E molduras e silhares?

Vimos que os sessenta e tantos fragmentos de azulejo azul e branco recolhidos nas terras e arredores do Mosteiro do Santo Nome de Jesus da Ribeira Grande, seriam, provavelmente, daquele Mosteiro. Provavelmente, teriam feito parte de um conjunto azulejar de doze painéis. E que, estes doze painéis, tal como vemos no Mosteiro de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada, provavelmente, contariam doze episódios da vida de Maria e de Jesus. Que, também, provavelmente, seriam do pintor (de azulejos e a óleo) António de Oliveira Bernardes. E, que, ainda, provavelmente, seriam provenientes da cidade de Lisboa.

Depois de nos termos dedicado aos painéis, resta-nos saber se os nossos prováveis doze painéis seriam acompanhados por molduras e silhares. Caso se confirme a sua existência, que tipo de molduras e de silhares? Não havendo ainda vocabulário normalizado, universalmente aceite, para os azulejos, entenda-se como moldura, a barra que emoldura painéis e silhares e silhar ou alizar a decoração de azulejos que reveste a parte inferior das paredes, não ultrapassando a metade da altura.

Os fragmentos de molduras dos painéis e dos (eventuais) silhares em estudo, apresentam vestígios que nos levam a admitir com algum grau de certeza que eram molduras rectilíneas. Portanto, molduras da primeira fase da produção azulejar conhecida pela dos Mestres.

Quanto à temática usada nas molduras e silhares, temos vestígios vegetais, animais e humanos. No primeiro caso: flores e frutos em grinaldas e folhas de acanto. O acanto, ou erva-gigante, é uma planta ornamental usada, de modo estilizado, como motivo decorativo.

No segundo caso, temos, o que parece ser, uma águia segurando no bico um fragmento de uma grinalda de flores, uma mão sobre uma folha de acanto e um rosto de criança. Quer o rosto de criança quer a mão, provavelmente, pertenceram a um putto (menino nu, quase sempre do sexo masculino, representado muitas vezes com asas).

Ao que parece, as nossas molduras seriam de duas fiadas. Como prova do que se afirma, dois fragmentos de azulejos com marcas: um com a letra H e outro com a letra J. Relembre-se que não havia o I. Tal como se verifica na igreja de São José, em Ponta Delgada ou na igreja de Nossa Senhora da Estrela, na Ribeira Grande. Os últimos, retirados há muito e hoje expostos parcialmente no Museu Municipal.

Os nossos silhares teriam, provavelmente, quatro ou mais fiadas. A dimensão do bico da águia e a projecção das grinaldas, por exemplo, fazem-nos admitir a possibilidade da existência de um silhar com este número de fiadas. Com prováveis medalhões (cartelas). Repare-se nos fragmentos de acanto geométricos. Como se vê no da igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela (duas fiadas) e nos silhares da mesma igreja (quatro).

Em suma, o nosso conjunto azulejar, mais coisa menos coisa, apresentaria uma sequência aproximada à da igreja de São José, em Ponta Delgada, outrora igreja franciscana de Nossa Senhora da Conceição. Ou à da igreja Matriz de Nossa Senhora da Estrela, da Ribeira Grande: silhar, moldura, painel, moldura. Apesar de ambas não serem de António de Oliveira Bernardes.

Para o Perfil 23 B, reserva-se a procura de semelhanças com outras igrejas, algumas do continente. Veremos se, eventualmente, poderão ser atribuíveis a colaboradores de António de Oliveira Bernardes.

Mário Moura

10 de Abril de 2014

Mário Moura
Enviado por Mário Moura em 10/04/2014
Reeditado em 10/04/2014
Código do texto: T4764045
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