O QUE RESTA PARA ALÉM DA PÁSCOA

"Que esta força provinda do Absoluto - presente em todos os que possuem fé e a partilham - possa retornar com o meu afeto e agradecimento, para abençoar todos os dias de tua vida, seja na paz ou nos embates que testam a nossa capacidade de entrega à Confraternidade, que é razão maior para a criatura humana neste plano natural de expiação e de preparação para a outra margem. Vão daqui do Sul do Mundo os votos singelos de uma Boa Páscoa, que é sempre a bela oportunidade anual de reflexão sobre o sentido da vida e das trilhas passíveis de serem descobertas pela graça do conviver em fraternidade. O meu humilde coração de poeta - ajoelhado - estará sempre necessitado de afeto e de gente que não tenha medo da entrega ao ser feliz. Entendo que é este estado que nos faz crísticos e amorosos ao semelhante. E nos aproxima do sofrimento do Cristo materializado no plano terreno... O madeiro sobre os nossos ombros, que ele compartilha como oportunidade de, pela provação, transfigurar-mo-nos para o plano da libertação. A eterna Poesia pode ser a preparação da glorificação do espírito humano, ainda neste plano. O portal de passagem muito além das chagas da matéria...". Joaquim Moncks, in CANTO DE PÁSCOA.

- Do livro inédito O CAPITAL DAS HORAS, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/mensagens/4774772

- Marilú Duarte, por e-mail, em 20/04/2014, domingo de Páscoa:

Tua mensagem, amigo Moncks, contém toda a simbologia da fraternidade, algo que os maçons sabem muito bem distribuir e receber. Estamos sim, aqui dispostos a expiar os possíveis atalhos fragmentados de um existir onde o vazio muitas vezes se processa lá na infância, e fica embaixo do tapete por muito tempo, até que algo o mobilize. Somos sim, esta vontade avassaladora de descoberta do real sentido da vida. Estamos sempre à procura de uma experiência pessoal e profissional que represente o desafio da transformação de uma condição incapacitante da infância para uma força positiva na adultidade. Para isso, precisamos criar diuturnamente novas estratégias de enfrentamento, mais funcionais e adaptativas, que possam otimizar a reestruturação cognitiva. Para a libertação é necessário sem dúvida, autoconfiança, que, longe de ser uma dádiva, precisa de empenho pessoal baseado em evidências positivas, ou seja, de ações comportamentais que possam reforçar nossas forças pessoais, ou seja, da eficiência que fortalece a autoconfiança e reforça a autoestima. Somos muito mais do que corpo, alma e espírito. Somos aquilo que não aparece, ou algo que não pensa, ou elabora em função de um desejo inconsciente, reaparecendo nos atos falhos, lapsos, sonhos, etc. Somos a revelação sob esconderijo, algo ao mesmo tempo novo e familiar, estranho e reconhecível. Talvez a possível equivalência entre o pensamento e o afeto. É inegável que muitas de nossas decisões são movidas por pressões externas ou coações psíquicas - aquelas observadas por Freud em decisões relevantes - e que comprometem a suposta liberdade absoluta de vontade. Entretanto, o conhecer-se a si mesmo e a aquisição das verdades hauridas no conhecimento do mundo, outorgam ao homem a competência necessária para alcançar revelações nunca antes imaginadas, podendo, inclusive, modificar o ritmo de sua vida, tornando assim realidade a transfiguração, como muito bem colocas no texto: "transfigurar-mo-nos para o plano da libertação". Bem o oposto do que disse o heterônimo Álvaro de Campos, em 1928, no seu diálogo final com o Esteves sem metafísica, o dono da tabacaria: "E o mundo reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança". Porque ali o homem era circunstancial, e quando da libertação seremos definitivos...

- Do livro O IMORTAL ALÉM DA PALAVRA II, 2014.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/4775617