MAÇONARIA EM 33 LIÇÕES- VIII- O TEMPLO, A LOJA E OS RITOS
A LOJA, O TEMPLO E O RITO
O termo Loja, tal qual é empregado na maçonaria, encerra uma variedade de significados. Tradicionalmente se refere ao conjunto de maçons reunidos em assembleia. Isso nos leva a distinguir Loja de Templo, pois enquanto o Templo é o edifício onde os maçons se reúnem, a Loja é a própria reunião em si mesma. Destarte, esta pode ser realizada em qualquer lugar que ofereça condições para tanto, sem precisar, obrigatoriamente, que esta seja feita dentro de um Templo. Assim, o termo Loja assume um amplo leque de significados, que resumem a tradição que a assembleia de maçons pretende refletir.
São vários os títulos aplicáveis ás diversas Lojas dos maçons. Tradicionalmente elas se dividem em Lojas Simbólicas, Capitulares, Filosóficas e Administrativas, os quais, por sua vez se dividem em blocos de ensinamentos específicos, e estes em graus, titulados conforme cada tema neles desenvolvido.
A Loja, portanto, é a assembleia de maçons, reunida para um determinado fim. Na chamada Loja Simbólica se pratica a chamada maçonaria básica, consagrada aos fundamentos comuns da tradição maçônica, que é o exercício da Fraternidade, fundamentada na Igualdade entre os Irmãos e na mais perfeita Liberdade de opinião e de crença. Não cuida, a chamada Loja Simbólica, dos fundamentos mais profundos da doutrina maçônica, que são desenvolvidos nos Capítulos mais avançados das chamadas Lojas Filosófica e Administrativa.
Nos três graus que compõem sua estrutura, Aprendiz, Companheiro e Mestre, a Loja Simbólica tem como proposta trabalhar os fundamentos da maçonaria, enquanto tradição herdada dos antigos pedreiros medievais. Conquanto os ensinamentos da Loja Simbólica sejam todos transmitidos de forma iniciática, o que se trata nas assembleias dos maçons que se reúnem nessa estrutura são, especialmente, os assuntos referentes á Irmandade, nas suas relações com a sociedade, os problemas de cada Loja, os assuntos internos, as questões de interesse corporativo que afetam o grupo e a vida da Ordem com um todo.
Não se exige que um iniciado maçom, ao colar os graus da Loja Simbólica, passe a frequentar os graus superiores. Para que ele seja um maçom completo, basta que ele seja elevado ao grau de Mestre. Porém, se o Irmão quiser conhecer, de fato, a maçonaria, será preciso que ele suba todos os graus da chamada Escada de Jacó, alegoria que significa a passagem do maçom por todos os graus da Ordem, que no Rito Escocês (o mais difundido em todo o mundo), somam trinta e três graus.
Esses títulos, aplicáveis às diversas Lojas dos maçons, estão ligados, portanto, á tradição que cada rito representa. Os maçons do Arco Real, por exemplo, deram ás suas assembleias o título designativo de Capítulo, já que esse sistema pretende ter uma estrutura de universidade, onde cada grau é uma espécie de bloco de ensinamento, no qual o iniciando vai adquirindo a sabedoria necessária para galgar o grau imediatamente superior. Essa estrutura, embora seja aplicável a todos os demais sistemas de ensinamento maçônico, especialmente o Escocês (REAA), na maçonaria do Arco Real, a divisão administrativa e o conteúdo doutrinário de cada bloco apresentam algumas diferenças. [1]
Dentro das próprias estruturas sistêmicas dos ritos, são adotados títulos diferentes para as assembleias que se reúnem nos mais variados graus. Assim é que os graus crípticos do Arco Real (Super Excelente Mestre, Mestre Escolhido e Mestre Real), no REAA correspondem aos graus Filosóficos (Kadosh) de nºs 25, 26, 27 (Cavaleiro da Serpente de Bronze, Príncipe das Mercês e Grande Comendador do Templo). Já os chamados graus de cavalaria no Arco Real, no REAA, correspondem aos graus 28, 29, 30 do Kadosh.
