Serão de colaboradores de António de Oliveira Bernardes?

Agora que deixámos pairar no ar a ideia da provável existência de molduras e de silhares, pergunta-se se haverá, a exemplo do que sucede com os painéis centrais, algum padrão para molduras e silhares? Parece que sim. Os motivos das molduras, normalmente de duas ou três fiadas, repetem-se tal como os motivos que envolvem os medalhões (cartelas) dos silhares.

Além desta pergunta, outra impõe-se: quem os teria pintado? Para esta última pergunta, antecipa-se uma resposta: podem ser atribuíveis a colaboradores de António de Oliveira Bernardes. Os mestres, normalmente, não se ocupavam das molduras e dos silhares. Quanto muito, retocavam algo que não fosse do seu agrado ou pintavam alguma figura ou cena mais relevante dos medalhões dos silhares. Deixavam a restante tarefa aos aprendizes ou a mestres subalternos.

Fomos procurar ver em outros locais se encontrávamos correspondência aos nossos fragmentos. José Meco atribui os painéis centrais das igrejas de Nossa Senhora da Saúde, no Martim Moniz, na cidade de Lisboa e da Nazaré, em Cascais, a António de Oliveira Bernardes. Ainda segundo o mesmo investigador, as molduras e silhares (?), serão de um colaborador do mestre. Usando as suas palavras: ‘Que usou muitas vezes o modelo. Tem um carácter de um produto em série.’

Foi para lá que fomos em 2000. À igreja da Saúde, a 9 de Outubro e à da Nazaré, a 17 de Outubro. Começo por Nossa Senhora da Saúde: as molduras são de três fiadas. O padrão repete-se do seguinte modo: querubins ou putti ladeando medalhões (cartelas), seguidos por águias segurando grinaldas com flores e frutos no bico.

Na igreja da Nazaré as molduras também são de barra tripla. E, apesar das diferenças, a sequência mantém-se: querubins ou putti ladeando medalhões (cartelas), seguidos por águias segurando grinaldas com flores e frutos no bico.

Com um pormenor: os medalhões (cartelas) são rematados, em cima, por um querubim (putto), em baixo, por uma concha (vieira). Outro pormenor que os aproxima aos nossos fragmentos: volutas estilizadas de modo geométrico nos lados dos medalhões (cartelas). Os medalhões contêm símbolos ou resumos de biografias.

Tal como os nossos? Mas existem diferenças: a águia do fragmento do mosteiro de Jesus é mais trabalhada e segura uma grinalda no bico. A de Nossa Senhora da Nazaré segura folhas. Ou a barra tripla do mosteiro de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada, cujo painel é assinado por António de Oliveira Bernardes.

Estas diferenças de pormenores, não parecem contradizer, pelo menos, no essencial, a atribuível autoria e a provável gramática discursiva dos nossos fragmentos de silhares e de molduras.

Dito o que foi dito, pode dizer-se que, muito provavelmente, a sequência dos nossos silhares se aproximaria da das duas igrejas acima referidas. E o que contariam os nossos prováveis medalhões dos silhares? Se os medalhões, como vimos nestas duas igrejas e em muitas mais, tratam de aspectos da biografia ou de símbolos dos biografados, é possível que os do Mosteiro de Jesus tratassem da litania mariana e da biografia mariana e jesuína. A exemplo dos fragmentos que estudamos para a igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela? Talvez. E as molduras? Seriam duplas, próximas das da igreja Matriz da Estrela? Talvez. Ou duplas mas seguindo a sequência (ou outra aproximada) da do mosteiro da Esperança? Talvez ainda.

No próximo perfil iremos tentar ver ainda se haveria algum mestre de obra responsável pelas obras do Mosteiro de Jesus. Se haverá dados de arquivo sobre obras. Ou dados da Alfândega. Tentaremos, finalmente, adiantar hipóteses acerca dos locais onde poderiam ter estado colocados. E faremos uma ligeira conclusão.

Mário Moura

10 de Abril de 2014

Mário Moura
Enviado por Mário Moura em 10/04/2014
Reeditado em 10/04/2014
Código do texto: T4764050
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