Ensaio sobre A Morte

"Ele parou, olhou-se no espelho, respirou fundo e colocou a arma na cabeça. Estava tudo decidido: iria se matar. Veja, meu querido leitor, como é maldita, mil vezes maldita, a Vida. Que, quando percebe que queremos nós queremos se livrar dela, usa um último artifício mostrando toda a nossa vida diante de nossos olhos. Não importa quanto tempo que você viveu, se foi apenas 16 anos, ou já tem cinqüenta, ou já se suplica a Deus a hora da morte. Ela, a Vida, precisa apenas de um segundo, um segundo apenas, para mostra-lhe a sua vida diante de seus olhos. Isso comprova a insignificância da Vida, pois você vive, luta para sobreviver e depois, chegado à hora da morte, você ver que apenas um segundo. Em toda sua vida você, meu caro leitor, viveu apenas um segundo e o resto? O resto é sobrevivência. Pois bem; estava o nosso futuro suicida em pé na frente do espelho, com a arma na própria cabeça, mas não importa o que era: arma, faca, corda em volta do pescoço ou se debruçava na janela para pular (aliás, para isso eu teria que dizer que ele mora no décimo andar. Não, não! No décimo terceiro, para dar um ar fatídico ao conto, pois este numeral é manchado, injustamente, por esta idéia de azar. Agora esta na hora de para de pensar de como seria o espaço que irá ocorrer esta cena, pois vejo, não com os olhos, mas com a lógica que o meu amigo leitor se enraivece com o narrador que neste caso sou eu, então fecho a partir do próximo ponto esta linha de pensamento e junto com ela o parêntese.), mas isso não importa. O que importa é que ele irá se suicidará.

O último artifício faz efeito no nosso (futuro) suicida. Ele ver a sua infância, quando corria alegre em suas brincadeiras infantis, mas ele não ver, ou melhor, não escuta a voz de sua mãe gritando: “Pare. Seu cafajeste. Bêbado, novamente!”, quando seu pai chegava do bar e ia agarrar sua mãe. Em sua adolescência, ver as festas, os amigos, porém a vida conseguiu apagar de sua mente as imagens dele sendo ridicularizado entre os colegas, pois não bebia, não fumava, não fodia, não comia merda, etc, etc e tal. (Rituais de adolescentes que acham que é por estes rituais, e só por estes, que entram na fase adulta, mas não vêem que, na verdade, voltam para a fase anterior.). E então o se instinto de sobrevivência gritou: “O que deseja fazer? Destruir sua chance de passar sua herança genética? Não é para isso que vivemos? Viva, ou Sobreviva, e faça o seu dever!”.

Por fim colocou a arma sobre a cômoda e sentou-se na cama, havia desistido. “Que besteira! Sou apenas um jovem bobo. Por que iria me matar? Nem uma carta eu fiz.” pensou o Ex-suicida, ou melhor, Ex-futuro suicida, pois se o narrador disser apenas: “Ex-suicida” alguns pensarão: “Mas pode uma pessoa nesta vida ser suicida e depois deixar de ser?”. E por isso corrigir antes que estes alguns venham contra mim, alegando que não pode um morto ressurgir, principalmente, os suicidas que não desejam isso, pois isto é uma questão de lógica: um suicida quando se mata não quer viver, prefere a morte, e se, por ironia do destino, ele ressurgir novamente se suicidará, e se ressurgi novamente, novamente irá praticar o suicídio e quantas vezes ocorrer a ressurreição, o mesmo números de vezes irá ocorrer o suicídio. Isto é apenas um fato cômico que usei para ilustrar a mente de você, meu leitor, para que não fiquem apenas as letras em sua mente, mas, também, imagens.

Sentado nosso ex-futuro suicida escutou passos vindo em direção de seu quarto. E pensou “O dono destes passos seria a primeira testemunha do fato que iria praticar. Mas espera um momento, estou só em casa. Quem será?” E então percebeu que os sons dos passos se mesclavam com os sons da batidas de seu coração. Ao ver o dono, ou melhor, a dona dos passos se assustou.

Quando se diz que alguém se assusta não quer dizer, necessariamente, que ela seja feia, pois o que nos assusta não é a beleza em si, mas a diferença. Se o nosso Ex-futuro suicida era acostumado com a feiúra das mulheres que viviam ao seu redor então ao ver tão bela mulher, a Dona dos passos (como irei chamá-la, pois ainda não sei o seu nome), teve que se assustar. Ora, deve esta pensando o meu amigo leitor: “Como assim bela. Que tipo de beleza. Já que não sei em que época se passa este conto, como poderei conhecer os padrões de belezas?” E antes que esta pergunta venha à sua cabeça, torrando os miolos, digo que os tempos são atuais, e os padrões de belezas são os mesmo que estabelecidos. Era alta, magra, uma bela boca, peitos fartos, pele alva e cabelos louros e olhos azuis. Se Deus permitisse que o pecado ganhasse carne, este não conseguiria ter tamanha beleza.

- Olá - disse ela.

Silêncio...

-Por acaso, não sabe falar?

- Sim, sei! Mas diante de tamanha beleza qualquer homem perde a voz – disse o nosso amigo -Como se chama?

-Chamam-me de Morte! – disse ela. Sim! Foi exatamente o que ela disse com estas palavras, claro que não usou a primeira letra maiúscula, pois quando se fala ninguém ouve a diferença entre as letras maiúsculas e minúsculas, pois mesmo se ela falasse: “Chamo-me de morte.”, soaria o mesmo som no ouvido do receptor, por que esta regra de iniciar nomes próprios com letras maiúsculas é apenas percebida quando se escreve a palavra.

