MAÇONARIA- A MAQUETE DE DEUS.

Na sua essência, o rito do Arco Real busca recompor a ideia utópica da antiga nação de Israel, “o povo eleito” de Deus para servir de modelo para as demais nações da terra. Por isso, em todo o desenvolvimento do rito, o simbolismo é desenvolvido com base na estrutura da nação israelita, especialmente nos seus momentos históricos mais culminantes, que se realizam na construção do Templo de Jerusalém, na sua destruição e reconstrução, pois o Templo é o simbolismo máximo dIsse povo, e representa a sua ligação com o Grande Arquiteto do Universo. Assim, por mais que se destrua o edifício, o simbolismo que ele representa deve permanecer vivo, por que enquanto se cultuar esse símbolo haverá uma ligação direta entre o homem e Deus e a humanidade sobreviverá.
Boa parte da liturgia desse rito é consagrada á reconstrução de Jerusalém, após a volta do cativeiro da Babilônia. Daí a ênfase posta sobre o trabalho de maçonaria empregado nessa reconstrução, comandado por Zorobabel, e historiado pelo cronista Esdras, pois este mostra o zelo dos israelitas na reconstrução da sua cidade e de seu sagrado templo. Ali, segundo esse cronista, os filhos de Israel manejavam a trolha com uma das mãos, enquanto na outra mantinham em guarda o escudo e a espada, porque eram muitos os inimigos que queriam impedir a reconstrução da cidade e a volta dos israelitas para Jerusalém. Essa metáfora (trolha e espada) tornou-se um dos simbolismos mais estimados na maçonaria do Arco Real, e é também bastante invocado nos graus filosóficos do Rito Escocês Antigo e Aceito. A propósito, os chamados graus filosóficos do Rito Escocês também trabalham com o tema da reconstrução do Templo de Jerusalém e tem na figura de Zorobabel um de seus mais importantes personagens.[1] 
   AS origens do rito do Arco real são muito obscuras e muito difícil de identificar. Alguns historiadores remontam essas origens ao século XVII na Irlanda, sendo praticado por soldados irlandeses engajados nas diversas guerras da época. Outros reivindicam uma origem inglesa, pois sabe-se que esse rito já era praticado na Inglaterra em 1738, quando ele aparece, pela primeira vez, em registros maçônicos como sendo uma dissidência da Grande Loja londrina, formada pela fusão das quatro lojas de Londres em 1717.
O Rito do Arco Real, conhecido como Rito de York, como já foi dito, teve seu maior desenvolvimento nas colônias inglesas da América do Norte, onde se tornou o rito maçônico preferido. Os americanos criaram praticamente uma estrutura toda nova para o desenvolvimento desse rito, o que lhe deu um caráter bastante particular, com sensíveis diferenças de seu congênere inglês. Em várias partes do mundo maçônico as disposições americanas para esse rito foram copiadas, e o Arco Real, modelo americano, se espalhou por vários países, principalmente na América.
No Brasil sua instalação é bem recente. O Capítulo José Guimarães Gonçalves, reunindo os Maçons do Real Arco foi instalado pelo Capítulo Jerusalém em 8 de maio de 1993. Recebeu sua Carta Constitutiva Nº 1, em outubro de 1997, diretamente do General Grand Chapter of Royal Arch Masons International. Dele surgiram depois dois outros Capítulos, o Thomas Smith Webb Nº 2, no Rio Grande do Sul, em 1997, e o Keystone Nº 3, no Estado do Rio de Janeiro, em 2000.
Os praticantes do rito do Arco Real enfatizam a ideia de que ele não é rito, mas sim uma Ordem, cuja razão de existência é recuperar a ideia básica que motivou o nascimento da Israel bíblica, como nação modelo do Grande Arquiteto do Universo.[2]
  Então os Irmãos que adentrarem o Real Arco, devem já ser mestres maçons, formados em uma Loja Simbólica, pois esse título equivale á qualidade de um israelita de raça e tradição, com direito, portanto, a participar do Capítulo destinado a reconstrução de Jerusalém.
Por isso é que nas cerimonias do Capítulo do Arco Real, as assembleias são dirigidas por três comandantes cujos títulos são oriundos da tradição rabínica de Israel, constantes do Talmud e do Zhoar. São eles o Aterzata(Zorobabel), tratado como Excelentíssimo; Argeu, representado por um olho irradiado, tratado como Excelente Companheiro( Excelente Emeth no REAA) e Josué, cujo título também e de Excelente Companheiro.
Diferente do Rito Escocês, que também trabalha com os mesmos temas, mas sem desenvolvê-los em sua parte histórica, a maçonaria do Arco Real se remete aos fundamentos das tradições israelitas, para buscar, na sua história, o cerne do ensinamento que o ritual busca passar aos irmãos. Por isso, em cada grau o que se busca é uma reconstituição daquilo que foi perdido em cada derrocada do povo de Israel, e o que se recupera em cada reconstrução. Essa simbologia é representada na alegoria da Palavra Perdida, mas na verdade o que se pretende mesmo é mostrar que cada momento da civilização, com suas ascensões e quedas é uma fase peculiar na construção do edifício cósmico. 

 

[1] Nos graus filosóficos o presidente da Loja é chamado de Aterzata, em homenagem ao próprio Zorobabel, que presidiu os trabalhos de reconstrução de Jerusalem. Aterzata era o nome dado ao sátrapa (governador nomeado pelo rei persa) para governar os povos conquistados. No caso, tendo o rei Dario II conferido ao próprio Zorobabel a tarefa de chefiar os israelitas nesse trabalho, era ele a maior autoridade nessa região. Dai merecer ele o título de Aterzata.
[2No sentido maçônico, Israel seria uma espécie de “maquete” da humanidade autêntica, que o Grande Arquiteto do Universo queria construir.