhi foi assassinado. Galileu foi condenado a prisão domiciliar e obrigado a renunciar a suas ideias. Naquele tempo, só um “louco” pensaria e acreditaria na imobilidade do Sol e no movimento da Terra. A Igreja, porém, muitos anos depois, reconheceu o erro e a injustiça causados contra Galileu e pediu perdão. Grande ato!

Francisco de Assis, jovem rico, “ficou louco”. Era o que diziam os normais, os equilibrados, os sensatos. Temos muitos outros exemplos.

Que fique claro: eu estou muito longe da inteligência e da humanidade desses homens mencionados. Não sou gênio. Agradeço a alguém que diz que o sou. Sinto-me afagado por essa pessoa. Que Deus a proteja sempre!

Não sou mais do que ninguém. Não me sinto sábio. É por isso que filosofo. Exerço o pensamento numa tentativa de viver bem e por amor ao conhecimento.

Eu caminhava mais de quatro quilômetros, quando criança, até chegar a uma casa onde havia Literatura de Cordel. Esse tipo de leitura era a única forma que eu encontrava, na minha pobreza, na verdade, condição de miséria, para ler além dos livros didáticos. O meu amor ao saber não é recente; ele vem dos meus primeiros anos de vida; nasceu comigo. Ninguém me obrigou a nada. Tudo o que eu faço e fiz foi por iniciativa própria. A minha mãe conta que ela comprava cadernos só para eu rabiscá-los, quando eu ainda não sabia escrever. Eu não me lembro disso. A minha mãe se lembra!

Gosto de ser questionado! Aplaudo quem me questiona com fundamento. Incentivo as pessoas a me questionarem. É só consultar bem os meus textos, para confirmar isso. Na escola, eu incentivo os alunos a me questionarem, mas digo: questionem com fundamento! Preparem-se para questionar!

Sabe você qual é um dos problemas de muitas pessoas? É que muitas não querem apresentar as razões daquilo que afirmam. Muitas pessoas apenas dizem: eu não gosto disso, e pronto! Eu discordo disso, e pronto! Eu não gosto do que você escreve, e pronto! Isso, meu amigo, não é o jeito certo de discordar. Nenhuma pessoa equilibrada ou sensata vai, por exemplo, deixar de cortar o cabelo no mês de janeiro só porque “os mais velhos” dizem que não se pode fazer isso no mês de janeiro. É preciso saber o porquê de tal proibição. Não basta dizer que sempre foi assim! É preciso apresentar razões. Não é só a filosofia quem exige isso. É o bom senso, principalmente.

Não basta dizer-se contra a legalização da maconha; bancar o bom moço. É preciso mostrar os efeitos da legalização dessa droga. É preciso estabelecer debate; mostrar os aspectos negativos do uso da maconha. Até efeitos positivos na saúde ela tem. Faz-se necessário debater. Que fique claro: eu sou contra a legalização da maconha. Se alguém me questionar, eu direi o porquê. É assim que deve ser. Mas deve haver debate. Ninguém pode impor nada!

Há pessoas que dizem ser contra a repressão, mas não querem o debate. Querem apenas ter o direito de dizer que não gostam de certas coisas; que não concordam com certas coisas. Não sabem dizer por quê. Isso é tentativa de repressão. Tentativa de querer que o outro aceite opiniões opostas sem justificativa, sem argumentação. Falam mal dos governantes que não ouvem o povo, que não prestam esclarecimentos. No entanto, essas mesmas pessoas evitam justificar suas posições.

Acabou-se o tempo em que não tínhamos o direito de argumentar. Eu fui perseguido por um reitor de Seminário. Ele não aceitava debater comigo. Dizia que o formador era ele. Que eu era o formando. Que quem mandava era ele. Que formação era essa? Formação que não abre espaço para a razão não é formação. Que Deus dê paz à alma desse ex-reitor! Que a sua alma esteja bem! Apesar de tudo, eu agradeço a esse padre.

Muitos não sabem argumentar. Não conhecem aquilo do qual não gostam. Dizem que não gostam, e pronto! Querem que aceitemos o que dizem.

Eu não quero que ninguém aceite o que eu digo! Eu quero que as pessoas analisem o que eu afirmo. Que apresentem o contrário. Que mostrem exemplos. Que argumentem. Que provem quando eu estiver errado. Quem tem a capacidade para mostrar que eu estou errado? É isso o que eu quero ver. É isso o que eu exijo.

Vou contar um caso bem rápido: Certa vez, quando eu ainda não tinha formação superior, quando eu ainda não havia morado no Seminário, um jovem da Igreja Assembleia de Deus de Pastos Bons chegou à minha casa com o desejo de me converter para a Igreja dele. Ele apresentou aqueles pontos que são apresentados por certos evangélicos, não por todos, contra os católicos. Digo isso com muito respeito aos amigos evangélicos. Dizia que os católicos adoramos imagens; que adoramos um Deus morto; que batizamos crianças; que adoramos Maria e os outros santos, entre outras coisas apresentadas por ele. Esse jovem teve a ousadia de me propor este desafio: se eu fosse capaz de convencê-lo de que os católicos estamos certos em nossos cultos, ele passaria a ser católico.