Tanto nas assembleias dos graus filosóficos do REAA quanto nas dos graus crípticos de Arco Real, o local de reunião, ou seja, a Loja, é chamado de Capítulos, ou tendas, conforme o ritual. Esses títulos, como se pode ver, têm a sua razão de ser, e correspondem ao simbolismo que cada rito desenvolve. Porém, uma análise mais profunda nas raízes de cada um deles irá mostrar que todos se abeberam numa fonte comum, que é a tradição bíblica, veiculada pelos cinco livros da Torá, interpretada e ritualizada conforme a visão de cada grupo. Mesmo os chamados graus de Cavalaria, tanto no Rito de York quanto no Rito Escocês, que trabalham com tradições ligadas aos antigos cavaleiros cruzados, especialmente os Templários, Hospitalários e Teutônicos, em cada rito considerado, as lendas de fundo, que sedimentam a estrutura de cada grau, se referem principalmente á temas bíblicos. Assim é que iremos encontrar, tanto no Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA), quanto no de York, alegorias ligadas com a Arca da Aliança, a Reconstrução do Templo de Jerusalém, a Árvore da Vida, o Selo do Salomão e outros temas bíblicos, tratados de uma forma mística, própria do método iniciático. [2]
A verdade é que a maçonaria é uma tradição cujas origens se perdem no tempo, mas suas vinculações são visíveis em cada período vivido pela humanidade. Há um elo que liga as diferentes fases da civilização e esse elo é a necessidade da preservação das conquistas sociais e espirituais feitas pelo homem em sua aventura terrestre. Por isso ele se une aos seus “iguais” e procura, através do corporativismo, manter num círculo bem restrito, a chave dessa cripta misteriosa. Desde os mais antigos tempos das sociedades humanas essa estratégia é praticada, e a maçonaria nada mais é do uma corruptela dessa idéia arquetípica que sempre impressionou os espíritos mais sensíveis.
Destarte, a idéia que está na base da maçonaria é a necessidade de os grupos preservarem as suas conquistas civilizatórias através de um sistema corporativo que lhes sirva de defesa. De outro lado, esse sistema permite aos seus membros o desenvolvimento de um sistema ético e moral que agrega sempre os novos valores que a sociedade elege como necessários á sua felicidade. E por fim, tudo isso se organiza numa fórmula institucional que se conforma numa Organização. Então temos a maçonaria moderna.
Por isso, seja qual for a liturgia praticada pela Loja em que os maçons se reúnem, nelas sempre se encontrará um elemento unificador no qual todo maçom, seja qual for o Rito a que pertença, se identificará. Nessa identificação está a força da maçonaria.
O quadro acima mostra uma comparação entre os dois ritos maçônicos mais populares em todo o mundo: o rito escocês (REAA) e o rito de York (o Arco Real). Embora exista alguma diferença nos títulos e na disposição dos temas dos graus, é possível verificar que todos tratam, no conjunto, dos mesmos temas e contemplam os mesmos conteúdos programáticos. A gravura mostra a maçonaria americana. No Brasil, e em outros países, como a França, a Alemanha e outros países onde a maçonaria tem raízes muito profundas, há algumas diferenças na estrutura dos graus e nos títulos a eles atribuídos, mas na base, são os mesmos fundamentos que os suportam.
A disposição ritualística acima demonstrada é aplicada principalmente na maçonaria americana, mas no resto do mundo maçônico existem poucas diferenças de titulação. No Brasil, por exemplo, e em vários países da América do Sul e Europa, os graus mais altos do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) não são titulados como Graus Adonhiramitas, como aparece na gravura acima, mas sim como Filosóficos ou Kadosh (do grau 19 ao 30) e graus administrativos (do 31 ao 33). Excetuadas essas diferenças, que são apenas de titulação, podemos observar que existem sensíveis semelhanças na organização de ambos os ritos, que contemplam cinco blocos de ensinamentos, divididos numa série de graus. Enquanto no Rito Escoces Antigo e Aceito, disposição brasileira, temos as Lojas dedicadas aos graus Simbólicos (1º ao 3º), Inefáveis (4º a 14º), Capitulares (15º a 18º), Filosófico ou Kadosh (19º ao 30º), e Administrativos (31º a 33º); no Rito de York, também conhecido como Arco Real, temos os Graus Simbólicos, que correspondem, no REAA á Loja Simbólica, os Graus Capitulares, que correspondem no REAA aos Graus Inefáveis e Capitulares, os Graus Crípticos, que correspondem no Rito Escocês, aos Graus Filosóficos ou Kadosh e os graus de Cavalaria, que correspondem, no REAA aos graus Adonhiramitas, ou em se tratando da maçonaria brasileira, esse bloco integra partes do Kadosh e os últimos três graus chamados de administrativos.