Enquanto filosofávamos o nosso protagonista ficava pálido, é claro! Qualquer um fica assim diante da morte, principalmente, ele que trocou a morte pela vida (ou seria sobrevida?).

- Você deve esta se perguntando: “Mas a Morte devia ser horrível?”-falou a Morte depois de algum tempo. - Mas na verdade, sou mais feia do que pode imaginar. O que acontece é ainda se encanta com a beleza da Morte. Ver em mim a fuga, por isso que me ver tão bela.

-Mas, mas - começou gaguejando o nosso amigo – há pouco tempo, antes de você entrar por aquela porta e dizer que é a morte, eu havia repudiado a ideia do suicídio.

-Porém, existe ainda dentro de você existe uma dúvida que lhe pergunta: “Tem certeza que é isso que deseja? Prefere escolher a cega sobrevivência à certeza da morte?” Você está incerto, pois o que existe de incerto é a vida (ou sobrevida) e a única certeza é a morte. Nasceu, terá que morrer.

-Não é essa a dúvida que paira sobre minha cabeça. A única dúvida que tenho é a de todos que aceitam a vida, ou,se quiser, pode chamá-la de sobrevida, que chame! Se que existe incerteza nos caminho, mas foi assim que escolhi. E então vá embora e volte somente quando for útil! -Falava olhando para a janela, pois tinha medo dos olhos da Morte, que de tão belos pareciam perigosos, mas depois olhou para o rosto do que antes era belo, mas agora tinha ela a verdadeira beleza que ela carregava consigo, ou seja, beleza nenhuma.

Uma velha (não que por se velha significa ser feia, pois existem muitas velhas bonitas) que parecia que vivera uma eternidade, mas na verdade ela teve começo e foi quando começou a vida, ou será que foi a vida que começou depois da morte? Mas isso é uma pergunta que muito se assemelha a do ovo e da galinha, porém esta é uma pergunta que já alguns se atrevem a responder. Como é curiosa a raça humana, enquanto uns tentam descobrir o que houve antes, outros o que haverá amanhã e o presente se afunda na lama do esquecimento. O nosso amigo rapidamente se levantou e, se a Morte não tivesse entre ele e a porta, ele já teria corrido.

-Assustado?-Perguntou a Morte-Acha que estou tão feia assim?

-Não, imagina! Esta bela, muito bem conservada. -mentiu.

-Pode enganar a Vida, ou a Sobrevida, mas nunca enganará a Morte. -falando isso tirou de um bolso uma linha e do outro uma tesoura. Esta não é uma tesoura qualquer, mas é a Tesoura que havia pertencido à parteira que cortou o cordão umbilical que unia Eva e o primogênito, para alguns pode passar despercebida esta idéia que eu queria transmitir e, por isso, deixarei claro: todo cristão (ou judeu) sabe que Deus criou Adão e Eva e, por culpa da curiosidade feminina, foram expulsos do Jardim do Éden. Então se Eva esperava o primeiro primogênito de Adão como poderia existir uma parteira? Bem, a ideia foi passada, intérprete-a como desejar. A morte também tinha em mãos o fio da Vida de nosso amigo e o rompimento deste fio resultaria na morte dele. Mas volto a esmiúça as ideia e por isso peço que vocês notem como é irônica a Morte, pois ela aprendeu com a Vida que é demasiadamente irônica, para não dizer sarcástica; a Morte usou sempre a Tesoura para cortar o fio da Vida, a Tesoura usada para cortar o cordão umbilical (fio que o seu rompimento simboliza a chegada a esta vida) do primeiro homem a nascer pelo ventre,ora, qual seria a melhor arma a ser usada para retirar uma pessoa desta vida senão a que o trouxe a mesma? Pelo jeito a Morte e eu temos muito em comum.

-O que pensa que vai fazer?-perguntou a nova futura vitima da Morte, tornando-se pálido.

-Fazer o meu trabalho. Não é para isso que eu sou útil?- Responde a Morte. E falando isso colocou o fio entre as lâminas da Tesoura

-Não!- Pediu o pobre infeliz.

-Desculpe-me não posso fazer nada, são as regras.

-E não pode ir contra as leis?

-Não, não posso. A Lei que me obriga a fazer isso não é igual à lei dos homens que esta escrita em papéis, a Lei esta escrita na minha alma(se de fato eu tiver uma!). O que faço é apenas seguir uma força que me obriga, como uma abelha que ataca qualquer coisa que pode ser perigoso para a sua rainha, mesmo sabendo que depois estará condenada a morte. Porém eu, diferente de vocês, não tenho direito a morte, nem sequer a vida, sobrando assim só a culpa que é a pior que a vida e a morte.

-E quem escreveu a Lei? Quem poderei culpar?

-Acha que se eu soubesse não estaria eu culpando esta pessoa? Mas, em verdade lhe digo, que a culpa, em maior parte, é sua, pois ao escolher a vida também escolheu a morte. Mas deixemos de conversa, pois esta na sua hora.

Tentou a vitima da Morte impedir sua própria morte, mas foi debalde, pois a Morte cortou o fio da vida e ele morreu.

A morte saiu triste, muito triste:

-Seria um ótimo amigo. -disse a Morte ao sair.

E foi, minha amiga Morte, e foi. Durante muito tempo a Morte ficou desolada com tamanha perda, mas ela se recuperou. É a vida, né!"

Pequeno Escritor
Enviado por Pequeno Escritor em 06/05/2007
Reeditado em 20/03/2010
Código do texto: T476869
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