Onde estariam os azulejos setecentistas no mosteiro do Santo Nome de Jesus da Ribeira Grande? II
Neste Perfil 24 B, vamos concluir a série de trabalhos dedicados aos fragmentos de azulejo setecentista encontrados nas terras e arredores das terras do mosteiro de Jesus, adiantando hipóteses acerca dos locais prováveis da sua colocação. E, no final, avançaremos uma brevíssima conclusão provisória.
A meu ver, após ver em outros locais conventuais, existem dois locais prováveis para os nossos azulejos: o coro baixo e a igreja (capela-mor ou corpo da igreja). Vamos ver o que nos diz o inventário de 1832. Deixando de fora o que não nos interessa, ficamos com a informação de que a igreja do Santo Nome de Jesus tinha uma ‘Capela Mor’ com duas ‘frestas’ (aberturas) e quatro ‘pedras de ara’. Uma pedra de ara por altar, corresponderá a quatro altares? Talvez. Além da imagem ‘do Senhor Crucificado (…), patrono da igreja, existiam na igreja as imagens próprias de um mosteiro franciscano da ilha: a ‘de S. João’, patrono da província franciscana dos Açores, a de ‘Santa Clara’ e a de ‘S. Francisco’, patronos da ordem de clarissas. Acrescia uma outra, de um proeminente franciscano português, objecto de vasta devoção: ‘Santo António’. Além destas, uma ‘da Senhora da Vitoria,’uma do ‘Senhor Morto no Sepulcro’, um ‘crucifixo’ e uma de ‘Nossa Senhora’. No coro de baixo, local onde poderiam ter estado os nossos azulejos, havia uma ‘Imagem de S. Bento’, uma ‘de S. Sebastião’, uma ‘do Senhor atado à coluna’, uma ‘do Senhor Crucificado’, cinco ‘registos de diferentes Santos’ e um ‘Altar amovível.’ Há aqui elementos que comprovam a participação do mosteiro nas cerimónias dos Passos. Este inventário do mosteiro, por muito interessante e minucioso que seja, porém, nada diz acerca de azulejos.
Por que razão menciona dezenas de miudezas e não menciona azulejos? Talvez, entre outras omissões, pela mesma razão que não menciona a talha dos altares.
Onde estariam os nossos azulejos? Como não os vimos no seu contexto original nem os encontramos em contexto seguro, resta-nos apenas procurar lugares prováveis onde poderão ter estado. O pressuposto é o mesmo que nos levou a admitir padrões para os espaços dos mosteiros. Assim, haverá padrões para a colocação dos azulejos. No mosteiro da Esperança, estão no coro baixo, em outros conventos, também aparecem no corpo da igreja, como o de São Gonçalo, em Angra do Heroísmo. Em suma, num sítio com as dimensões necessárias. Seria da mesma temática do da Esperança? De temática mariana? Dúvidas: as quatro pedras de ara a corresponderem a quatro altares, um altar seria o da capela-mor e os restantes três estariam no corpo da igreja? Se assim foi, terá havido lugar para os nossos azulejos? No coro baixo, além de várias imagens, não temos pedras de ara inventariadas, registando-se apenas um altar móvel. Será esse o local dos nossos azulejos? Talvez. Até porque poderíamos ter quatro painéis e não doze. Assim, os quatro poderiam ter estado na capela-mor e não no coro baixo? Talvez.
Quem? Se os azulejos foram colocados a partir da década inicial de 1700, como a sua análise formal parece apontar, o alferes Manuel Teixeira Alves é bem capaz de ter tido algo a ver com os nossos azulejos. Em Março de 1711, Manuel Teixeira Alves obriga-se a ‘trabalhar na obra do Convento de S. Francisco de Ponta Delgada enquanto (durasse) a obra.’ No contrato celebrado ficamos a saber que ‘era Procurador-geral e Síndico dos mosteiros de Jesus, na Ribeira Grande, e de Santo André, em Vila Franca do Campo. ’
Em jeito de conclusão, depois de cruzarmos diversos dados, mais ou menos fiáveis, podemos adiantar com alguma reserva que os nossos azulejos serão do mosteiro do Santo Nome de Jesus, terão saído da oficina de António de Oliveira Bernardes (autor dos painéis, sendo, porém, as molduras e os silhares de colaboradores), que tratavam de temática Jesuína e Mariana, que Manuel Teixeira Alves terá tido algo a ver com a sua encomenda e que terão estado no coro baixo ou na capela-mor da sua igreja.
No Perfil 25, para evitar o vosso e o meu cansaço, vamos tratar de História Oral?
Mário Moura
22 de Abril de 2014