Temos assim, para um bom entendimento do que significam as chamadas Lojas maçônicas , uma visão resumida dos diversos ritos praticados pelas diferentes assembleias de maçons. Embora cada rito empregue certos elementos de linguagem próprios de sua tradição, o ensinamento maçônico neles veiculado é o mesmo. E todos têm uma fonte comum, que é a Bíblia Sagrada.
Estas proposições são válidas em se tratando da maçonaria praticada na maior parte do mundo ocidental. Existem ritos que são abastecidos por fontes outras que não a Bíblia Sagrada, como a maçonaria egípcia de Cagliosto, que se diz fundamentada nos Antigos Mistérios Egípcios. Na verdade, são tantos os ritos maçônicos, e tão confusas suas origens e a ritualística praticada, que nenhuma autor, até hoje, conseguiu recenseá-los todos e colocá-los numa ordem lógica e inteligível, de forma que se permita ao estudioso entender como funcionam e o que pretendem transmitir em termos de ensinamento. Para se ter uma idéia de quão confuso é esse assunto, Kenneth Mackensie, autor da famosa Royal Masonic Cyclopaedia, um dos mais completos trabalhos maçônicos já elaborados até o momento, listou, em fins do século dezenove (1875/ 1877) nada menos do que trinta e três ritos, esclarecendo que havia, já naquela época, muitos mais. Hoje, mais de cem anos depois, essa lista deve ter se multiplicado tanto que se torna impossível qualquer trabalho de compilação que se queira fazer nesse universo de diferentes ritos e suas fontes de abastecimento litúrgico.
Isso, todavia, é irrelevante. Importante, neste caso, é não perder de vista o objetivo da prática maçônica, que é a modelagem do caráter do homem e a sua utilização como ferramenta de aperfeiçoamento das conquistas da sociedade, tanto no seu lado social quanto espiritual.[3].
[1] Vide gráfico comparativo entre o REAA e o Arco Real na gravura abaixo.
[2] A miscelânea temática encontrada no desenvolvimento desses ritos se justifica pelo fato de a maçonaria reivindicar uma filiação histórica com as antigas Ordens de Cavalaria fundadas na época das cruzadas. Assim é que a maçonaria ocidental, desenvolvida na França e Inglaterra, se referem principalmente aos cavaleiros templários e hospitalários, cuja estrutura e atuação estavam ligados mais á cultura desses países. Já a maçonaria alemã, por sua ligação com os cavaleiros teutônicos, remete seus ritos á tradições cultivadas por aqueles cavaleiros. Registre-se, a propósito, que o Rito da Estrita Observância, que a maioria da maçonaria alemã pratica, tem uma estrutura fundada nas tradições do exército prussiano. A Prússia, célula mater da atual Alemanha, como nação, teve como núcleo da sua fundação a chamada Ordensland, estado medieval fundado pelos cavaleiros teutônicos no século XIII.
[3]A página da Wikipédia informa que os principais ritos hoje praticados são o Rito Escocês Antigo e Aceito, o Rito de York, que é dividido em inglês e americano, o rito Schoder, o Rito Moderno, e os ritos Adonhiramita e o Escocês Retificado, e que já existiram mais de duzentos ritos. Porém, hoje pouco mais de cinquenta são praticados, sendo o Rito de York, o Rito de Emulação, o Rito Escocês Antigo e Aceito e o Rito Moderno (também chamado de Rito Francês ou Moderno na Europa), os mais comuns. Juntos, estes três ritos congregam cerca de 99% dos maçons em todo o mundo. Essas informações, todavia carecem de confirmação, já que tais ritos e Lojas estão muito dispersos e dificultam a pesquisa.