Com esse desafio, eu comecei a argumentar e a apresentar o que diz a Igreja Católica sobre tudo isso que ele apresentou. Quando eu terminei de falar, esse jovem não sabia o que dizer. Ele mostrou-se um jovem inteligente, por ter a capacidade de me escutar e de reconhecer a verdade contida nas minhas palavras. Mas, aquele jovem mostrou-se ingênuo, por estar afirmando coisas só pelo fato de outros afirmarem. Eu percebi nos olhos dele a insegurança e a convicção do que eu lhe dizia. Percebi que seria fácil demovê-lo de sua Igreja. Eu, no entanto, concluí com estas palavras: “Eu não preciso ser evangélico para ser um bom cristão. Você não precisa ser católico para ser um bom cristão. Fique na sua Igreja. Eu ficarei na minha”. A conversa encerrou-se aí. O jovem retirou-se, e eu fiquei tranquilo.

Agora, eu pergunto: se eu fosse uma pessoa arrogante, como alguns dizem que sou, eu não teria tentado levar aquele jovem para a outra Igreja? Não teria levado, o que seria fácil, aquele jovem para a outra Igreja, só para mostrar a verdade do que eu defendia?

Eu mostrei que não desejo que todo mundo pense igual a mim, mas que as pessoas sejam livres para buscarem a verdade.

Eu já disse: vivemos um período histórico em que todo mundo fala sobre tudo, mas poucas pessoas sabem o que falam.

ARROGÂNCIA, ORGULHO

Há muitos analfabetos orgulhosos. Pessoas que imaginam saber tudo o que é necessário e importante para a vida. Conheço pessoas que dizem: “Meu filho já sabe ler e escrever. Não precisa mais estudar". Será que isso é verdade? É mentira! Corrijo-me: é autoengano. Até certos professores ainda não sabem escrever. Há exemplos de professores que ainda não aprenderam a usar, na escrita, OS PORQUÊS. Erram sem parar. E ainda imaginam que sabem escrever. Autoengano!

Há pessoas que, numa discussão, em algo que deveria ser um debate, só sabem usar aquilo que Freud (pronuncia-se Fróid) chamava de PROJEÇÃO: é um mecanismo de defesa. Serve para projetar no outro aquilo que está em si mesmo. Um arrogante, por exemplo, em algo que deveria ser um debate, chama o interlocutor de arrogante. O indivíduo se denuncia. Isso é PROJEÇÃO.

Como você vê, eu procuro ser educado integralmente. Argumento com a razão. Eu não falo por falar. Eu falo por saber falar. Eu não apenas escrevo sobre gramática e ortografia. Eu escrevo segundo a gramática e a ortografia. Algo que não acontece com muitos professores da mesma área. Muitos falam sobre gramática e ortografia, mas não escrevem segundo o que preceituam. Muitos querem questionar, mas não questionam com fundamento; não sabem.

Fico me perguntando o que aconteceria com Sócrates, se ele vivesse no momento atual. Ele seria assassinado. Ele seria considerado um chato; um orgulhoso; um arrogante; um idiota. O que Sócrates fazia era provar para muitas pessoas que elas não sabiam o que imaginavam saber. Isso mexeu naqueles que se sentiam sábios. Sócrates procurava ensinar as pessoas a cuidarem mais da alma do que do corpo.

Atualizando e explicando: não significa que Sócrates ensinava as pessoas a desprezarem a prática de exercício físico. Não era isso! O filósofo ateniense queria que as pessoas cuidassem da virtude, que era fruto do conhecimento verdadeiro, do conhecimento de si mesmo. Queria que as pessoas não fingissem saber, mas que buscassem a sabedoria, o saber.

Conheço cidadãos de outras áreas, que não a educação, que sabem muito bem escrever. Esses cidadãos deveriam ser professores! Há professores que não sabem nem usar o vocativo, coisa simples e elementar; ainda querem debater.

Eu estou aberto a qualquer questionamento fundamentado. Só não aceito é questionamento sem fundamento. Se alguém diz que não gosta de algo, isso é subjetivo. Se alguém diz que algo é estranho, esse alguém tem o direito e o dever de dizer por quê. Caso contrário, deve ficar calado.

Eu pretendo ficar bem velhinho. Eu pretendo silenciar. Mas, eu sinto que ainda não é a hora de me calar. Eu tenho que desempenhar o meu papel social. Como dizia Aristóteles: “O homem é, por natureza, um animal político”. Significa que o homem deve viver na polis, na cidade; deve atuar como cidadão, não deve se isolar. Ao mesmo tempo, eu tenho vontade de viver como os filósofos estoicos: afastado da vida social. Mas a minha formação não me permite. Eu devo atuar. Eu devo agir na sociedade.

Concluo com uma frase de Sócrates: "Enquanto eu viver, eu jamais deixarei de filosofar".

Além disso, Sócrates dizia querer filosofar, quando morresse, com seus amigos mortos, se a morte não fosse a transformação do homem em nada.

Domingos Ivan Barbosa
Enviado por Domingos Ivan Barbosa em 01/05/2014
Reeditado em 01/05/2014
Código do texto: T4790058
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