REVISAR O POEMA ATÉ TORNÁ-LO DEFINITIVO

(o aporte crítico ao formato original)

Quanto às possíveis melhorias estéticas na peça poética, não se trata exatamente de se fazer uma análise do conjunto verbal (que pode até não conter, emitir, inspirar ou suscitar Poesia) como alguém que examina um cálculo matemático e emite a assertiva de ¨certo ou errado”.

Trata-se, sim, de procurar encontrar elementos de beleza, sabedoria e arte que possam atingir a sensibilidade do leitor, comovendo-o, de modo a que se estabeleça um processo de reflexão sobre o valor da peça congeminado ao assunto apresentado ou versado no poema. É lógico que a primeira avaliação do poema cabe ao seu criador.

Afinal, a avaliação estética não obedece a padrões fixos. Cada pessoa, ao se apossar do texto, recria o conteúdo da peça segundo os valores psicológicos e estéticos que a conformam.

Não podemos esquecer que desde a original garatuja que traduz ideias, o poema, a rigor, não é mais de seu domínio, voeja sozinho por caminhos surpreendentes. Da mesma forma, antes do olhar do leitor, o poema é matéria inerte, quem lhe dá vida é o inominado e desconhecido receptor.

O que é apontado pelo analista crítico são perspectivas diferenciadas sobre um mesmo tema formal e/ou conceitual. A rigor, o poema em si, como peça estética, geralmente pouco difere – depois de dado como finalizado – aos olhos e concepção imagética do receptor que o consome assim como ele se apresenta (lembras de que poesia é pra comer?), isso ao conjunto textual que ele compõe. Bem, o certo é que cada peça verbal propõe sensações diferenciadas no leitor.

Existem situações em que a substituição, supressão ou o acréscimo de palavras nos versos mudam completamente o sentido a até a mensagem predominante no conjunto verbal, especialmente quando se aporta ao texto figuras de linguagem para expressar a ideia autoral. Bem, neste caso estaremos frente a uma nova peça poética e não diante de uma mera revisão.

Não é menos verdade que cada leitor tem uma visão peculiar e intransferível. No entanto, as antíteses e/ou objeções sobre a forma ou formato de um poema autoral funcionam como revisão ou correção. Esta hipótese de amadurecimento do texto poético se torna mais plausível e compreensível quando o autor do texto ora submetido à análise, acata de bom grado o trabalho analítico, e então, convencido pela oportunidade, conveniência e fortaleza da análise crítica, aceita os argumentos estético-formais e vem a homologar em plenitude a inciativa, fazendo a autocorreção da peça poética, dando-a como finalizada para aquele momento de exercício crítico. Porque o poema, por ser matéria viva, nunca está definitivamente pronto.

Assim como o poema é sempre instigação propositiva, o aporte crítico também tem esta destinação: alertar para novas possibilidades de ampliação imagética do poema em exame, melhorando o seu patamar linguístico e logrando ampliar o seu território de domínio quanto à beleza da obra.

O autor é dono do seu trabalho e só a ele cabe a revisão final, propondo um formato definitivo. Normalmente este processo também altamente criativo leva à descoberta e aceitação da forma ou formato finalizado que corresponde ao segundo ou a novos momentos de criação diferenciados, assentados na transpiração.

O que equivale a dizer que a chamada inspiração ou espontaneidade foi apenas um insight da centelha criativa bafejada pela emoção. O que veio em seguida ou mesmo bem depois, é o trabalho assentado na lucidez intelectiva bafejado pelo aporte da racionalidade. É o ourives cinzelando o precioso, procurando dar brilho e foco à pedra bruta.

Algo há que se ter em conta: o analista crítico é mero coadjuvante, o autor é quem existe para os efeitos jurídicos do direito autoral.

Quando deste trabalho de mentes num patamar de ajustes de sentido e sentires similares resulte numa boa peça poética, ganhamos todos, especialmente o destinatário do poema, caso este lhe for dedicado. Ou aquele que o escolher como seu e tenha se apossado dele.

O leitor sempre elabora o seu juízo sobre o poema que lhe foi apresentado. Como não podia deixar de ser, é o primeiro receptor da proposta ao pensar, e também o seu primeiro analista crítico.

A água da vertente pode ainda não estar límpida para produzir os efeitos de matar a fome de Beleza dos aficionados da Poesia. É muito aconselhável cuidar do alimento que, para muitos, ajuda a lhes manter vivos. Felizmente.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2014/24.

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