A Lenda da Lua

Entre nós e os índios existem muitas diferenças. Eles nascem no meio da floresta e vivem em contato direto com a natureza. Nós nascemos nas cidades e passamos a maior parte do tempo em casas, prédios, shoppings, supermercados – todos ambientes criados artificialmente pelo homem.

É na escola que aprendemos sobre as plantas, animais e ecossistemas. Por outro lado, os índios vivem em contato direto com os rios, lagos, matas e cavernas. Eles frequentam esses lugares para caçar, pescar, cultivar plantas, coletar frutos, enfim, para retirar o seu sustento dos recursos naturais da floresta.

Os índios não usam livros e revistas para conhecer os mistérios da natureza, pois a floresta é a casa deles. As crianças da cidade precisam estudar geografia, geometria, física, química, ciências e tantas outras disciplinas para entender como a natureza funciona. Já, os curumins aprendem de um jeito diferente, pois todas as noites eles se sentam ao redor da fogueira e ouvem dos mais velhos da tribo belas estórias recheadas de ensinamentos importantes. Através das lendas e mitos cada tribo repassa conhecimentos valiosos para as gerações mais novas!

A Lenda da Lua é uma dessas belas estórias que nos mostra algumas diferenças que existem entre nós e os povos indígenas no seu modo de ver e se relacionar com o planeta.

Assim diz a Lenda da Lua: numa distante aldeia da Amazônia havia uma índia clara e bem diferente dos outros índios. Ela era bem bonita, tinha a pele branca, seus olhos eram claros e os cabelos dourados como a luz do amanhecer. Ela era a única com aquelas características, o que causava espanto nos demais membros da aldeia.

A sua pele branca era bem delicada e a luz forte do sol incomodava seus olhos claros. Enquanto que as outras crianças adoravam brincar ao ar livre, correndo, pulando e nadando no rio. Por causa de sua sensibilidade à luz solar a indiazinha branca ficava dentro de casa.

Naquele tempo não existiam estrelas ou Lua. O céu da noite era totalmente escuro e com o por do sol todos os índios se trancavam em casa com medo dos perigos da escuridão. Só a índia clara não tinha medo da noite.

Mesmo com aquelas diferenças, ela tentava viver normalmente. Mas pela dificuldade que tinha de se expor ao sol ela começou a trocar o dia pela noite. Ela se sentia sozinha, sem amigos, sem ninguém para conversar. Logo que o sol se punha no horizonte os índios se recolhiam em casa, e a índia branca saia para caminhar pela noite. Por ser diferente nenhum garoto queria namorar com ela, e as índias não conversavam com ela.

Na escuridão da floresta a índia clara conheceu a coruja e fez amizade com ela. Assim, todas as noites ela saía para conversar com a ave, que passou a ser sua única amiga.

Os demais índios não entendiam aquele comportamento diferente e passaram a desprezá-la. Com o passar do tempo às brincadeiras foram ficando mais agressivas, e cada vez mais ela se sentia isolada e triste.

A índia branca ficou muito triste com tudo aquilo. Não poderia viver com pessoas que não gostassem dela. E não aguentava mais ser diferente dos outros índios, tão branca, tão delicada e sem medo do escuro.

Foi aí que ela planejou um meio de ir viver em outro lugar. Ela construiu uma longa escada com cipós e pediu para que sua amiga coruja a amarasse nas alturas. A índia clara começou a subir e só parou quando chegou ao céu. Ela estava exausta por causa da longa subida e dormiu numa nuvem. Quando acordou ela havia se transformado num belíssimo astro redondo e iluminado. Era a branca e majestosa Lua.

Com o surgimento da Lua o céu passou a ser cheio de brilho e encanto, e os índios perderam o medo da escuridão da noite.

A cor branca e delicada da Lua iluminando a noite trouxe muita alegria para todos da aldeia. Só depois daquela transformação que os índios caíram em si. Eles perceberam que a índia clara tinha muitas qualidades e se arrependeram de tê-la desprezado.

Os índios fizeram uma promessa de nunca mais desprezar ninguém. Eles fizeram um compromisso de sempre respeitar e dar valor às qualidades uns dos outros e nunca abandonar e maltratar alguém que seja diferente deles.

Desde aquela data até hoje a Lua está presente para iluminar as noites e nos lembrar desse valioso compromisso!!!

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Ilha de Marajó - PA, Abril de 2014.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187

Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 21/04/2014
Código do texto: T4777569
Classificação de conteúdo: seguro